Texto: Assessoria do Centro Cultural UFMG
O Centro Cultural UFMG promove a abertura da exposição Embaraço, da artista Sabrina Damas, no dia 21 de março, às 19h. A mostra tem a curadoria do professor Fabrício Fernandino e poderá ser vista até o dia 23 de abril. A entrada é gratuita e integra o projeto Escultura no Centro, que destaca os trabalhos tridimensionais desenvolvidos por alunos do curso de Artes Visuais com habilitação em Escultura da Escola de Belas Artes da UFMG. A classificação é livre.
Embaraço, por Sabrina Damas
“O ato de criar e manusear o barro sensibiliza e invoca em mim memórias afetivas que afloram intuitivamente”. São sentimentos profundos que, deslizantes por entre meus dedos, conformam o objeto arte. São percepções que antes foram moldadas no íntimo da alma. Por meio da materialidade do barro consigo expressar o que verdadeiramente me importa: o que sou e o que sinto. Ao revelar essa intimidade, pelos meus gestos exponho minha identidade, minha ancestralidade e minha essência.
Ser ventre, gestar de forma plena uma nova vida, me transformou profundamente de uma maneira muito feliz. Com a mesma intensidade, uma perda espontânea que tive revelou uma dor aguda, indescritível e marcante. A maternidade trouxe respostas às delicadas questões artísticas e subjetivas que insistiam estarem presentes em minha consciência. Entendimentos que só pude compreender após me tornar mãe. A maternidade me completa.
Com a arte compreendi que eu sou meu próprio casulo. Esta é uma forma recorrente em meu trabalho, porque sou ventre, sou casa, sou ninho, aconchego, proteção, alimento e afeto.
As obras que apresento no Centro Cultural UFMG foram resultantes de reproduções realizadas a partir de um molde há anos guardado. Esse molde foi feito da minha barriga grávida com nove meses de gestação. Era a filha nascente, primeira filha, hoje com 14 anos.
Nestas obras tento invocar subjetivamente o que representa a emoção de gerir uma vida. Nelas, entre as marcas de dedos e gestos, registro um turbilhão de sentimentos fortemente ancorados em minha essência maternal. São processos intensos que continuam com o viver ou que, por casualidade foram interrompidos, podem vir a não se revelar em sua plenitude.
Com minha arte descobri que na vida tudo é um ciclo, tudo é mutação. O fim pode ser o começo, uma nova consciência, outra vida. Do vir a ser mãe ou de quem vem ao mundo por meio dela.
Assim também é o processo da arte cerâmica. É cíclico, constituído pelos elementos universais. É fogo, água, terra e ar. Tudo é chama que arde e transmuta, é a fragilidade da matéria úmida que se torna resistente pelo movimento do ar sob a ação do calor. Essa arte do barro ensina sobre desapego, sobre o inesperado, sobre a surpresa de uma obra que pode se romper e, a qualquer momento, voltar a sua essência, ser pó. Desta forma, o ciclo se completa e renova. Do pó ao barro, do barro a forma, da forma ao pó.”
A artista
Sabrina Damas é mãe de duas, ceramista, artista pesquisadora e arte-educadora. Atua, principalmente, na área da criação tridimensional, tecelagem, trançado, pintura, desenho, poéticas visuais e tecnologia dos materiais. É mestranda em Artes Visuais pela Escola de Belas Artes da UFMG e arte-educadora do Centro Cultural Venda Nova, da Fundação Municipal de Cultura (FMC-PBH), onde ministra diversos cursos e oficinas.
Escultura no Centro
O projeto busca valorizar e expor os trabalhos tridimensionais desenvolvidos pelos graduandos e pós-graduandos do curso de Artes Visuais com habilitação em Escultura da Escola de Belas Artes da UFMG.