Michel Melamed
Regurgitofagia: A Prosa Poética e Contemporânea de Michel Melamed
Rio de Janeiro, Objetiva, 2005.
132 p.
O livro Regurgitofagia nasceu como base para o espetáculo teatral de mesmo título que eletrizou o Rio de Janeiro no ano de 2004 durante nove meses de temporada. Ambos foram criados por Michel Melamed e inicialmente financiados por uma bolsa da RioArte.
Tanto foi o sucesso, de crítica e público, que depois de rodar outras capitais do país, a peça começa o ano de 2005 com estréia de temporada em São Paulo seguida de noite de autógrafos no Sesc Belenzinho. Produzido originalmente pelo próprio autor, o livro se esgotou rápido e agora conquistou uma edição comercial da Objetiva revista por Melamed.
No espetáculo, o homem enrolado em fios sofre as reações da platéia através de uma máquina especialmente criada para a peça, assim, risadas, tosses, aplausos, se transformam em choques elétricos de 25 a 45 volts, que o autor/ator recebe continuamente, criando uma tensão permanente durante 50 minutos.
No livro, Michel mantém a “alta voltagem” da liberdade das palavras, do pensamento e da vida, que todos desejamos e exigimos da poesia, ligada a um humor raras vezes conquistado por nossos poetas, como observou o professor de literatura Alberto Pucheu.
Com um texto denso e preciso, Regurgitofagia surpreende e aprisiona o leitor, no seu emaranhado de colagens, bilhetes, propostas e idéias ruidosas. Prosa poética contemporânea, exibe levezas mas também protesta, com vigor, contra o mundo marqueteiro, a saturação da linguagem, o esgotamento das vanguardas. É lúdico, ao nos convidar a participar em jogos interativos, é livro de amor e, também, objeto das mais instigantes reflexões.
Regurgitofagia é uma palavra inventada com audácia e um livro que vibra como o sopro de juventude, contagia pela inquietação e faz do leitor autor, com seus jogos lúdicos e interativos, remetendo às experiências de arte como ato de vida. Ler este livro é partilhar um projeto inovador e poético, capaz de nos fazer refletir e olhar, olhar muito, para nos dar conta do que vamos engolir.
Regurgitar é estar repleto e, ao mesmo tempo, expelir o excedente. Michel Melamed dialoga com o modernismo e o tropicalismo, ao nos propor a regurgitofagia para vomitar o excesso, descoisificar o homem e acabar com a alta incidência de cárie mental, causada pelo consumo exagerado de enlatados americanos, novelas açucaradas e conceitos embutidos.