Poemics

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Álvaro de Sá.
Poemics.
Rio de Janeiro :   Ed. do Autor,   1991.
[126] p. :   il. p&b ;
22 x 17 x 1,5 cm.

Impressão em processo eletroestático (reprografia).

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O presente poema de Alvaro de Sá realiza um enunciado. Álvaro escolhe como termo do enunciado o signo de um meio da cultura de massa. E como tal entendemos a diferença de signo ao nível da palavra, pelo fato de ser uma estrutura homóloga a um logotipo, participando assim das virtualidades da linguagem verbal e da linguagem visual, uma vez que escolhe o significante desta na estória em quadrinhos. Se nela o balãozinho tem autonomia significativa, Álvaro faz a poética desta autonomia. O signo possui apenas o significante, quando possibilita uma atualização do enunciado verbal ao enunciado visual.

Ele destaca a mensagem como um processo. Há também que se ressaltar a correspondência entre a parte significante deste signo e o recurso visual utilizado. Isto visa a uma integração do leitor no fazer-se do poema. Escolhe para esta relação icônica um código analógico que possibilita à referida integracão um significante, consumido na relação social cotidiana com tal intensidade enquanto meio, que já fala por si mesmo.

O balãozinho da estória em quadrinhos, a imaginação do diálogo neste significante atende, pois, a dois aspectos. Primeiro, o fato de que iconicamente já se realiza, pela necessidade o uso histórico, uma leitura de seu sistema. No entanto, no interior deste sistema, um índex serve de catalisador dos momentos da narrativa, na medida em que o balãozinho da estória em quadrinho é formalizado como ícone. E também virtualizado num enunciado pela sugestão ótico-semântica indicadora de alternância, que possibilita que se leia um diálogo em andamento. Os próprios termos constituintes desses diálogos são abstrações e extensões dos dialogantes, que se reconhecem numa imagem sólido-formal. Eles são imaginados no interior da fala significante. A própria leitura quantitativa do mesmo indica quem fala e a intensidade da fala, prescrevendo uma curva descendente e posteriormente ascendente, de modo a visualizar a integração do meio e da mensagem enquanto executores do diálogo. No entanto, a repetição, que torna desnecessária a extensão da morfologia, realiza num paradigma esta leitura da semântica da forma; este estar esteticamente situado no mundo, requer a possibilidade de o leitor preenchê-lo semanticamente.

Isto se deve a uma retomada do enunciado textor. E ocorre em relação forma x palavra. Nela, um sistema de enunciados estéticos antecede o verbal enquanto dado semântico, e possibilita na visualização da forma uma transparência da sintaxe desse próprio signo.

A estória em quadrinhos, como forma escolhida, abre toda uma possibilidade de relacionamento semântico com o cinema de animação e com a linguagem da serigrafia, para sermos mais diretos. Ela nos coloca face a um procedimento primordial enquanto produção estética, a depreensão imaginária do real. Traduz, em termos de linguagem, um rompimento com o fato aristotélico e onomaseológico de um termo definir e esgotar um fenômeno. Mostra que, no campo da forma, um termo, um enunciado, leva de encontro aos limites do fenômeno como um processo de comunicação. A comunicação como um se fazer arbitrado, enquanto formas sintáticas, possibilita, visualizada assim, um futuro para a forma poética, mesmo na utopia de uma sociedade tecnológica que venha a abolir o código verbal. Os limites deste fenômeno são os da interpretação do consumidor. O poema é o esqueleto preenchido a cada leitura nova.

Este traduzir o mundo da forma é uma preocupação de espacializar o contexto literário, e neste sentido, sem dúvida, a prática do poema/processo realiza uma discussão válida da execução da arte contemporânea no Brasil. No poema, o fazer-se é uma leitura do processo. A semântica aponta para fora dele, porque o meio que utiliza semanticamente, por ser bastante consumido, permite que seja preenchido pelo universo imaginário do leitor. Só que neste preenchimento ele oferta o referente ao leitor no processo de criação do poema. (Mendonça, Antonio Sérgio. “Poema/Processo”. Poesia de Vanguarda no Brasil, Petrópolis: Vozes, 1970)

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