Publicado no Jornal OTEMPO em 18/12/2011
TARCISIO D´ALMEIDA
Tão essencial quanto a água que bebemos e hidrata o corpo, a música no mundo da moda exerce um papel crucial, quer seja na trilha sonora de um desfile, num set fotográfico de um editorial de moda ou de campanha publicitária, ou mesmo na abertura de uma exposição. É a música que cria e confere uma atmosfera única para convergir os conceitos idealizados pelo criador e mostrar ao público o que foi pensado estratégica e conceitualmente em termos de moda. A música celebra e sonoriza a moda.
Mesmo a trilha de um desfile que não tenha a emissão acústica de instrumentos musicais e vocais é (de)marcada por uma musicalidade, constituída a partir das marcações dos passos das modelos, por exemplo. Dito isso, é importante pensarmos em música como sons. Todo e qualquer som emitido, com ou sem vocais e instrumentos, pode servir como cenário acústico para um desfile, o que chamamos de trilha sonora. Costumeiramente elaboradas por DJs, as trilhas dos desfiles convergem o ideal estético-conceitual da coleção com uma concepção acústica adequada para acompanhar as exibições peça a peça numa passarela.
Quando temos uma sinergia perfeita entre a música e os looks de uma coleção, somos tomados por uma espécie de completude que nos faz sentir como se “vestíssemos músicas e ouvíssemos moda”. Claro que a cenografia e a iluminação têm papéis muitíssimo relevantes, mas a música na moda também nos serve como uma espécie de selo de autenticação, responsável por nos transportar do mundo real para o irreal, para o imaginário. É o que compreendemos como ambientação perfeita de uma narrativa que serve para mostrar idealizações da moda combinadas a sonoridades – o que nos envolve via sentidos.
Alguns pesquisadores já se debruçaram para entender a relação entre moda e música. A socióloga e professora da University of London Angela McRobbie publicou “In the Culture Society: Art, Fashion and Popular Music” (Routledge, 1999). Nesse livro, a autora investiga as implicações culturais entre temas como arte, moda, feminismo e consumo nas sociedades, além das questões do sexo e da raça na música popular. Outra obra que acaba de ser lançada é “Fashion and Music” (Berg, 2011), da conferencista em estudos culturais e históricos da London College of Fashion Janice Miller, a qual nos revela que “a relação entre moda e música é incorporada e enfatizada pela partilha da linguagem”. Bastante verdadeira essa afirmação pois, basta lembrarmos outra forma de sinergia entre moda e música: a da presença dos ícones da música que se transformam também em ícones fashion.
Independentemente do gênero musical, quer seja rock, pop, dance ou electro, artistas como David Bowie, Madonna, Björk, Fischerspooner, Lady Gaga, dentre outros, de alguma forma, já trataram em suas canções de nomes de marcas da moda ou mesmo estabeleceram uma sinergia e cumplicidade com a moda, ou seja, criando um envolvimento que vem das transformações deles em ícones da moda, que se confundem até mesmo com o ato de se vestir. Adquiriram status de árbitros de estilos únicos que transitam tanto na moda como na música, o que entendemos como ícones.