Octávio Araújo – Alquimia & Gravura

A cAcA – Obras Sobre Papel convida para a abertura da exposição dia 28 de junho às 20 horas

Octávio Araújo

Alquimia & Gravura

curadoria de Maria do Céu

Local: Avenida Brasil, 75 – Santa Efigênia – BH/MG

Octávio Araújo

A mística de Octávio Araújo

O que vemos nas gravuras de Octávio Araújo? Uma justaposição de objetos, figuras e locais, perspectivas invertidas e acúmulos de sentidos. São alegorias quando assumem um sistema retórico de superação da linguagem, ressignificando uma ideia abstrata através da convivência entre as formas. São alegóricas as figuras quando seus atributos fundem sentidos, por proximidade ou por sugestão. Mulheres com vestes ventiladas, cujos corpos são atravessados por ramos de árvores, adornadas por pérolas, situadas em paisagens mediterrâneas, braços cobertos por corais e moedas antigas. São deusas do paganismo ou da mitologia egípcia, etrusca e grega. Estas mulheres alegóricas são igualmente memórias da civilização, quando os deuses e a humanidade conviviam e digladiavam pelas chaves do conhecimento.

Ao mesmo tempo, são emblemáticas. Formam, em seu conjunto pequenos teatros da memória, uma espécie de espiritualidade visualizada. Como emblemas, revelam suas três partes: um motto, ou sentido, uma imago, que o representa e um explicatio, ou pequena frase ou verso, que dialoga e dá sentido à imagem. Os emblemas têm sua força no renascimento, mas seguem desdobrados além do sentido moral: são abundantes as Emblemata Amatoria (a saga de um coração enamorado), Emblemata Alciati (cartas advinhatórias ornadas com diálogos complexos), além de outros pequenos e belos teatros de pedagogia visual.

Porém, são também presentes nos trabalhos de Octávio Araújo as transformações alquímicas:  Deméter deixa-se cobrir de rochas e seu corpo fecunda a terra e sustenta a civilização; ânforas de longo colo exibem líquidos coloridos; o ar, na forma de vento, arrasta nuvens e cortinas, trazendo a eletricidade dos raios e do curso das águas; o fogo, por sua vez, petrifica a pele das mulheres, dando-lhes a textura ígnea das pedras sagradas; Hipnos vela a noite e o sono faz o transporte para o mundo dos sonhos, do entendimento e da completude de nossa curta existência. Nos sonhos, tudo se subverte: a gravidade, a escala, o tempo, o espaço, os lugares…são imagens e ideias independentes, que devem conviver e atravessar os sentidos. São formulações e conjurações mágicas, que devem ser recitadas e observadas à meia luz. Octávio Araújo, em sua generosidade, deixa-nos vislumbrar, através da quarta parede de suas gravuras, um átimo destes lugares da memória, onde somos convidados a habitar enquanto durar o tempo da contemplação.

 
Maria do Céu Diel de Oliveira
Professora Associada II
Departamento de Desenho
EBA-UFMG, Belo Horizonte
Brasil

http://lattes.cnpq.br/9839766708967300
http://www.ufmg.br/ieat/2011/09/maria-do-ceu/ 
http://dgp.cnpq.br/buscaoperacional/detalhegrupo.jsp?grupo=0333803FYHFZ6N
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