Tempo de residência artística

Pioneiro no Brasil, programa Bolsa Pampulha completa quatro edições e inspira outras iniciativas em Belo Horizonte
Publicado no Jornal OTEMPO em 31/07/2011
DANIEL TOLEDO

Resultado da quarta edição do programa de residência artística Bolsa Pampulha, a exposição “Bolsa Pampulha 2010/ 2011”, com curadoria de Ana Paula Cohen, segue em cartaz até o início de setembro.

Mas, se na ocasião do seu surgimento, em 2002, o programa criado pela Prefeitura Municipal de Belo Horizonte era o único espaço de residência artística da cidade, o que se vê agora é uma situação bem diferente.

Os programas de residência criados nos últimos três anos pelo Marginalia + Lab, o JA.CA e o Ceia mostram que o modelo, consolidado entre as décadas de 80 e 90 nos principais polos de artes visuais do mundo, vem ganhando cada vez mais força como modo de apoiar a formação e a criação artística local.

Ainda que guardem singularidades, os quatro programas têm em comum a ideia de selecionar jovens artistas, sejam locais ou vindos de outras cidades e países, para realizarem seus trabalhos em Belo Horizonte.

Ao longo do período de residência, os artistas compartilham estúdios de criação, recebem acompanhamento crítico e, por fim, apresentam seus trabalhos ao público da cidade. Além disso, todos os programas oferecem aos artistas uma verba que lhes permite desenvolver, em condições próximas ao ideal, suas investigações artísticas.

“São programas que, em certo sentido, desoneram o artista do peso de compromissos cotidianos. Tendo essa parte resolvida, eles ficam totalmente disponíveis para detonar sua potência e investir suas energias na dimensão inventiva”, sintetiza Marcos Hill, coordenador da Residência Ceia e integrante das comissões de seleção e acompanhamento da edição mais recente do Bolsa Pampulha.

“Ainda que tenhamos na cidade duas escolas de arte bastante razoáveis, há uma certa carência no campo do aperfeiçoamento. Nesse sentido, o formato de residência parece muito interessante e generoso, contribuindo, de fato, para o desenvolvimento e o aprofundamento do trabalho dos artistas da cidade”, completa Hill.

intercâmbio. Na visão de André Mintz, coordenador do Marginalia + Lab, deve-se considerar também que a vinda de artistas de outros Estados e países tem considerável relevância para o desenvolvimento do campo das artes visuais na cidade.

“Trata-se, realmente, de uma rua de mão-dupla. Tanto os artistas de fora como os criadores locais acabam tendo contato com outras pessoas, trabalhos e propostas artísticas. Assim, mesmo os programas que optam por artistas de fora da cidade têm um impacto direto sobre a cena local”, analisa.

A ideia de deslocamento, aliás, é outro ponto caro aos programas de residência artística. “Uma residência que envolve deslocamento desperta e chama a atenção dos artistas para coisas que não pertencem à sua rotina diária”, aponta a diretora do JA.CA, Francisca Caporali para, em seguida, destacar que a instituição, situada no bairro Jardim Canadá, demanda deslocamento até mesmo dos artistas de Belo Horizonte.

E, para além do intercâmbio natural de informações e experiências, tanto Francisca quanto Hill e Mintz veem com bom olhos a ideia de que os projetos desenvolvidos pelos artistas sejam contaminados pelo contexto em que se dá a residência.

“É interessante que os artistas e seus projetos tenham abertura para o que está por vir. Ou seja, faz mais sentido quando os trabalhos não são apenas execuções, mas correspondem, de fato, a experimentações”, pontua Mintz.

Exposição
Em cartaz no Museu de Arte da Pampulha até o dia 11 de setembro, “Bolsa Pampulha 2010/2011” pode ser visitada de terça a domingo, das 9h às 19h.

Conheça alguns dos artistas do programa no artigo original.

Conheça o blog da edição 2010-2011 do programa!

Consulte também na Biblioteca da EBA os catálogos das edições 2003-2004 e 2005-2006 do Bolsa Pampulha!

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