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A moda além das passarelas

Tarcisio D’Almeida – Especial para o Feminino & Masculino do jornal Estado de Minas em 10/11/2019

Look dos Alunos da UFMG no Dragão Fashion 2017(foto: Roberta Braga/Cláudio Pedroso/Pedro Brago/Divulgação )

O fascínio que a moda exerce nos indivíduos vai além dos desfiles nas passarelas das semanas de moda. Esse fascínio direciona para os consumos estético e mercadológico da moda. Quer seja amada, quer seja odiada, ela desempenha papel crucial na constituição de comportamentos, gostos e decisões estéticas das sociedades em suas evoluções históricas. Focados nesse objetivo central, professores, pesquisadores, estudantes e profissionais se reuniram na Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais (EBA-UFMG), em Belo Horizonte, de 29 de outubro a 1º de novembro último, para o 9º Encontro Nacional de Pesquisa em Moda (Enpmoda), que foi sediado pelo curso de design de moda, em parceria com o Programa de Pós-graduação em Artes, ambos da EBA-UFMG, e com apoios institucionais da EBA-UFMG, do curso de têxtil e moda da Universidade de São Paulo (USP), do curso de moda da Faculdade Santa Marcelina (FASM), do curso de design-moda da Universidade Federal do Ceará (UFC), do curso de moda da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), do curso de design de moda da Universidade Federal de Goiás (UFG) e do curso de moda do Centro Universitário Una. O evento teve como hotel parceiro oficial o Bristol Jaraguá Hotel e contou com patrocínios do Sindivest-MG, da Syssa Baby e da Loja do Primo.

Criação de Raiane Cotta(foto: Thiago Bonifácio/Divulgação)

“É uma honra para a UFMG sediar em nossa instituição o 9º Enpmoda. Este importante evento representa não apenas uma oportunidade de divulgação de pesquisa em moda”, explica a professora Sandra Regina Goulart Almeida (reitora da UFMG), “mas também um momento de reflexão sobre o complexo fenômeno da moda e do diálogo entre os vários setores envolvidos na produção em moda no país.” Com o tema “A moda entre o pensar e o criar na evolução do tempo”, participantes procedentes de vários estados do país estiveram nessa nona edição do Enpmoda – a segunda sediada pelo curso de design de moda da UFMG, a primeira foi em 2013 – e tiveram uma programação bastante ampla e enriquecida de abordagens, reflexões e pontos de vista, que totalizaram três conferências, seis oficinas, 35 artigos de comunicações orais e 28 artigos de pôsteres científicos, além do desfile de encerramento, que teve como proposição “O povo e a cultura de Minas Gerais”, interpretado pelos alunos da disciplina pesquisa de moda II. 

O Enpmoda tem como missão a constituição do pensamento acerca do objeto de estudo moda, isto é, a constituição do campo de saber/conhecimento devotado à moda. “A dedicação de todos [pesquisadores, professores e estudantes] à pesquisa e à construção do campo da moda é de uma força inabalável, inquestionável e de reconhecido valor”, pondera a professora Ana Paola dos Reis, coordenadora do curso de design de moda da EBA-UFMG). Essa força de produção acadêmica sobre a moda é uma realidade presente na trajetória do evento, que para a nona edição teve inscrições de trabalhos para os cinco grupos de trabalhos – Moda: ensino, pesquisa e extensão; Moda: teorias e processos criativos; Moda: história, cultura e artes; Moda: comportamento, comunicações e mídias, e Moda: tecnologia, gestão e produção.

“O Povo e a Cultura de MG”, de Raiane Cotta(foto: Thiago Bonifácio/Divulgação)

A conferência “Apareça e não se esconda: a moda, a história, a construção da democracia no Brasil”, com a professora Heloisa Starling (titular do Departamento de História da UFMG), abriu o evento na noite de 29 de outubro com pensamentos sobre a importância da moda na constituição das personalidades das pessoas inseridas nos contextos históricos da sociedade brasileira. Em seguida, foi a vez de o time de criadores composto pelos estilistas Luiz Cláudio Silva (egresso do curso de extensão em estilismo da UFMG e hoje criador da grife Apartamento 03), Renato Loureiro, Valéria Mansur e Rogério Lima (diretor de criação do Minas Trend) conversar sobre “Sensibilidades criativas na moda”, assunto da segunda conferência do evento.

A moda e suas variadas facetas e processos criativos desempenham um papel crucial na apreensão estético-artística dos indivíduos. “Houve tempos nos quais as artes não estevam divididas entre ‘menores’ e ‘maiores’, entre ‘belas’ e ‘aplicadas’, ‘decorativas’ ou ‘utilitárias’, entre ‘arte’ e ‘artesanato’. A EBA-UFMG vivencia a diversidade como um valor essencial a cultivar e fortalecer”, conceitua o professor Adolfo Cifuentes (vice-diretor da EBA-UFMG). “É nesse diálogo permanente com o diverso que se nutre uma civilização”, complementa. Por isso mesmo, o conhecimento teórico é aliado ao conhecimento prático. Pensando nessas diversidades e sinergias, a comissão organizadora do Enpmoda estruturou as oficinas “Styling: construindo imagens para a moda” (com Rodrigo Cezário); “Bordados de linhas e pedrarias” (com Juliana Cruz); “Toda forma de nécessaire” (com Daise Menezes); “Moodboard e processos de pesquisa visual em moda” (com Danilo Araujo Nogueira); “Como transformar informação de tendência em produto de moda” (com Aldo Clécius)”; e “O casaco de Marx” (com Maíra Gouveia).

Encerrando a programação das conferências, a professora Lilian Santiago, do Departamento de Filosofia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que direcionou a força do pensamento filosófico sobre arte e moda para pensar o tema “Do Studio 54 ao museu: metamorfoses da moda”, abordando o icônico clube de Nova York, que impactou comportamentos e esteticamente várias gerações, e como a transição das práticas serve para metamorfosear a moda.

Em sinergia com o ano comemorativo dos primeiros 10 anos do curso da UFMG, ocorreu ainda no 9º Enpmoda a “Design de moda UFMG: mostra comemorativa de sua primeira década”, com uma seleção de criações de variadas naturezas e anos (looks, objetos vestíveis, cadernos de processos, books criativos etc.) produzidos pelos estudantes do curso. E ainda integrando a proposta de pensar o ato de criar moda no contexto mineiro, foi proposto para os alunos da disciplina pesquisa de moda II, do 4º semestre do curso de design de moda da UFMG, o tema “O povo e a cultura de Minas Gerais”, que encerrou a programação do evento na noite de 1º de novembro.

*Tarcisio D’Almeida é vice-coordenador do curso de design de moda da Escola de Belas Artes da UFMG; doutor em filosofia pela USP; líder do grupo de pesquisa Moda: teorias e processos criativos, cadastrado no CNPq; coordenador geral do 9º Enpmoda e autor do livro Moda em diálogos: entrevistas com pensadores.

As roupas e o tempo

Em tese pioneira, professor da EBA aborda a relação entre moda e modernidade com base nas ideias de aparência e de gosto

Miroir d'apparence, criação do belga Nicolas Destino, que une moda e design de objetos
Miroir d’apparence, criação do belga Nicolas Destino, que une moda e design de objetos Acervo Nicolas Destino

“É possível pensar sobre a moda?” Esse foi o questionamento que motivou o ­professor Tarcisio D’Almeida, do curso de Design de Moda da Escola de Belas Artes, a empreender sua pesquisa de doutorado, defendida no fim do ano passado na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP. Em As roupas e o tempo: uma filosofia da moda, o professor explora reflexões suscitadas pela moda e traça um histórico do que foi produzido por pensadores acerca do tema, ao longo dos séculos.

Sob orientação da filósofa Olgária Matos, Tarcisio guiou-se pela ideia que associa moda à produção estética e visitou as obras de filósofos como Montaigne, Montesquieu, Rousseau, Kant e Hegel para perceber como surgiu a relação da moda e da pulsão pelo vestuário com as noções de futilidade, efemeridade e frivolidade. O autor se aproxima também do pensamento de intelectuais como Walter Benjamin e Theodor Adorno para abordar a relação simbiótica entre a moda e a modernidade com base nas noções de aparência e de gosto.

“Ao nascer, a moda já preconiza a sua própria morte, por isso o eixo condutor da tese foi o tempo. O objetivo foi perceber como o homem, na evolução dos séculos, comportou-se em relação às roupas e à moda”, explica o professor. Ao alcançar os períodos da modernidade e da contemporaneidade, Tarcisio dedica-se à relação da moda com a cultura e com o consumo, apoiado em nomes como Lipovetsky e Baudrillard.

Leis suntuárias
Na tese, o professor trata a filosofia da moda entre os conceitos de literatura, arte, estética e fetichização de mercadorias sob perspectivas benjaminiana e frankfurtiana. Tarcisio relembra a criação das leis suntuárias, vigentes na Europa durante a Idade Média e no começo da Idade Moderna, para ilustrar como a pulsão pelo vestuário marca as sociedades há séculos. “Montaigne e Montesquieu produziram reflexões sobre as leis suntuárias, criadas para impedir a burguesia de copiar a estética indumentária da nobreza. Foi uma reação às primeiras tentativas de pessoas de classes inferiores se aproximarem esteticamente das classes superiores. A partir daí, as ideias de frivolidade e futilidade passaram a ser comumente associadas à moda”, diz Tarcisio.

Na conclusão do trabalho, o pesquisador aborda a aculturalidade da moda, que, por vezes, tira partido de apropriações indevidas, esvaziando patrimônios culturais de seu valor original. Como exemplo, ele cita a controvérsia em que a grife francesa Dior se envolveu, em 2017, ao copiar um colete bordado por artesãs romenas no distrito de Bihor – sem dar crédito nem remunerar a comunidade local – e comercializá-lo por 30 mil euros. Em resposta, as artesãs criaram a marca Bihor Couture, que brinca com o nome da grife e dá destaque ao artesanato romeno.

Essa história, segundo Tarcisio, mostra os limites entre o que a moda produz como cultura e a forma como ela se aproxima do acultural ao apropriar-se das raízes de um povo com finalidade comercial: “É possível pensar a moda contemporânea como um acontecimento que, por meio de práticas abusivas do mercado orientado pelo neoliberalismo econômico, ‘obriga’ o criador a oscilar entre a adequação do processo criativo em busca de traços culturais e o alinhamento à demanda exorbitante do mercado.”

Pioneirismo
A tese defendida por Tarcisio D’Almeida é um marco na pós-graduação em Filosofia na USP, pois foi a primeira que tem a moda como tema. O pioneirismo também marcou sua dissertação de mestrado, Das passarelas às páginas: um olhar sobre o jornalismo de moda, defendida em 2006, no Programa de Pós-graduação em ­Ciências da Comunicação da USP. Foi a primeira desenvolvida na universidade paulista sobre jornalismo de moda.

A tese do professor mantém estreita relação com o livro Moda em diálogos: entrevistas com pensadores, publicado em 2012. A obra é resultado de projeto desenvolvido desde a década de 1990 pelo pesquisador, que dialoga com referências ­contemporâneas sobre a moda como objeto de reflexão.

Dalila Coelho

FMC cria Centro de Referência da Moda de Belo Horizonte

Publicado em 06/12/2012 09:40:19

241_foto Miguel Aun_MHAB_Vestua¦ürio_out2012A Prefeitura de Belo Horizonte, por meio da Fundação Municipal de Cultura (FMC), criou o Centro de Referência da Moda de Belo Horizonte, na esquina da Rua da Bahia com a Avenida Augusto de Lima. Segundo o presidente da FMC, Leônidas Oliveira, o objetivo do novo espaço é traduzir a cultura, o estilo e os costumes dos habitantes da capital mineira, em diferentes épocas.

O Centro de Referência da Moda reunirá um amplo e diversificado acervo, desde luxuosos vestidos de gala, fraques e finas lingeries, até extravagantes chapéus, trousses, luvas e outros acessórios, itens vindos da Coleção Vestuário do Museu Histórico Abílio Barreto (MHAB). “Com mais esta iniciativa, a Fundação Municipal de Cultura tem planos de mobilizar o mundo da moda em BH, promovendo debates, estudos, desfiles, exposições, seminários e cursos, muitos deles destinados à população de baixa renda, com o objetivo de formar mão-de-obra especializada para as confecções”, detalha Leônidas, sobre os benefícios que o novo espaço trará para a cidade.

A coordenação geral do Centro de Referência da Moda de BH ficará a cargo de Marília Salgado. Segundo ela, o espaço irá centralizar várias ações de apoio a estudantes universitários de moda, professores, estilistas, profissionais do comércio, indústria e comunidade em geral. “A moda hoje é pensada não como futilidade, mas como fenômeno sociocultural, capaz de nos dar informações preciosas sobre os costumes de uma época e de um povo, além de movimentar a economia de um país”, completa.

Localização privilegiada

O Centro de Referência da Moda de Belo Horizonte irá ocupar uma das mais belas edificações da cidade, localizado na esquina da Rua da Bahia com a Avenida Augusto de Lima. O prédio neogótico, em estilo manuelino, foi construído em 1914 e, em seus quase cem anos de existência, sediou importantes instituições histórico-culturais de Belo Horizonte, como o Conselho Deliberativo da Capital, a Biblioteca Municipal, a primeira rádio da cidade (PRC-7, Rádio Mineira), as aulas inaugurais da Escola de Arquitetura da UFMG, a Câmara Municipal, o Museu de Mineralogia Professor Djalma Guimarães, o Museu da Força Expedicionária Brasileira e, mais recentemente, o Centro de Cultura Belo Horizonte.

O edifício é tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (IEPHA- MG) e pelo Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural do Município de Belo Horizonte.

Exposição: A Fala das Roupas

Uma amostra do acervo do Centro de Referência da Moda de Belo Horizonte será apresentada ao público na exposição “A Fala das Roupas”. Entre as peças expostas, destacam-se um robe du jour (vestido do dia), de 1873, usado pela noiva para tomar o café da manhã com o marido no dia seguinte ao casamento; um vestido feito para a festa de comemoração da Revolução de 1930; um vestido confeccionado pelo conhecido estilista mineiro Marquito; lingeries de seda bordadas; caixa de trabalho de mascate, especialista no comércio de joias e bijuterias; belos vestidos de gala, chapéus, luvas, fraque e uniformes da Guarda Nacional.

Mais informações: CR[Moda] – (31) 3277-4384

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BH INAUGURA OFICIALMENTE SEU CENTRO DE REFERÊNCIA DA MODA

Publicado no DOM, Ano XVIII – Edição N.: 4199

Exposição de peças antigas e seminário marcam abertura do novo espaço, que pretende mobilizar o setor na capital mineira

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Belo Horizonte ganha oficialmente na segunda-feira, dia 26, seu Centro de O Centro de Referência da Moda reunirá um amplo e diversificado acervo, que inclui desde luxuosos vestidos de gala, fraques e finas lingeries até extravagantes chapéus, trousses, luvas e outros acessórios, itens vindos da Coleção Vestuário do Museu Histórico Abílio Barreto (MHAB). “A Fundação Municipal de Cultura tem planos de mobilizar o mundo da moda em BH, promovendo debates, estudos, desfiles, exposições, seminários e cursos, muitos deles destinados à população de baixa renda, com o objetivo de formar mão de obra especializada para as confecções”, disse Leô­nidas Oliveira, presidente da FMC, sobre os benefícios que o novo espaço trará para a cidade.Referência de Mo­da, espaço que pretende traduzir a cultura, o estilo e os costumes dos habitantes da capital mineira em diferentes épocas. O centro será inaugurado oficialmente pela Prefeitura de Belo Horizonte, por meio da Fundação Municipal de Cultura (FMC) e vai funcionar na esquina da rua da Bahia com a avenida Augusto de Lima, no Centro de Cultura de Belo Horizonte (rua da Bahia, 1.149, Centro). Nos primeiros dias, inclusive, o centro vai receber uma exposição e promoverá um seminário.A coordenação geral do Centro de Referência da Moda de BH ficará a cargo de Marília Salgado. Segundo ela, o espaço irá centralizar várias ações de apoio a estudantes universitários de mo­da, professores, estilis­tas, profissio­nais do comércio, indústria e comunidade em geral. “A moda hoje é pensada não como futilidade, mas como fenômeno so­cio­cul­tural, capaz de nos dar informações preciosas sobre os costumes de uma época e de um povo, além de mo­vi­mentar a economia de um país”, completa.

O Centro de Referência da Moda irá ocupar uma das mais belas edifica­ções da cidade. O prédio neogó­tico, em estilo manue­lino, foi construído em 1914 e, em seus quase cem anos de existência, sediou importantes instituições histórico-culturais da capital, como o Conselho Deli­be­rativo da Capital, a Biblioteca Municipal, a primeira rádio da cidade (PRC-7, Rádio Mineira), as aulas inaugurais da Escola de Arquitetura da UFMG, a Câmara Municipal, o Museu de Mineralogia Professor Djalma Guimarães, o Museu da Força Expedicio­nária Brasileira e, mais recentemente, o Centro de Cultura Belo Horizonte.

O edifício é tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (IEPHA- MG) e pelo Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural do Município de Belo Horizonte.

Exposição “A Fala das Roupas”

Uma amostra do acervo do Centro de Referência da Moda de Belo Horizonte será apresentada ao público na exposição “A Fala das Roupas”. Entre as peças expostas, destacam-se um robe du jour (vestido do dia), de 1873, usado pela noiva para tomar o café da manhã com o marido no dia seguinte ao casamento, um vestido feito para a festa de comemoração da Revolução de 1930, um vestido confeccionado pelo conhecido estilista mineiro Marquito, lingeries de seda bordadas, caixa de trabalho de mascate, especialista no comércio de joias e bijuterias, belos vestidos de gala, chapéus, luvas, fraque e uniformes da Guarda Nacional.

I Seminário do Centro de Referência da Moda

Entre terça e quinta, dias 27 e 29, o Centro de Referência da Moda de BH promove o seu primeiro seminário, com três dias dedicados aos temas: “Memória, Negócios da Moda e Criação e Desenvolvimento”. O evento acontece na sede do BDMG (rua da Bahia, 1.600) e contará com a participação de palestrantes renomados, como João Braga (historiador de moda), Maria Prata (diretora de redação da Harper’s Bazaar Brasil), Astrid Façanha (professora da Faculdade Santa Marcelina e gerente geral da Netshoes), Maria Tereza Leal (fundadora da Coopa-Roca), Vera Lima (criadora do acervo de moda do Museu Histórico Nacional), Mary Arantes (da Mary Design) e Tereza Santos (estilista mineira).

As inscrições para o seminário são gratuitas e podem ser feitas pessoalmente ou pelos telefones 3277-4384 e 3277-9248 no próprio Centro de Referência da Moda e também no MHAB (avenida Prudente de Morais, 202, Cidade Jardim). As inscrições também poderão ser feitas durante os três dias do evento, desde que o interessado chegue com a antecedência mínima de uma hora e meia no BDMG. Veja abaixo a programação do seminário, que será mediado por Carla Mendonça.

• Dia 27, das 14h às 19h, com o tema “Memória”

Vera Lima: O acervo de trajes do Museu Histórico Nacional

João Braga: Visão da História da Moda brasileira no período de 1897 a 1980

Soraya Coppola: Restauração e conservação de tecidos e trajes

• Dia 28, das 14h às 19h, com o tema “Negócios da Moda”

Terezinha Santos e Tereza Cristina Hohs: Negócios da moda

Omar Hamdam: Fashion City – o novo empreendimento da Moda

Maria Tereza Leal: Coopa-Roca, uma cooperativa vitoriosa

Astrid Façanha: O futuro das lojas físicas em vista do desenvolvimento das lojas virtuais

• Dia 29, das 9h às 12h50, com o tema “Criação e Desenvolvimento”

Mary Arantes: A Poesia da criação

Andrea Marques: Tendências não são imposições; como pensar a cartela de cores, as estampas e a silhueta de cada estação

Maria Prata : O papel do passado na moda do futuro

Moda e música em sinergia

Publicado no Jornal OTEMPO em 18/12/2011

TARCISIO D´ALMEIDA

Tão essencial quanto a água que bebemos e hidrata o corpo, a música no mundo da moda exerce um papel crucial, quer seja na trilha sonora de um desfile, num set fotográfico de um editorial de moda ou de campanha publicitária, ou mesmo na abertura de uma exposição. É a música que cria e confere uma atmosfera única para convergir os conceitos idealizados pelo criador e mostrar ao público o que foi pensado estratégica e conceitualmente em termos de moda. A música celebra e sonoriza a moda.

Mesmo a trilha de um desfile que não tenha a emissão acústica de instrumentos musicais e vocais é (de)marcada por uma musicalidade, constituída a partir das marcações dos passos das modelos, por exemplo. Dito isso, é importante pensarmos em música como sons. Todo e qualquer som emitido, com ou sem vocais e instrumentos, pode servir como cenário acústico para um desfile, o que chamamos de trilha sonora. Costumeiramente elaboradas por DJs, as trilhas dos desfiles convergem o ideal estético-conceitual da coleção com uma concepção acústica adequada para acompanhar as exibições peça a peça numa passarela.

Quando temos uma sinergia perfeita entre a música e os looks de uma coleção, somos tomados por uma espécie de completude que nos faz sentir como se “vestíssemos músicas e ouvíssemos moda”. Claro que a cenografia e a iluminação têm papéis muitíssimo relevantes, mas a música na moda também nos serve como uma espécie de selo de autenticação, responsável por nos transportar do mundo real para o irreal, para o imaginário. É o que compreendemos como ambientação perfeita de uma narrativa que serve para mostrar idealizações da moda combinadas a sonoridades – o que nos envolve via sentidos.

Alguns pesquisadores já se debruçaram para entender a relação entre moda e música. A socióloga e professora da University of London Angela McRobbie publicou “In the Culture Society: Art, Fashion and Popular Music” (Routledge, 1999). Nesse livro, a autora investiga as implicações culturais entre temas como arte, moda, feminismo e consumo nas sociedades, além das questões do sexo e da raça na música popular. Outra obra que acaba de ser lançada é “Fashion and Music” (Berg, 2011), da conferencista em estudos culturais e históricos da London College of Fashion Janice Miller, a qual nos revela que “a relação entre moda e música é incorporada e enfatizada pela partilha da linguagem”. Bastante verdadeira essa afirmação pois, basta lembrarmos outra forma de sinergia entre moda e música: a da presença dos ícones da música que se transformam também em ícones fashion.

Independentemente do gênero musical, quer seja rock, pop, dance ou electro, artistas como David Bowie, Madonna, Björk, Fischerspooner, Lady Gaga, dentre outros, de alguma forma, já trataram em suas canções de nomes de marcas da moda ou mesmo estabeleceram uma sinergia e cumplicidade com a moda, ou seja, criando um envolvimento que vem das transformações deles em ícones da moda, que se confundem até mesmo com o ato de se vestir. Adquiriram status de árbitros de estilos únicos que transitam tanto na moda como na música, o que entendemos como ícones.

Tarcisio D´Almeida é professor e pesquisador do curso design de moda da Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais (EBA-UFMG). tarcisiodalmeida@eba.ufmg.br

Finalmente, ´Hot Luxury´ no Brasil

Publicado no Jornal OTEMPO em 23/10/2011

TARCISIO D´ALMEIDA

Entender o luxo na vida contemporânea demanda novas maneiras de interpretação do significado da palavra “luxo”, que adquiriu, durante a evolução da humanidade, novas tentativas de compreensão. Historicamente, a noção de luxo surgiu na França com a apreciação pelas joias e seu fascínio exercido em mulheres e homens. Esse princípio de apreciação estética era exportado pela nobreza francesa para outros países da Europa. Em seguida, o luxo começa a ser praticado pelo universo da moda, também na França.

Contudo, as vivências nas relações das “vidas líquidas” – para utilizarmos a nomenclatura do pensamento do filósofo Zigmunt Bauman – do mundo contemporâneo registra uma nova realidade, pautada especialmente na mudança de paradigmas. A interpretação e compreensão do luxo adquirem novas configurações, as quais direcionaram seu novo entendimento para o universo do abstrato, ou seja, o luxo não é mais a simples tradução de bens materiais e que traduzam a riqueza e a ostentação, mas também o tempo. Este seu aceleramento desenfreado, isto é, a falta de tempo para tudo o que o homem desejaria realizar, tornou-se o principal tema do novo mapeamento para explicar o luxo no contemporâneo.

É óbvio que permanecemos também com a noção de luxo centrada nos bens materiais, símbolos do consumo que agregaram em si o adjetivo “luxo”. É dentro desse princípio de reflexão e discussões que a editora de moda Suzy Menkes, papisa e autoridade do jornalismo de moda britânico e respeitada mundialmente, idealizou e criou, no ano de 2005, o evento que batizou com o gigantesco título “Luxury”. Gigantesco não no tamanho da palavra, mas sim na semântica histórica que ela carrega consigo. Menkes e seus convidados têm se reunido anualmente em cidades no mundo que têm despertado as atenções do planeta. E, pela primeira vez, o evento chega à América do Sul, ao Brasil e, em especial, à cidade de São Paulo. Ganhou um adjetivo ao título original: “Hot Luxury”, e acontece nos dias 10 e 11 de novembro próximo, no Hotel Unique.

No casting de convidados para a edição brasileira, Menkes mesclou nomes tops da criação de moda, mas também nomes de destaque que fazem os bastidores e potencializam o consumo de moda e de luxo pelo planeta. O fotógrafo de moda Mario Testino, os estilistas Sarah Burton (da Alexander McQueen), Diane von Furstenberg, Carolina Herrera, Lenny Niemeyer e Francisco Costa (da Calvin Klein), além do designer de calçados Christian Louboutin, são alguns dos criadores que estarão discutindo moda e suas inter-relações.

No site: www.iguatemisaopaulo.com.br/iht2011 você tem acesso a programação completa.

Tarcisio D´Almeida é professor e pesquisador do curso Design de Moda da Escola de Belas Artes, da Universidade Federal de Minas Gerais (EBA-UFMG). tarcisiodalmeida@eba.ufmg.br

Flertes entre moda e arquitetura

Nascido nos anos 20, o art déco trouxe ares de modernidade para as ornamentações arquitetônicas de BH. Muitas décadas depois é a vez do traçado figurar como uma das macrotendências para o verão 2012

Publicado no Jornal OTEMPO em 04/09/2011

MARIANA LAGE

A cada nova estação, estilistas e suas equipes vão em busca de inspiração em diferentes épocas do passado. Referências se proliferam a cada seis meses alimentando o público com pitadas de estilos que habitaram as cabeças de artistas e fizeram história, desde os tempos mais remotos (Grécia e Roma antigos) e imemoriais (arte rupestre) ao pretérito mais recente, como o século XX e suas vanguardas artísticas.

Este verão parece ser a vez de resgatar um pouco do estilo arquitetônico das décadas de 1930 a 1950, que influenciaram fachadas de prédios e palacetes ao longo de toda a paisagem belo-horizontina, além de outras cidades como Rio de Janeiro, Nova York, Miami e Paris. As linhas modernistas do art déco saem das construções e estruturam coleções de primavera/verão 2012 de marcas brasileiras como Barbara Bela, Patachou, Acquastudio e Priscilla Darolt.

Segundo o arquiteto e professor da Universidade Federal de Minas Gerais, Leonardo Castriota, a arquitetura predominante desse período recebia originariamente o nome de estilo moderno. “O termo veio da Exposição Internacional de Artes Decorativas de Paris (de 1925) e foi o primeiro estilo que procurou fazer a aproximação entre arte e indústria”. O traço principal do déco está no viés extremamente moderno e, segundo Castriota, pode ser identificado com mais clareza na ornamentação, essencialmente geométrica. “O déco cria uma nova linguagem ornamental e trabalha muito com a ideia de industrialização”. Uma modernidade imaginada que exalava tanto no estilo quanto na mentalidade daqueles que viveram esses anos entre 1930 e 1950, evidenciados no seriado norte-americano Flash Gordon e no frenesi aristocrático com os primeiros dirigíveis.

“Hoje, o moderno ficou muito associado ao estilo à lá Niemeyer. Para se ter uma ideia dessas diferenças de direções, existem duas igrejas em Belo Horizonte do mesmo período, os anos 40. Uma é a Igreja de São Francisco de Assis, de Oscar Niemeyer, na Pampulha, e a São Francisco de Chagas, no Carlos Prates”, exemplifica. “O estilo déco não é a concepção de modernidade que prevaleceu e durante muito tempo foi considerada arquitetura de segunda. Inclusive, ocorreu na cidade um processo de demolição massiva. Contudo, a partir dos anos 90, o estilo voltou a ser valorizado e os exemplares, recuperados”, complementa.

Inspiração para todos os gostos e estilos

Para a elaboração de sua nova coleção, a estilista Juliana Bocchese, da Bárbara Bela, iniciou a pesquisa a partir da busca de novos tecidos. “Estava doida para mudar a cara da coleção e acabei descobrindo o organza plissado”, explica. Como o tecido é bastante geométrico e dá um caimento mais solto no corpo, explica a estilista, a influência do estilo art déco veio como uma etapa natural no processo criativo. “As coisas surgiram naturalmente e até por forças da contingência”, conta. A partir dos geometrismos e da silhueta mais livre, foi apenas uma questão de tempo para Juliana rememorar a época em que as mulheres se libertaram dos espartilhos e as roupas perderam a rigidez.

Na coleção de Priscilla Darolt, o déco surgiu através do resgate dos loucos anos 20 e do visual da dançarina Josephine Baker. Com cores mais fechadas, como preto-fosco, cinza e amarelo-claro, as construções da coleção vem em formas simples, retas e alongadas.

Já a grife Patachou escolheu o edifício Biarritz, da capital carioca, para desenvolver sua proposta. Construído na década de 40, o prédio alia o glamour do art déco francês ao tropicalismo da praia do Flamengo. Mais colorido do que as formas arquitetônicas vistas por aqui, o Biarritz traz também o mesmo rigor geométrico e a suntuosidade nos materiais como metais nobres, mármore e madeira de lei. Na coleção, tais materiais aparecem na forma de sedas, cetim, renda e tecidos com piquê e casa de abelha, dando textura e relevo às estampas.

Destacada por especialistas como uma coleção cubista, a Acquastudio apostou no forte geometrismo e em peças estruturadas. Trapézio e losangos surgiram também em tecidos mais esvoaçantes. Contudo, as formas mais curvas do déco ficaram de fora. Na época do desfile, Glória Kalil considerou que a estilista da marca, Esther Bauman, errou a mão e não fez jus as formas harmoniosas do período áureo moderno. (ML)

Reconheça o estilo nas ruas

Quer conhecer pessoalmente as linhas que caracterizam o estilo art déco? Faça um tour pela cidade!

Cine Brasil (Praça Sete)
Construído em 1931, o prédio se apresenta como um transatlântico atracado na praça. Com suas linhas e curvas futuristas, o Cine Theatro foi precursor dos primeiros arranha-céus na cidade.

Pirulito (Praça Sete)
O obelisco em Homenagem ao Centenário da Independência foi inaugurado em 1924 e faz parte do conjunto de prédios com ares modernistas na Avenida Afonso Pena.

Edifício Acaiaca (Avenida Afonso Pena, 867)
Inaugurado em 1943, o edifício traz dois rostos indígenas com traços astecas, outra influência forte no estilo art déco. Lá já foi um grande centro comercial de BH.

Edifício Sulamérica e Sulacap
Concluídos em 1947, as construções faziam um “jogo urbanístico” com o Viaduto de Santa Tereza. Hoje, a visão foi comprometida por inúmeras descaracterizações.

Viaduto Santa Tereza (Região Central)
De 1929, o viaduto foi projetado pelo engenheiro modernista Emílio Baumgart.

Ed. Chagas Dória (Rua Sapucaí, 571)
Atual Fundação Municipal de Cultura, o prédio foi construído nos anos 30 e tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado em 1988.

Prefeitura Municipal (Avenida Afonso Pena, 1212)
Com projeto de Luís Signorelli, a construção da prefeitura foi realizada em 1935.

Palacete Dantas (Praça da Liberdade, 317)
De 1916, o palacete já abrigou durante anos a Secretaria de Estado de Cultura.

Minas Tênis Clube (Rua da Bahia, 2244)
A sede social do clube foi inaugurada em 1939.

Colégio Izabela Hendrix (Rua Espírito Santo, 2055)
Na entrada do edifício, há a inscrição do ano em que foi concluído: 1940. Elementos art decó estão presentes na sua fachada e internamente.

Palacete Jeha (Avenida Brasil, 1433)
De 1934, a construção é um dos exemplares mais bem conservados do estilo déco remanescentes na cidade. Hoje, abriga um escritório de advocacia.

Estilistas: pensadores da moda

Publicado no Jornal OTEMPO em 19/06/2011

TARCÍSIO D´ALMEIDA

A mesma inquietação que me impulsionou para o projeto no qual venho desenvolvendo, desde os anos 1990, uma série de entrevistas com intelectuais que pensam (ou pensaram) sobre a moda talvez sirva como uma possível explicação para o fato de que, mesmo em tímida expansão, estilistas estejam também se preocupando, refletindo e questionando o próprio campo de atuação deles, isto é, a moda sob prismas diversos. O resultado é percebido com a inclusão de profissionais formados em moda – quer seja em estilismo, em desenho de moda ou em design de moda – ou em áreas correlatas que se inserem em programas de pós-graduação de universidades prestigiadas para pesquisar o tema, o que me impulsionou a escrever esta coluna para homenagear tais profissionais que mesclam suas experiências criativas com as verves dos pensadores.

Portanto, temos quatro indícios iniciais: primeiramente, os estilistas autodidatas; em seguida, aqueles que estudaram moda na graduação; os demais com bacharelado em áreas afins; e, por último, os que pesquisaram na pós-graduação. Dito isso, a primeira que me vem à memória como um exemplo de autodidata é a italiana Maria Bianchi Prada, ou simplesmente Miuccia Prada. Muito antes de pensar em atuar no mundo da moda, Miuccia, que herdou do avô os negócios da família, estudou ciência política, foi militante do Partido Comunista italiano e se doutorou, no ano de 1978, também na mesma área, ou seja, distante do brilho e do glamour do mundo da moda. Ou seja, uma cientista política que não estudou moda, mas migrou para tal universo criativo.

Diferentemente dela, quatro nomes brasileiros ilustram outras realidades: a de egressos da área de moda, de comunicação e de artes; quer seja na graduação, quer seja tendo-a como tema de pesquisas na pós-graduação. A paulista Suzana Avelar graduou-se em desenho de moda pela Faculdade Santa Marcelina e, em seguida, obteve os títulos de mestre (com a pesquisa “A Comunicação da Moda na Era da Globalização”, em 2000) e de doutora em comunicação e semiótica (com a tese “Moda: entre Arte e Cultura”, em 2005), ambas pela PUC-SP.

Atualmente, é professora do curso têxtil e moda da USP. Com ela, temos o hibridismo de criadora e pesquisadora que, mesmo não atuando diretamente na indústria criativa da moda, tem contribuído com a mesma na academia.

O estilista carioca Mario Queiroz, que recentemente decidiu trocar a moda masculina pela feminina, graduou-se em comunicação social, jornalismo, pela UFF. Mas, em sua pesquisa de mestrado em comunicação e semiótica (intitulada “O Herói Desmascarado: Análise dos Editoriais de Moda da Arena Homme Plus”), defendida em 2008 na PUC-SP, onde está atualmente realizando o doutorado “A Imagem do Homem: Moda e Mídia na Construção do Masculino”, decidiu olhar academicamente para sua realidade profissional, isto é, a moda masculina e a transportou para a academia, na qual tem pesquisado a relação do homem com sua imagem e sua moda. É também professor do IED São Paulo.

Outros estilistas pensadores são os mineiros Gustavo Lins e Angélica Oliveira Adverse. Ele é arquiteto pela UFMG; autodidata único a desfilar na Semana de Moda Alta Costura de Paris; defendeu mestrado em 1989 na Universidade da Catalunha (Espanha) e é professor da Escola Nacional Superior de Artes Decorativas de Paris.

Ela, que sempre se questionou sobre a essência de sua formação, é a única brasileira vencedora das etapas nacional e internacional da extinta premiação Smirnoff International Fashion Awards; especialista em filosofia e, no início deste mês, defendeu seu mestrado em artes (com o título “Moda, Moderna Medida do Tempo”, a partir de frase homônima do filósofo Walter Benjamin), ambas titulações pela UFMG; além de ser professora da universidade Fumec.

Tarcísio D´Almeida é professor e pesquisador do curso design de moda da Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais (EBA-UFMG). Ele divide este espaço com Susanna Kahls e Jack Bianchi. (tarcisiodalmeida@eba.ufmg.br)

Pensadora da moda no Brasil

TARCISIO D´ALMEIDA

Publicado no Jornal OTEMPO em 29/05/2011

Lendo o discurso que proferiu na cerimônia de outorga do título de professora emérita da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, no ano de 1999, do qual fui espectador e que a revista “Cult” acaba de publicar (n° 157), percebi o compromisso de escrever estas breves linhas para celebrar a memória e o legado de Gilda de Mello e Souza (1919-2005), nossa primeira pensadora de moda no Brasil.

A moda e sua reflexão intelectual nas arenas acadêmicas brasileiras têm em Gilda seu marco histórico inicial. Seu pioneirismo resultou, no ano de 1950, na defesa da primeira tese de doutorado no país, junto ao Departamento de Sociologia da USP, sob a orientação do antropólogo francês Roger Bastide, intitulada “A Moda no Século XIX” e que teve como objeto de estudo, portanto, a moda da alta costura. Desbravou terrenos e lutou contra preconceitos na academia. O olhar da pesquisadora se debruçou sobre a força estético-criativa da alta-costura, uma vez que, somente dez anos depois, iniciar-se-ia a nova maneira de se criar e produzir desejos no mundo da moda, com o prêt-à-porter.

De maneira que podemos afirmar, com plena certeza, que não houve no Brasil nenhuma pesquisa anterior à de Gilda, ao menos com o rigor do ritual universitário. A oposição a tal afirmação advém da defesa, exatos dois anos antes de Gilda, ou seja, em 1948, do estudo do semiólogo francês Algirdas de Julien Greimas, que submeteu sua tese de doutorado “La Mode en 1830” à Universidade de Paris V, Sorbonne. Mas a pesquisa de Greimas, ainda inédita em língua portuguesa, foi defendida na França e, não, no Brasil.

Coincidentemente, com o intervalo de dois anos, agora mais tarde, a tese de Gilda ganha sua primeira versão impressa pela “Revista do Museu Paulista”, que a publicou na íntegra em 1952. Somente no ano de 1987, ganhou edição em livro, com a adição ao título da expressão “O Espírito das Roupas”, a partir do pensamento proposto pelo escritor Thomas Carlyle, no livro “Sartor Resartus”.

Mas ela não se contentou com seu estudo do doutorado. Em 1995, retomou seu interesse pela moda e publicou, na revista “Novos Estudos Cebrap”, o artigo “Macedo, Alencar, Machado e as Roupas”, sobre a presença e a descrição de vestimentas em personagens nas obras desses três escritores da nossa literatura.

Com Gilda, aprendemos a perceber e pensar as sensibilidades, sutilezas e entrelinhas da moda com outras áreas, como a literatura, a fotografia, as artes plásticas e a estética, por exemplo. Os relatos de costumes observados por escritores no fim do século XIX, os quadros de pintores e as gravuras de moda são ricos e nos ajudam a compreender, através das crônicas e romances das revistas e jornais da época, estilos, comportamentos e atitudes nas constituições das sociedades.

Essas observações estavam muito bem esquadrinhadas quando Gilda se predispôs a pesquisar o tema e direcionou seu olhar intelectual sobre o entendimento da “Moda como Arte”, “O Antagonismo”, entre vestimentas para mulheres e homens, “A Cultura Feminina”, “A Luta das Classes”, “O Mito da Borralheira”, e também sobre “O Gesto, a Atitude, a Roupa” (como títulos para os capítulos de sua tese).

A partir dela, começou a se esboçar o embrião para o que compreendemos, na atualidade, como comunidade de pesquisadores brasileiros de moda. E é graças a ela que atualmente podemos assistir a um crescente interesse pelo consumo intelectual de moda no Brasil, que se expande a cada década, e de uma geração histórica pós-Gilda, com suas produções que versam e aplicam seus instrumentais teóricos na análise e reflexão da moda.

Tarcisio D´Almeida é professor e pesquisador do curso design de moda da Escola de Belas Artes, da Universidade Federal de Minas Gerais (EBA-UFMG). Ele divide este espaço com Susanna Kahls e Jack Bianchi.

A androginia está em alta no mundo da moda

Publicado no Jornal OTEMPO em 12/06/2011

Unir as porções homem e mulher em um único ser não é nenhuma novidade. Platão, em seu “O Banquete”, conta que Zeus, querendo conter a sede pelo poder, cortou ao meio os andróginos (do grego andrós, aquele que fecunda; e guynaikós, fêmea).

Na música, a androginia ganhou visibilidade com nomes como Boy George, David Bowie e Sinead O’Connor, enquanto, no Brasil, Gilberto Gil e Pepeu Gomes cantavam suas porções femininas ainda nos anos 70.

Em meio à temporada de moda carioca, que aconteceu na última semana, o Pandora perguntou: “o que você mais gosta e mais odeia no seu lado feminino (para eles) e no seu lado masculino (para elas). (SB)