Texto: Sandra Regina Goulart Almeida – Reitora da UFMG – publicado no jornal O Tempo
Quando lançaram as bases da Conjuração Mineira, no fim do século XVIII, os inconfidentes acalentavam alguns sonhos: romper com Portugal e instaurar um regime republicano, acabar com o monopólio comercial português, livrar-se dos impostos escorchantes cobrados pela Coroa e fundar uma universidade em solo mineiro.
O último sonho ganhou materialidade em 7 de setembro de 1927, quando um grupo de intelectuais, comandado pelo professor Francisco Mendes Pimentel, criou a então Universidade de Minas Gerais (UMG) em Belo Horizonte, a nova capital do estado.
Em seu ato fundador, materializou, de forma tardia, o sonho daqueles mineiros visionários e estabeleceu um compromisso inarredável da nova universidade com seu estado e sua cidade. Qualquer projeto de nação soberana está condicionado à existência de universidades fortes, autônomas e geradoras de conhecimento de ponta, e nossos inconfidentes, atentos às experiências do mundo à época, tinham clareza dessa necessidade.
O objetivo era promover a convergência e a justaposição de projetos simbióticos: de um Brasil livre, de um estado que se guia pelo conhecimento científico, de uma cidade acolhedora do saber e de uma universidade autônoma.
Mendes Pimentel, nosso primeiro reitor, concebia a educação como um vetor de transformação social. Em seu discurso de abertura dos cursos da UMG, proferido em 2 de abril de 1928, ele indicaria os rumos que a Instituição seguiu à risca: “Uma universidade, para que mereça o nome, tem de ser um centro de propagação da cultura, pela formação de indivíduos aptos para atividade material e mental no ambiente nacional… Mais: deve ser uma instituição nacional e, até certo ponto, local, para refletir as características do povo que a mantém e para atender às necessidades peculiares do meio em que trabalha”.
Ao completar 97 anos neste 7 de setembro de 2024, data que marca o início das comemorações do seu centenário, a UFMG segue comprometida com o projeto de um país equânime, democrático e justo e com uma cidade que reconhece a importância do conhecimento e da ciência.
Hoje, celebramos não somente a história e a memória da Universidade, mas também o seu tempo presente, em que é reconhecida como uma das mais importantes instituições de ensino superior do país, que engrandece seu Estado, sua cidade e o povo mineiro.
Em relação ao futuro, a UFMG vislumbra a expansão da produção do conhecimento científico, tecnológico, artístico e cultural, a articulação com outros saberes e a contínua interação com a sociedade e com as cidades nas quais está firmemente inserida.
No momento em que os municípios se preparam para escolher seus novos prefeitos e representantes na Câmara dos Vereadores, reforçamos o compromisso com uma cidade sustentável e capaz de promover a harmonia entre os interesses econômicos, o respeito à educação e à ciência, o cuidado com as pessoas e os animais, os anseios de sua população e a defesa dos valores éticos que moldaram a história desta Instituição em seus quase cem anos de vida.
Sob a inspiração do seu lema fundador – “Incipit vita nova” (uma vida nova principia) –, a UFMG renova os compromissos firmados por seus pioneiros – e aqui incluímos os inconfidentes do século 18. Parafraseando a música, os inconfidentes e os fundadores, mesmo separados pelo tempo, sonharam um sonho juntos, e esse sonho virou realidade.