Texto: Ewerton Martins Ribeiro
Uma das 24 pessoas homenageadas com a Medalha de Honra, a desembargadora Mônica Jaqueline Sifuentes, do Tribunal Regional Federal da 6ª Região, comparou a trajetória dos alunos que se formam na UFMG com a “jornada do herói”, conceito estabelecido pelo escritor e mitólogo Joseph Campbell (1904-1987) no livro O herói de mil faces. “Tudo, no fim das contas, se resume ao monomito: cada um de nós aceitou o desafio de partir para esta jornada individual ou coletiva; enfrentamos osbstáculos, colhemos vitórias e derrotas, recebemos a ajuda dos amigos – visíveis e invisíveis – e, no final, voltamos para receber as honrarias”.
Outorgada a cada quatro anos, a Medalha de Honra é atribuída a ex-alunos que ofereceram contribuições particularmente relevantes à sociedade e à Universidade e se tornaram referências nas áreas em que atuam. A cerimônia de entrega das medalhas foi realizada na noite desta quinta-feira, 5, no auditório da Reitoria, no campus Pampulha, no âmbito das comemorações dos 97 anos da Universidade, a serem completados neste sábado, dia 7 de setembro.
Mônica Sifuentes, que até o mês passado presidiu o Tribunal Regional Federal da 6ª Região, fez a saudação pública em nome dos 24 agraciados pela honraria neste quadriênio. Em sua fala, Mônica fez então questão de frisar que, se a ‘jornada do herói’ encena toda uma série de dificuldades pelo caminho, esse caminho não se encerra no momento da consagração. “Voltamos para mostrar que vencemos, mas voltamos também porque temos outro desafio a cumprir. O verdadeiro herói só demonstra o seu valor se volta à sua terra não apenas para colher os louros da vitória, mas para demonstrar que continua pronto a servir e a ajudar aos demais”, disse a jurista, caracterizando esse retorno como algo ligado ao sagrado e à ideia de missão. “Feliz, portanto, daquele que ingressa na UFMG. Feliz daquele que consegue transpor os seus umbrais e daqui carregar não apenas um diploma, mas o sentimento do valor, do mérito e da honra que é estarmos consagrados ao objetivo maior: a busca da construção de um mundo melhor e mais justo para todos”, salientou.
“De fato, os ex-alunos e as ex-alunas que hoje homenageamos nos inspiram como modelos e exemplos de altivez e compromisso ético e cidadão com a sociedade brasileira e com nosso país”, acrescentou a reitora Sandra Regina Goulart Almeida, ao saudar os agraciados na mesa composta pelo vice-reitor, Alessandro Fernandes Moreira, os reitores Ronaldo Pena (gestão 2006-2010) e Ana Lúcia Gazzola (gestão 2002-2006) e a diretora de Relações Institucionais, Zélia Lobato, professora da Escola de Veterinária. Além da outorga das medalhas e da celebração dos 97 anos da UFMG, o evento estabeleceu a pedra fundamental das comemorações do centenário da UFMG, que será completado em 7 de setembro de 2027. “A UFMG caminha para o seu centenário comprometida com o projeto de um país mais equânime, democrático e justo e de um Estado e uma cidade que reconhece a importância do conhecimento e da ciência”, salientou Sandra.
UFMG: uma jovem a caminho dos cem anos
Motivada pelo aniversário de 97 anos da Universidade e pelo início dos preparativos para a festa do centenário, Sandra Goulart rememorou as origens da universidade brasileira em seu discurso. Ela destacou que, em comparação com outros países, a instituição é relativamente recente no Brasil: remonta apenas ao início do século 20, com seus germes no Paraná (1912), no Amazonas (1913) e no Rio de Janeiro (1920). Em Minas Gerais, especificamente, lembrou a reitora, o advento da universidade remonta à Conjuração Mineira, quando, em 1789, “os inconfidentes já acalentavam o sonho de fundar uma universidade”. Esse sonho ganhou materialidade em 7 de setembro de 1927, com a criação da UFMG, então UMG.
“Qualquer projeto de nação soberana está condicionado à existência de universidades fortes, autônomas e geradoras de conhecimento de ponta, e nossos inconfidentes, atentos às experiências do mundo à época, tinham clareza dessa necessidade”, demarcou a reitora. “O objetivo era promover a convergência e a justaposição de projetos simbióticos: o de um Brasil livre, de um estado que preza o conhecimento científico, de uma cidade acolhedora do saber e o de uma universidade autônoma”, destacou. Disso resultou a UFMG, “uma das melhores universidades do Brasil e da América Latina, comprometida com os ideais democráticos e republicanos.”
Sandra também chamou atenção para uma característica da UFMG que, no seu entendimento, “se traduz no ethos que a define e que se molda aos seus anseios originários por renovação e transformação”: o modo como a universidade alia grandeza e humildade, altivez e coerência. “Grandeza e humildade de reconhecer que somos necessários e relevantes e, ao mesmo tempo, partes de um todo. Grandeza e humildade da transcendência de um legado, que envolve milhares de pessoas que contribuíram para a construção do que hoje é a UFMG, como os nossos ex-alunos e ex-alunas homenageados. Por sua vez, altivez e coerência para colocar o interesse e o bem da Instituição acima de crenças e desejos individuais”, pontuou.
A reitora também falou sobre o que se projeta para o futuro da Universidade sob a perspectiva da completude dos seus 100 primeiros anos. “No futuro da UFMG, vislumbra-se a expansão da produção do conhecimento científico, tecnológico, artístico e cultural aqui produzido, a articulação com outros saberes e a contínua interação com a sociedade e com as cidades nas quais ela está firmemente inserida”, pontou. “De nossa parte, no momento em que as cidades se preparam para escolher seus novos gestores municipais e seus representantes, reforçamos o compromisso com uma cidade sustentável e capaz de promover a harmonia entre os interesses econômicos, o respeito à educação e à ciência, o cuidado com as pessoas e os animais, os anseios de sua população e a defesa dos valores éticos que moldaram a história desta Instituição em seus quase cem anos de vida”, finalizou.
Este catálogo traz a lista e uma resumida biografia profissional dos homenageados.