Texto: Divulgação
A Mostra Residências artísticas reúne produções dos grupos Bruxas de Blergh e escotoma, e do artista Eduardo Hargreaves, contemplados pelas Chamadas Públicas 2019, no âmbito do projeto Atelier Aberto do Centro Cultural UFMG.
Ao longo de 2019 os artistas em residência ocuparam as salas do Centro Cultural UFMG para desenvolvimento de suas pesquisas e proposições artísticas, ativadas por práticas em regime de atelier, encontros para discussão de textos, compartilhamentos de processos criativos e realização de conversas abertas ao público. A mostra configura um possível fechamento deste período de residências artísticas, ao reunir as diferentes produções dos grupos e artistas na Grande Galeria do Centro Cultural UFMG.
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Bruxas de Blergh
Bárbara Ahouagi, Clara Albinati, Dyana dos Santos, Juliana Mafra, Leila Medeiros, Leíner Hoki, Melissa Rocha.
As Bruxas de Blergh são um coletivo feminista de artistas e pesquisadoras lésbicas e bissexuais que se reuniram em Belo Horizonte, pela primeira vez em setembro de 2017. O objetivo era de encarnar, após o golpe contra a presidenta Dilma Rousseff, em 2016, a figura da feminista velha, bruxa, toda horrorosa. Em uma atmosfera trash, punk e com ares de sociedade secreta e seita satânica (que costuram e queimam bonecos enfeitiçados de seus inimigos), as Bruxas se identificam por nomes de animais e nunca definem quem são as membras do grupo. Murssega, Kalanga, Aranha, Preguiça, Rinoceronta, Cigarrrra, Vaca, Serpente, Coala, Golfinha, Leoa, são algumas das personagens que aparecem assinando suas obras e figurando nas zines que publicam de forma independente.
O início do mandato de Jair Bolsonaro coincidiu com o programa de residência das Bruxas de Blergh no Centro Cultural UFMG. As artistas, compreendendo o terrorismo moral e retrógrado de uma conjuntura política que ataca os direitos das mulheres, dos povos indígenas, dos pobres e da população negra no Brasil, as universidades e escolas, as/os estudantes e professoras e professores, as Bruxas optaram por uma abordagem camuflada (não mais Bruxas de Blergh mas Senhouras de Blergh). Suas obras misturam imagens originais de revistas dos anos 50, panos de prato, costuras em geral, manuais de boas maneiras, entre outras coisas, nas quais as artistas inserem nelas suas cabeças de animais e anunciam seu conteúdo nocivo.
Após Michel Temer, o vice de Dilma, assumir o poder em meio ao golpe, a revista Veja publicou, em abril de 2016, uma matéria com a nova primeira-dama: Marcela Temer: bela, recatada e “do lar”. Em comparação à Dilma, que foi simbolicamente estuprada em memes e adesivos de carro, que foi alvo de chacota por sua aparência e seus modos, a figura de Marcela, com sua juventude, beleza, recato e domesticidade prefigurava a força com que a pauta da moral e dos costumes voltaria com a eleição de Jair Bolsonaro, em 2018. A intenção das Bruxas, nesse sentido, é a de virar um exemplo de compostura e recato, o modelo ideal da dama brasileira para 2020 e os anos vindouros.
Como escreveu Donna Haraway, em seu célebre Manifesto Ciborgue:”A blasfêmia sempre exigiu levar as coisas a sério”.
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Eduardo Hargreaves
Nascido em 1994, em Juiz de Fora, vive e trabalha em Belo Horizonte/MG.
Graduado em artes visuais pela Escola de Belas Artes da UFMG (2017), participa de diversas exposições coletivas desde 2014. Premiado no programa “Mostras BDMG” em 2018, segue para realizar suas três primeiras exposições individuais.
Em sua pesquisa, Hargreaves busca levantar questões em torno das noções geográficas e históricas, da memória e dos lugares. Sobre a formação e modificação das histórias e dos territórios, seu trabalho se volta para os processos de elaboração e ressignificação de lugares e memórias perdidos ou destruídos através do tempo.
Para a “Mostra Residências Artísticas – Atelier Aberto / 2019”, o artista propõe, a partir da atuação conjunta em atelier com o grupo escotoma, apresentar trabalhos e processos que se misturam com as dinâmicas e questões presentes nas trocas e conversas estabelecidas ao longo do ano de residência artística no Centro Cultural UFMG.
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escotoma – grupo de estudos das imagens-passagens
Bruno Rios, Clarice G. Lacerda, Eduardo Hargreaves, Izabel Stewart, Lourenço Martins Marques, Matheus Ferreira, Natália Rezende, Rodrigo Borges.
Escotoma (do grego, escuridão) é o ponto cego do visível, mancha escura, lugar da falta, do incompreensível, daquilo que escapa. Região para onde se aponta, mas que nunca se alcança, um escotoma está sempre à margem do campo visual a tensionar suas fronteiras. O grupo de estudos das imagens-passagens foi criado em 2018 na Escola de Belas Artes / UFMG, ao reunir artistas-pesquisadores dedicados à investigação de imagens e imaginários sobre aquilo que mostra-se sempre incerto e movente. Coordenado por Rodrigo Borges e Clarice G. Lacerda, o escotoma conta com a participação de Bruno Rios, Eduardo Hargreaves, Izabel Stewart, Lourenço Martins Marques, Maira Públio, Matheus Ferreira e Natália Rezende.
Durante o ano de 2019, no contexto da projeto de residência artística – atelier aberto, o grupo ocupou o espaço do ateliê – sala 7 do Centro Cultural UFMG. Foram realizados encontros semanais dedicados a discussões de textos, bem como a compartilhamentos de processos criativos. As leituras foram orientadas pelo “Atlas do Corpo e da Imaginação – teoria, fragmentos e imagens” de Gonçalo M. Tavares, e por outros tantos cruzamentos de referências e saberes.
Primeiro experimento expositivo do escotoma, a mostra é um exercício livre de ocupação e partilha, que conforma um fechamento possível deste primeiro ano de atividades junto ao Centro Cultural UFMG. A escolha por um eixo curatorial fragmentado, que assume lacunas e circunstâncias, possibilita que os trabalhos se relacionem por laços mais ou menos discretos. As singularidades das pesquisas guardam sua autonomia, ao passo que são também convidadas a ativar contaminações sutis entre as produções e seus processos.
Abertura: 19 fevereiro 2020, quarta-feira, 19h.
Visitação: 20 fevereiro a 8 de março 2020
terças a sextas, 10h – 21h / sábados e domingos, 10h – 18h
Grande Galeria – Centro Cultural UFMG
entrada gratuita