Tarcísio D’Almeida
Publicado no Jornal OTEMPO, Caderno Pandora, em 27/03/2011.
É possível pensar sobre a moda? Sim, sem sombra de dúvidas. E o desenvolvimento do pensamento humanístico já nos conferiu alguns exemplos ilustrativos e bastante emblemáticos que atestam tal afirmação. No percurso evolutivo da humanidade, pensadores advindos de diversos campos das humanidades, tais como história, ciências sociais (sociologia, antropologia), psicologia e semiótica, dentre outras, têm empregado seus olhares, análises rigorosas e reflexões ao objeto de estudo “moda” e como esta tem realizado seu percurso de expansão nas sociedades durante séculos. A essa lista, podemos acrescentar ainda as contribuições de intelectuais da filosofia (sobretudo com as abordagens da estética), autores da literatura e artes, o que complementa um olhar multidisciplinar sobre o fenômeno que ultrapassa a simples compreensão via vestuário.
A moda não é uma ciência, assim como a filosofia também não o é. Mas, com ela e a partir dela, podemos compreender quem somos, como agimos, por que tomamos determinadas decisões e adotamos algumas posturas no nosso cotidiano. O pensamento humanístico sobre moda tem suas origens entre o fim do século XIX e se expande no XX. É daquele período que temos as contribuições de nomes como os escritores Charles Baudelaire, Oscar Wilde e Stéphane Mallarmé, que, com seus romances e crônicas, observaram modas e costumes via literatura.
Já no início do século XX, a moda ganhou seu primeiro estudo com o sociólogo e filósofo Georg Simmel, que publicou, em 1904, o ensaio “Philosophie der Mode”. Ele foi sucedido pelo etnólogo Alfred L. Kroeber; o psicólogo J. C. Flügel; o linguista Edward Sapir; o sociólogo Quentin Bell; o semioticista Algirdas Greimas; a filósofa Gilda de Melo e Souza; o semiólogo Roland Barthes; os também sociólogos Herbert Blumer, René König, Pierre Bourdieu, Gilberto Freyre; e, mais recentemente, o filósofo Gilles Lipovetsky.
Cada um desses “scholars” imprimiu observações surpreendentes sobre o por que de pensar a moda sob diversos pontos de vista.
A grande riqueza que herdamos desse legado é poder, atualmente, em início do século XXI, mesclar as conquistas e contribuições das abordagens e reflexões deles para esboçarmos tentativas de compreender a Moda e toda sua complexidade no discurso tecnológico de início do século XXI. O que poderá, quem sabe daqui a algum tempo, podermos dizer que a moda é, além de um campo de estudo, uma ciência em si. Mas, para que isso ocorra, é preciso lembrar que, sem o pensamento humanístico, a moda, provavelmente, não sobreviria como forma estética e como reflexo das ações do homem.