-Como o cotidiano influencia no seu trabalho?
O cotidiano influencia no meu trabalho pelo ato de sair, de olhar para fora, olhar para as casas, para as construções, ver o que está sendo dito nesses muros, nesses resquícios de habitações, ver o que está sendo dito pelas tintas que ocupam esses espaços, todas essas manifestações visuais de linguagem que se apoderam, incorporam um pouco nesses espaços físicos e isso influencia-me no trabalho dessa forma, de sair e olhar e ver o que essas construções têm para me dizer, assim, até mesmo as coisas que eu não entendo, mas que são ditas.
-Para você, quais são as questões mais importantes para a arte no momento atual? De que maneira você acredita que o seu trabalho responde a elas?
Nossa papel da arte, que resposta em essa pergunta. Olha, eu vejo a arte como uma possibilidade de apresentar novas linguagens e apresentar novas formas de compartilhar conhecimento. Assim, um conhecimento que cada um absorve de um jeito, de cada um, um universo. Então, na arte a gente tem essa liberdade de poder estar falando coisas de forma… em outras inteligências, em outras linguagens, como na ciência, na física, na literatura. A gente pode estar falando dos mesmos assuntos, só que de formas muito diferentes e é uma liberdade muito grande e muito pessoal também, de uma escolha de cada artista. E eu vejo a arte como isso, como uma possibilidade de… é uma plataforma para você conseguir falar aquilo que você quer, aquilo que te atravessa, que te atinge de uma forma não convencional, de uma forma… ou convencional também, se você quiser, mas sempre tendo aquele viés artístico de estar ali desruptando alguma coisa, de estar mexendo em algumas engrenagens que deslocam o funcionamento real da coisa e deslocam o olhar também das pessoas, possibilitando novas direções, novas caixinhas de pensamento, novas perguntas, novas dúvidas.
-Qual contexto é importante saber para compreender seu trabalho? (Pensando no que o artista acha importante compartilhar do processo ou vida, para amarrar no trabalho)
Eu acho que é importante vocês saberem de mim que eu sempre fui apaixonado por arte urbana, arte da cidade, desde o grafite, dos lambes lambes, os adesivos dos artistas, muitas vezes do rap, do hip-hop, que produzem suas próprias tags, produzem seus próprios adesivos, assim. Isso tudo sempre me influenciou. A pichação também é uma manifestação, não considero artística, mas uma manifestação humana de linguagem que influencia fortemente também e todas essas expressões me fizeram muito questionar o meu papel na cidade e também os atravessamentos que a cidade tem sobre a gente, sabe? E pensando nisso, pensando em como eu emergi, pesquisando um pouco essas manifestações, meio que se dá ao meu trabalho, meio que me dá uma ideia de quais suportes eu posso utilizar. De quais formas eu posso utilizar tanto as fotos que eu tiro das tipografias populares, as tipografias urbanas, como também dos próprios desenhos que eu faço, muito com gesto rápido, um gesto um pouco mais agressivo, que também é muito influenciado pela cidade, pela velocidade dos centros, pela cidade, dos comércios, por essa urgência de vida em certos lugares que acabam aparecendo no viver, assim, num… é isso.
-O que te inspira a produzir? (Referências artísticas, música, etc)
O que me inspira a produzir é… acho que um pouco de esperança, assim, de conseguir ver coisas novas, mesmo sendo alimentado por coisas que já existem sempre. Eu acho que talvez exista, assim, uma possibilidade de sempre criar algo que eu nunca vi. Aí quando eu digo eu, eu digo eu mesmo, assim, criar coisas que eu ainda não vi que possam ser possíveis, isso me move a imaginação de ver a minha realidade transformada, isso me move muito. A música que está sempre presente na minha vida, a música como expressão de alegria mas também expressão de devaneios poéticos e conseguir talvez reproduzir o que eu sinto imparável. Palavras e depois codificar essas palavras para que seja difícil da pessoa entender, mas que às vezes eu ainda quero que ela entenda, isso tudo me influencia muito.