Falar em vizinhanças é pensar em um sentimento de comunidade – como é a Escola de Belas Artes da UFMG – na qual as relações abarcam proximidade, familiaridade, mas também diferença. Isso se traduz no título – Entrevizinhanças –, um jogo de palavras com o estar perto e o convite a entrar, assim como nos diversos laços estabelecidos por alguns trabalhos entre si. Estes laços são perceptíveis em Alice Barcelos, Iwens Mulellos e Josimar Fortunato que, partindo de uma linguagem comum (a pintura), exploram temas diferentes, como a paisagem industrial, a paisagem urbana e a dualidade do indivíduo. O corpo é alvo de diferentes respostas: em Jhefferson Lacerda, ele traz uma carga moral e mitológica; Sonia Burgareli cria esculturas vestidas pelo corpo; para Heitor Fernandes ele se atrela a relações afetivas, traduzidas nas sutilezas de velaturas; mas por ele também se problematiza a construção de normatividades e estereótipos, como aponta Marcela Paim, trazendo dois modos diferentes de apontar para a invisibilidade e desaparição. O trabalho dela, aliás, traz o caráter político também colocado por Matheus Silva, Júlia Santana e Clara Bicalho, discutido a partir da cena social do presente, do espaço urbano e da metáfora da produtividade dentro do capitalismo. A questão gráfica, linguagem desses trabalhos, é o meio escolhido por Alice Massago, em séries nas quais o lirismo onírico é atravessado pela melancolia. Assentados em extremos – o elogio da manualidade e sua sobreposição ao virtual – são questões notadas, respectivamente, nos objetos de Lucianita Morais e Eduardo Zica. O lar, cuja negação ao seu direito é tensionada por Júlia Santana, surge no trabalho de Amanda Paim como uma questão de representação e memória interligadas, que encontrará nas montagens de Victoria Sofia um sentido narrativo, desdobrado em seu livro de artista.
Essa exposição, reunindo as obras da turma de formandes de 2021-2 é um importante marco: conclui uma trajetória que enfrentou desafios nos últimos dois anos, nos quais viver a vizinhança foi muitas vezes uma impossibilidade; mas também é o registro de conquistas, descobertas e percursos desejosos de novos futuros. [Texto do Prof. Guilherme Bueno, membro da equipe da Labirinto Galeria Virtual]