Fendas finas, nervuras esfoladas, sutis buracos no solo. Profundezas bocejando seus silêncios. Sob a terra, a abertura do mundo aflora.
Estrias venosas arranhando a areia submersa. Corpos vegetais imponderáveis. Eflorescência espumosa. Troncos seculares cortados, reunidos em um monte lunar. Um mundo pulsa.
Céus cintilantes. Auroras marinhas.
Figura pétrea gravada num muro citadino. Bloco de granito erguido na encosta.
Animais à espreita. Humanos vigilantes. Potência vibrátil dos corpos.
Tempo suspenso das origens, recolhimento profundo.
A terra exala seu som trêmulo. Alerta abafado.
Escavar as entranhas da terra, extrair do caos a força do viver.
Tornar-se um com os corpos. Poderes conectados dos seres vivos.
Trabalhar nossas interdependências e construir o mundo de amanhã.
Esta exposição é uma das ações resultantes do projeto de internacionalização entre as universidades de Paris 13 e UFMG com a participação dos pesquisadores Rosvita Kolb Bernades, Ana Cristina C. Pereira, Maria Amália de A. Cunha e Claudia Starling e seus respectivos laboratórios de pesquisa: Casa Aberta Mesa Posta: Arte, Infâncias e Narrativas de Si /EBA, GESTOLab /EBA e o Lapensi (FaE).
CHRISTINE DELORY-MOMBERGER é professora de ciências da educação e formação na Sorbonne Paris Nord Université e professora associada da UNEB. Ela é antropóloga da vida (anthropologue du vivant) e autora fotógrafa. Em seu trabalho combina pesquisa e fotografia e seus projetos fazem parte das novas escritas da fotografia documental.
Sua entrada na fotografia foi fortuita, gerada por uma busca existencial por sua ascendência. Numa noite de outono, ela encontra uma pequena fotografia de família com bordas entalhadas que começa a fotografar para tentar desvendar seu mistério. Começa então de uma forma mais abrangente, apoiando-se na sua biografia familiar intergeracional de exílio e num gesto de escavação fotográfica, a explorar as formas identitárias que as figuras de si construíram na sua relação com o íntimo, a memória, a história pessoal e coletiva. Misturando imagens e textos de estilo poético e literário, cria um espaço híbrido de criação no qual realiza uma “investigação interior” que lhe permite levantar o véu sobre as dobras da história e construir-se num imaginário da imagem.
Seu interesse pela história coletiva leva-a a lugares onde ocorreu a desumanidade irrepresentável e que deixaram uma marca duradoura na Europa.
Ela agora se volta para uma fotografia da vida (photographie du vivant) em formas de atenção sensível que explora com acuidade, na consciência de que estar neste mundo é compartilhar com os vivos e os não-vivos, os humanos e os não-vivos uma comunidade de destino e uma vulnerabilidade mútua.
Expõe regularmente e é autora de vários livros de fotografia, bem como de monografias, ensaios e livros de entrevistas com fotógrafos que podem ser encontrados em seu site de fotógrafa.
Ela é representada pela agência Révélateur.