Forma e matéria
a escultura barroca de Santo Estêvão do Museu de Santa Maria de Lamas
Resumo
Da colecção de arte sacra do Museu de Santa Maria de Lamas, no norte de Portugal, que tem vindo a ser tratada na Escola das Artes da Universidade Católica, no Porto, faz parte uma escultura sobre madeira, de vulto pleno, dourada e policromada, com 115 em de altura, que representa Santo Estêvão de pé, em posição frontal, com ligeiro avanço do pé direito, que se vislumbra sob a orla da alva. De autor desconhecido e história custodial incerta e sem registros, esta imagem exibe linhas formais e compositivas enquadráveis na produção da imaginária portuguesa da primeira metade de Setecentos. Apresenta traços pouco eruditos em termos formais e o estatismo e rigidez da pose revelam uma tendência popularizante na execução do suporte. Fisionomicamente a indumentária domina a anatomia, cujas formas submergem na rigidez da representação da dalmática (veste litúrgica dos diáconos). O carácter hirto é contrariado apenas pela colocação dos membros superiores de forma a sustentarem a estola dos diáconos, o livro (Evangeliário) e as pedras (recolhidas em parte da dalmática, dobrada para o efeito), instrumento do martírio do santo. A reduzida dinâmica na figuração e a ocorrência cuidadosa e regral dos atributos (pedras, livro aberto, indumentária) revelam atitude pouco imaginativa por parte do autor, mas iconograficamente a escultura cumpre a sua função litúrgica e devocional. De registar, no carácter menos erudito da imagem, a não ocorrência do atributo definidor da categoria dos mártires - a palma.