No sexto episódio do Podcast Leituras tivemos um bate-papo com Edson Kayapó, escritor premiado pela UNESCO, ativista no movimento indígena, ambientalista e doutor em Educação. Pertencente à etnia Mebêngôkre é autor dos livros “Projetos e presepadas de um Curumim na Amazônia”, “Um estranho espadarte na aldeia” e coautor da coletânea “Nós: uma antologia de literatura indígena”.
Nascido no coração da Floresta Amazônica, no Estado do Amapá, Edson se define como filho de pai Kayapó. Além disso, considera-se também filho da Universidade Federal de Minas Gerais, instituição na qual graduou em História. Atualmente é professor do Instituto Federal da Bahia e da Universidade Federal do Sul da Bahia, onde leciona para povos indígenas e não indígenas. Dono de um espírito “desassossegado”, como diria Fernando Pessoa, dorme pouco, pensa em bastante coisa e trabalha muito.
O ambientalista nos conta que teve uma infância muito tranquila na floresta, tomou banho no Rio Amazonas, caminhou pela mata e ouviu histórias em volta de fogueiras. Aos onze anos foi levado por missionários para estudar em um colégio interno em Altamira, no Pará, onde teve contato com o sistema de ensino cristão e muitas regras, totalmente diferente do aprendizado baseado na oralidade que experimentou na aldeia. Após a experiência do internato assumiu uma postura de missionário e viajou por diversas cidades de Minas Gerais pregando o evangelho. Em 1990, iniciou o curso de História em Belo Horizonte, se tornou ateu, se formou e retornou ao Amapá, onde reencontrou sua espiritualidade originária.
O escritor afirma que a literatura de autoria indígena dá visibilidade aos saberes, às formas de pensar, às epistemologias e às cosmologias dos povos originários, além de fortalecer o movimento. Ele enfatiza que os textos dos escritores indígenas são fruto de um modo de existir coletivo, pois o conhecimento é adquirido por meio dos anciãos e transmitido pelas gerações através da oralidade. Edson acredita que a junção dos saberes científicos com os saberes indígenas levará a uma potencialização da produção do conhecimento, permitindo repensar a trajetória humana no planeta, a crise socioambiental e a desigualdade social.
O professor reconhece que historicamente a escola brasileira não indígena traz conteúdos relacionados aos povos originários apenas como uma herança, ignorando suas existências na contemporaneidade. Dar ênfase a herança passa a ideia de que ficaram apenas alguns traços das tradições e culturas indígenas para a sociedade brasileira, diz. E completa, nós estamos presentes, as escolas brasileiras têm que lidar com esse movimento e essa realidade indígena. Edson afirma que com a “Educação Escolar Indígena Diferenciada, Intercultural, Bilíngue/Multilíngue e Comunitária” foram obtidos alguns avanços que levaram a valorização dos saberes tradicionais, o respeito aos modos de organização próprios e o resgate de línguas que estavam em processo de extinção.
O pesquisador relata que ao ter contato com a Teoria Decolonial, que surgiu na década de 60, percebeu que desde o século XVI os indígenas já a praticavam, pois não se sujeitavam ao modo de produção capitalista trazido pelo colonizador. A resistência fez com que fossem rotulados como preguiçosos, mentirosos, traiçoeiros e bárbaros. Neste sentido, Kayapó chama atenção para o risco de aprovação do Projeto de Lei 490/2007, que prevê alteração na demarcação das terras indígenas, o Marco Temporal. É muito grave, já que os povos indígenas são os que realmente garantem a preservação das florestas, ecossistemas e biomas, declara.
Edson Kayapó nasceu no estado do Amapá e é pertencente ao povo Kayapó. É Doutor pelo Programa Educação: História, Política, Sociedade da PUC-SP e mestre em História Social pela mesma instituição. Graduado em História pela UFMG, com Especialização em História e Historiografia da Amazônia pela Universidade Federal do Amapá. Pesquisador das questões amazônicas e indígenas, escritor premiado pela UNESCO e pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil. Professor efetivo do Instituto Federal da Bahia, atuando na docência em licenciaturas, cursos técnicos e Pós-Graduação Lato Sensu, além de orientar TCCs e monografias. Exerce, ainda, as funções de docente e orientador de pesquisas de mestrado no Programa de Pós-Graduação em Ensino e Relações Étnico-Raciais na Universidade Federal do Sul da Bahia.
Ouça o podcast na íntegra e saiba um pouco mais sobre a trajetória do escritor indígena: https://spoti.fi/3tvRXP2
Conheça o trabalho de Edson Kayapó em: www.instagram.com/edsonkayapobepkro/
Disponibilizamos para leitura a publicação “Culturas indígenas, diversidade e educação”, da qual Edson Kayapó é autor do capítulo “A diversidade sociocultural dos povos indígenas no Brasil: o que a escola tem a ver com isso?”: https://bit.ly/38WEXrY
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