Publicado no Jornal OTEMPO em 09/09/2012
MARIANA LAGE
Moda e cinema são duas áreas que andam de braços dados, desde, pelo menos, a invenção das imagens em movimento. Se as relações entre tais universos permaneceram durante o século XX, entre a serventia e a inspiração, como explica o professor Júlio Pessoa, nos últimos anos, elas se unem a favor de um olhar estético mais autoral. Trata-se dos fashion films, curtas-metragens que se inspiram na moda para desenvolver suas criações. Uma relação tão frutífera que tem alimentado o surgimento de festivais específicos de cinema e moda ao redor do mundo. Além, claro, de avant-première exclusivíssima, como é típico de ambos os universos.
Na primeira seman de setembro, por exemplo, a Miu Miu apresentou, durante o Festival de Veneza, o quarto curta da série “Women’s Tales”. Produzidos em parceria com cineastas como Lucrecia Martel, Zoe Cassevetes, Giada Colagrande e Massy Tadjedin, eles contam com elenco exclusivo de mulheres e exploram o amor pela grife jovem de Miuccia Prada. Até então inédito, o quarto dos minifilmes fashion, o “It’s Getting Late”, pode ser visto no YouTube.
A novidade maior de tudo isso é que Belo Horizonte mergulha na onda mundial de produções cinematográficas com pegada high fashion e exibe, a partir de quarta-feira, dia 12, até o dia 30 deste mês, a mostra “Moda em Movimento”, composta por seis fashion films, produzidos por realizadores da capital mineira.
Idealizada pelo produtor Camilo Belchior, pelo coordenador dos cursos de cinema e de moda da UNA, Júlio Pessoa, pelo designer Gustavo Greco e pela editora deste caderno, a mostra acontecerá em cabines interativas distribuídas pelos corredores do BH Shopping e integrará o lançamento de coleção do mall. Em cena, curtas de Erik Ricco e Julia Lego, Márcio Rodrigues, Paulo Raic, Weber Pádua e dos coletivos Binóculo e Chágelado.
Para Camilo, trata-se, sem dúvida, de um movimento precursor. “É uma percepção comum a todos nós que a moda está evoluindo, está deixando de estar no trabalho tradicional do catálogo e migrando para um suporte de imagens e movimento”, aposta.
Júlio Pessoa ressalta a característica principal desse tipo de produção. “Apesar de fazer parte das estratégias de comunicação de uma marca, não se trata simplesmente de uma divulgação das coleções, publicidade. Os fashion films têm uma verve criativa particular”, destaca. Áreas que sempre andaram próximas, por pertencerem a universos criativos que enfocam processos identitários, moda e cinema surgem em formas mais autorais nos curtas de moda, acredita Júlio.
Para a professora de moda e jornalismo Carla Mendonça, trata-se de uma relação de simbiose. “É bem difícil imaginar a disseminação da moda sem a ajuda do cinema. Mas, enquanto exercício estético, o fashion film é uma possibilidade da internet”, defende, apontando a participação das novas mídias na no desenvolvimento desse tipo de produção.
Em tempo, para o fim do ano, entre os dias 11 e 12 de dezembro, está prevista a realização do São Paulo Fashion Film Festival (SPFFF), organizado pelo top fotógrafo Jacques Dequeker. BH saiu na frente!