Em tese pioneira, professor da EBA aborda a relação entre moda e modernidade com base nas ideias de aparência e de gosto
“É possível
pensar sobre a moda?” Esse foi o questionamento que motivou o
professor Tarcisio D’Almeida, do curso de Design de Moda da Escola de
Belas Artes, a empreender sua pesquisa de doutorado, defendida no fim do
ano passado na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da
USP. Em As roupas e o tempo: uma filosofia da moda, o professor
explora reflexões suscitadas pela moda e traça um histórico do que foi
produzido por pensadores acerca do tema, ao longo dos séculos.
Sob orientação da filósofa Olgária Matos, Tarcisio guiou-se
pela ideia que associa moda à produção estética e visitou as obras de
filósofos como Montaigne, Montesquieu, Rousseau, Kant e Hegel para
perceber como surgiu a relação da moda e da pulsão pelo vestuário com as
noções de futilidade, efemeridade e frivolidade. O autor se aproxima
também do pensamento de intelectuais como Walter Benjamin e Theodor
Adorno para abordar a relação simbiótica entre a moda e a modernidade
com base nas noções de aparência e de gosto.
“Ao nascer, a moda já preconiza a sua própria morte, por isso o eixo
condutor da tese foi o tempo. O objetivo foi perceber como o homem, na
evolução dos séculos, comportou-se em relação às roupas e à moda”,
explica o professor. Ao alcançar os períodos da modernidade e da
contemporaneidade, Tarcisio dedica-se à relação da moda com a cultura e
com o consumo, apoiado em nomes como Lipovetsky e Baudrillard.
Leis suntuárias Na tese, o professor trata a filosofia da moda entre os conceitos de literatura, arte, estética e fetichização de mercadorias sob perspectivas benjaminiana e frankfurtiana. Tarcisio relembra a criação das leis suntuárias, vigentes na Europa durante a Idade Média e no começo da Idade Moderna, para ilustrar como a pulsão pelo vestuário marca as sociedades há séculos. “Montaigne e Montesquieu produziram reflexões sobre as leis suntuárias, criadas para impedir a burguesia de copiar a estética indumentária da nobreza. Foi uma reação às primeiras tentativas de pessoas de classes inferiores se aproximarem esteticamente das classes superiores. A partir daí, as ideias de frivolidade e futilidade passaram a ser comumente associadas à moda”, diz Tarcisio.
Na conclusão do trabalho, o pesquisador aborda a aculturalidade da
moda, que, por vezes, tira partido de apropriações indevidas, esvaziando
patrimônios culturais de seu valor original. Como exemplo, ele cita a
controvérsia em que a grife francesa Dior se envolveu, em 2017, ao
copiar um colete bordado por artesãs romenas no distrito de Bihor – sem
dar crédito nem remunerar a comunidade local – e comercializá-lo por 30
mil euros. Em resposta, as artesãs criaram a marca Bihor Couture, que
brinca com o nome da grife e dá destaque ao artesanato romeno.
Essa história, segundo Tarcisio, mostra os limites entre o que a moda
produz como cultura e a forma como ela se aproxima do acultural ao
apropriar-se das raízes de um povo com finalidade comercial: “É possível
pensar a moda contemporânea como um acontecimento que, por meio de
práticas abusivas do mercado orientado pelo neoliberalismo econômico,
‘obriga’ o criador a oscilar entre a adequação do processo criativo em
busca de traços culturais e o alinhamento à demanda exorbitante do
mercado.”
Pioneirismo A tese defendida por Tarcisio
D’Almeida é um marco na pós-graduação em Filosofia na USP, pois foi a
primeira que tem a moda como tema. O pioneirismo também
marcou sua dissertação de mestrado, Das passarelas às páginas: um olhar
sobre o jornalismo de moda, defendida em 2006, no Programa de
Pós-graduação em Ciências da Comunicação da USP. Foi a primeira
desenvolvida na universidade paulista sobre jornalismo de moda.
A tese do professor mantém estreita relação com o livro Moda em
diálogos: entrevistas com pensadores, publicado em 2012. A obra é
resultado de projeto desenvolvido desde a década de 1990 pelo
pesquisador, que dialoga com referências contemporâneas sobre a moda
como objeto de reflexão.
A Prefeitura de Belo Horizonte, por meio da Fundação Municipal de Cultura (FMC), criou o Centro de Referência da Moda de Belo Horizonte, na esquina da Rua da Bahia com a Avenida Augusto de Lima. Segundo o presidente da FMC, Leônidas Oliveira, o objetivo do novo espaço é traduzir a cultura, o estilo e os costumes dos habitantes da capital mineira, em diferentes épocas.
O Centro de Referência da Moda reunirá um amplo e diversificado acervo, desde luxuosos vestidos de gala, fraques e finas lingeries, até extravagantes chapéus, trousses, luvas e outros acessórios, itens vindos da Coleção Vestuário do Museu Histórico Abílio Barreto (MHAB). “Com mais esta iniciativa, a Fundação Municipal de Cultura tem planos de mobilizar o mundo da moda em BH, promovendo debates, estudos, desfiles, exposições, seminários e cursos, muitos deles destinados à população de baixa renda, com o objetivo de formar mão-de-obra especializada para as confecções”, detalha Leônidas, sobre os benefícios que o novo espaço trará para a cidade.
A coordenação geral do Centro de Referência da Moda de BH ficará a cargo de Marília Salgado. Segundo ela, o espaço irá centralizar várias ações de apoio a estudantes universitários de moda, professores, estilistas, profissionais do comércio, indústria e comunidade em geral. “A moda hoje é pensada não como futilidade, mas como fenômeno sociocultural, capaz de nos dar informações preciosas sobre os costumes de uma época e de um povo, além de movimentar a economia de um país”, completa.
Localização privilegiada
O Centro de Referência da Moda de Belo Horizonte irá ocupar uma das mais belas edificações da cidade, localizado na esquina da Rua da Bahia com a Avenida Augusto de Lima. O prédio neogótico, em estilo manuelino, foi construído em 1914 e, em seus quase cem anos de existência, sediou importantes instituições histórico-culturais de Belo Horizonte, como o Conselho Deliberativo da Capital, a Biblioteca Municipal, a primeira rádio da cidade (PRC-7, Rádio Mineira), as aulas inaugurais da Escola de Arquitetura da UFMG, a Câmara Municipal, o Museu de Mineralogia Professor Djalma Guimarães, o Museu da Força Expedicionária Brasileira e, mais recentemente, o Centro de Cultura Belo Horizonte.
O edifício é tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (IEPHA- MG) e pelo Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural do Município de Belo Horizonte.
Exposição: A Fala das Roupas
Uma amostra do acervo do Centro de Referência da Moda de Belo Horizonte será apresentada ao público na exposição “A Fala das Roupas”. Entre as peças expostas, destacam-se um robe du jour (vestido do dia), de 1873, usado pela noiva para tomar o café da manhã com o marido no dia seguinte ao casamento; um vestido feito para a festa de comemoração da Revolução de 1930; um vestido confeccionado pelo conhecido estilista mineiro Marquito; lingeries de seda bordadas; caixa de trabalho de mascate, especialista no comércio de joias e bijuterias; belos vestidos de gala, chapéus, luvas, fraque e uniformes da Guarda Nacional.
Mais informações: CR[Moda] – (31) 3277-4384
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BH INAUGURA OFICIALMENTE SEU CENTRO DE REFERÊNCIA DA MODA
Exposição de peças antigas e seminário marcam abertura do novo espaço, que pretende mobilizar o setor na capital mineira
Belo Horizonte ganha oficialmente na segunda-feira, dia 26, seu Centro de O Centro de Referência da Moda reunirá um amplo e diversificado acervo, que inclui desde luxuosos vestidos de gala, fraques e finas lingeries até extravagantes chapéus, trousses, luvas e outros acessórios, itens vindos da Coleção Vestuário do Museu Histórico Abílio Barreto (MHAB). “A Fundação Municipal de Cultura tem planos de mobilizar o mundo da moda em BH, promovendo debates, estudos, desfiles, exposições, seminários e cursos, muitos deles destinados à população de baixa renda, com o objetivo de formar mão de obra especializada para as confecções”, disse Leônidas Oliveira, presidente da FMC, sobre os benefícios que o novo espaço trará para a cidade.Referência de Moda, espaço que pretende traduzir a cultura, o estilo e os costumes dos habitantes da capital mineira em diferentes épocas. O centro será inaugurado oficialmente pela Prefeitura de Belo Horizonte, por meio da Fundação Municipal de Cultura (FMC) e vai funcionar na esquina da rua da Bahia com a avenida Augusto de Lima, no Centro de Cultura de Belo Horizonte (rua da Bahia, 1.149, Centro). Nos primeiros dias, inclusive, o centro vai receber uma exposição e promoverá um seminário.A coordenação geral do Centro de Referência da Moda de BH ficará a cargo de Marília Salgado. Segundo ela, o espaço irá centralizar várias ações de apoio a estudantes universitários de moda, professores, estilistas, profissionais do comércio, indústria e comunidade em geral. “A moda hoje é pensada não como futilidade, mas como fenômeno sociocultural, capaz de nos dar informações preciosas sobre os costumes de uma época e de um povo, além de movimentar a economia de um país”, completa.
O Centro de Referência da Moda irá ocupar uma das mais belas edificações da cidade. O prédio neogótico, em estilo manuelino, foi construído em 1914 e, em seus quase cem anos de existência, sediou importantes instituições histórico-culturais da capital, como o Conselho Deliberativo da Capital, a Biblioteca Municipal, a primeira rádio da cidade (PRC-7, Rádio Mineira), as aulas inaugurais da Escola de Arquitetura da UFMG, a Câmara Municipal, o Museu de Mineralogia Professor Djalma Guimarães, o Museu da Força Expedicionária Brasileira e, mais recentemente, o Centro de Cultura Belo Horizonte.
O edifício é tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (IEPHA- MG) e pelo Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural do Município de Belo Horizonte.
Exposição “A Fala das Roupas”
Uma amostra do acervo do Centro de Referência da Moda de Belo Horizonte será apresentada ao público na exposição “A Fala das Roupas”. Entre as peças expostas, destacam-se um robe du jour (vestido do dia), de 1873, usado pela noiva para tomar o café da manhã com o marido no dia seguinte ao casamento, um vestido feito para a festa de comemoração da Revolução de 1930, um vestido confeccionado pelo conhecido estilista mineiro Marquito, lingeries de seda bordadas, caixa de trabalho de mascate, especialista no comércio de joias e bijuterias, belos vestidos de gala, chapéus, luvas, fraque e uniformes da Guarda Nacional.
I Seminário do Centro de Referência da Moda
Entre terça e quinta, dias 27 e 29, o Centro de Referência da Moda de BH promove o seu primeiro seminário, com três dias dedicados aos temas: “Memória, Negócios da Moda e Criação e Desenvolvimento”. O evento acontece na sede do BDMG (rua da Bahia, 1.600) e contará com a participação de palestrantes renomados, como João Braga (historiador de moda), Maria Prata (diretora de redação da Harper’s Bazaar Brasil), Astrid Façanha (professora da Faculdade Santa Marcelina e gerente geral da Netshoes), Maria Tereza Leal (fundadora da Coopa-Roca), Vera Lima (criadora do acervo de moda do Museu Histórico Nacional), Mary Arantes (da Mary Design) e Tereza Santos (estilista mineira).
As inscrições para o seminário são gratuitas e podem ser feitas pessoalmente ou pelos telefones 3277-4384 e 3277-9248 no próprio Centro de Referência da Moda e também no MHAB (avenida Prudente de Morais, 202, Cidade Jardim). As inscrições também poderão ser feitas durante os três dias do evento, desde que o interessado chegue com a antecedência mínima de uma hora e meia no BDMG. Veja abaixo a programação do seminário, que será mediado por Carla Mendonça.
• Dia 27, das 14h às 19h, com o tema “Memória”
Vera Lima: O acervo de trajes do Museu Histórico Nacional
João Braga: Visão da História da Moda brasileira no período de 1897 a 1980
Soraya Coppola: Restauração e conservação de tecidos e trajes
• Dia 28, das 14h às 19h, com o tema “Negócios da Moda”
Terezinha Santos e Tereza Cristina Hohs: Negócios da moda
Omar Hamdam: Fashion City – o novo empreendimento da Moda
Maria Tereza Leal: Coopa-Roca, uma cooperativa vitoriosa
Astrid Façanha: O futuro das lojas físicas em vista do desenvolvimento das lojas virtuais
• Dia 29, das 9h às 12h50, com o tema “Criação e Desenvolvimento”
Mary Arantes: A Poesia da criação
Andrea Marques: Tendências não são imposições; como pensar a cartela de cores, as estampas e a silhueta de cada estação
Maria Prata : O papel do passado na moda do futuro
As livrarias ganharam um novo título para discutir moda e cultura. Assinado pelo professor Tarcisio D’Almeida, Moda em Diálogos: Entrevistas com Pensadores é composto por sete longas entrevistas com pensadores do meio – entre eles a historiadora americana e curadora do museu FIT (Fashion Institute of Technology), Valerie Steele, o filósofo francês e autor do clássico O império do efêmero, Gilles Lipovetsky e o embaixador da marca de joias H. Stern, Christian Hallot, único brasileiro da seleção. Completam a lista: os antropólogos Massimo Canevacci e Ted Polhemus, a socióloga Diana Crane, e o presidente da Federação Francesa da Costura, do Prêt-à-porter, dos Costureiros e dos Criadores de Moda, Didier Grumbach.
D’Almeida conta que escolheu os entrevistados a dedo. “São todos profissionais que admiro há muito tempo e que seguem praticamente a mesma linha de pensamento que eu”. Mesmo assim, o professor não nega que tenha suas preferências entre os intelectuais. “Sou fã do papo com Valerie, uma mulher que sabe mesclar psicologia com moda muito bem e tem referências ótimas. E com Lipovetsky, que tem uma maneira muito objetiva de pensar e conta com bagagem histórica enorme, mas consegue pensar moda no cenário contemporâneo como poucos”, diz.
Professor da Universidade Federal de Minas Gerais, ele diz ainda que a parte mais trabalhosa – e também a mais importante – ao reunir um material como esse está na hora de fazer as entrevistas. “É preciso se inteirar no assunto, ler o máximo possível sobre ele e sobre a fonte, para que os assuntos rendam. Se o entrevistado for um intelectual, então, a responsabilidade é dobrada”. Ele ainda dá sua recomendação para quem quer ser jornalista ou crítico de moda. “Costumo dizer que moda pela moda é empobrecida, ela precisa ser entendida como patrimônio cultural, que agrega assuntos como arte, música, teatro e cinema. Portanto, entender sua história e seu percurso é essencial, mas também ampliar as conexões, fazer links com os mais diversos temas”.
Publicado pela Memória Visual, Moda em Diálogos é o primeiro livro do autor, que já pensa em novos projetos. “Quero escrever o segundo volume do Moda em Diálogos e um outro em que as fontes serão os criadores. Vou mesclar estilistas, diretores de criação, maquiadores, fotógrafos e stylists, sempre brasileiros e estrangeiros, porque é assim que vejo a moda: sem fronteiras”, define.
Moda em Diálogos: Entrevistas com Pensadores
Tarcísio D’Almeida
Editora Memória Visual
140 páginas, R$ 30
www.memoriavisual.com.br
Aplicativo do museu pode ser baixado na internet e usa tecnologia 3D para mostrar a história de seu trabalho
São Paulo – Pela primeira vez, um estilista de fama internacional abre seus desenhos e criações na internet. Valentino Garavani, em parceria com Giancarlo Giammetti, lançou hoje o “Valentino Garavani Virtual Museum”, um aplicativo online que traz os melhores trabalhos feitos durante seus 50 anos de carreira.
O museu demorou mais de dois anos para ficar pronto e não contou com patrocinadores, a não ser o próprio estilista e Giammetti. Já disponível online, o espaço virtual mostra os detalhes de mais de 300 vestidos, que podem ser vistos em 360 graus. Isso é possível porque as galerias foram projetadas com tecnologia 3D, em que o usuário pode “caminhar” pelos corredores e ver tudo como se estivesse em um espaço físico real.
Além dos vestidos, há ainda 95 vídeos e mais de 5.000 fotos, desenhos, documentos e campanhas publicitárias, tudo acompanhado com explicações e o histórico dos modelos. Para aproximar ainda mais o internauta da realidade, os espaços são decorados pela arquitetura romana. Se fosse instalado em um prédio real, o “Valentino Garavani Virtual Museum” teria cerca de 10.000 metros quadrados.
Na coletiva de imprensa realizada para o lançamento do museu, Valentino, aposentado desde 2008, disse que, apesar de precisar de ajuda até mesmo para ligar um aparelho de DVD, pouco a pouco, mudou seu pensamento e começou a ficar fascinado pelo mundo virtual. Hoje, reconhece que esse museu pode ser uma ligação mais simples e rápida com as pessoas.
Ele ainda deixou um recado para quem se interessa e estuda moda. “Eu sei que há muitos estudantes de moda nos assistindo agora e eu espero que vocês gostem do museu, como eu gosto agora”. O aplicativo é gratuito e pode ser baixado no site do estilista.
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Reportagens transmitidas pela TV fechada
Valentino completa 50 anos de carreira e lança museu virtual de moda
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Valentino completa 80 anos nesta sexta-feira (11-05-2012)
Entre fins de setembro e início de outubro do ano passado, o Museu Histórico Abílio Barreto recebeu cerca de 400 peças antigas que dão o pontapé inicial para mudanças importantes, tanto no que diz respeito às políticas de acervo da instituição quanto, numa perspectiva mais abrangente, à memória da cidade.
São peças que impulsionam a formação de um futuro museu de moda em Belo Horizonte, capaz de remontar, com objetos e trajes do passado, hábitos, costumes e modos de comportamento da sociedade desde a época do Curral Del Rey.
Essa mudança gradativa em direção a um acervo mais substancioso que possa retratar uma história da moda no Estado está sendo tratada com entusiasmo pela equipe técnica do museu e por profissionais relacionados ao mercado de moda. Afinal, é o início de uma história que pode corrigir um certo atraso do país em relação à preservação dessas peças frágeis e de miudezas aparentemente banais da vida cotidiana e doméstica, tais como a indumentária, as joias e os acessórios.
As peças doadas pertenciam à coleção privada do museólogo Luís Augusto de Lima, bisneto do ex-governador do Estado Augusto de Lima, que promoveu a mudança da capital mineira de Ouro Preto para Belo Horizonte. Num futuro próximo, serão exibidas publicamente em formato de exposições temáticas.
Segundo o diretor do museu histórico, Leônidas Oliveira, o acervo doado está em fase de pesquisa técnica-histórica e de catalogação. A programação prevê para março do próximo ano a abertura de uma segunda exposição relacionada à história da moda, já que a primeira está em cartaz e traz lingeries de 1890 a 1990, peças que vieram do acervo da instituição e de coleções privadas, como a do curador Domingos Mazzilli.
Para a professora do curso de design da moda da Fumec, Angélica Adverse, acervos têxteis como esse nos ajudam a perceber a forma como as roupas permeiam a vida individual e coletiva. “Por meio desse acervo, cria-se uma consciência do que é narrado pelos objetos cotidianos. O próprio Abílio Barreto intentava colecionar objetos cotidianos que pudessem apresentar a nossa história cultural. Os objetos são memórias de hábitos e estilos de vida, assim como do nosso comportamento de consumo em diferentes momentos do passado”, aponta.
Para Mazzilli, faltava à cidade uma instituição capaz de fazer o entremeio entre a vontade política e a memorabilia, a tradição e os guardados que são passados através das gerações. “Acho importantíssimo esses espaços que guardam a memória coletiva, não tanto do grande feito histórico, mas do objeto cotidiano, miúdo, banal. Penso que o museu da moda é importante pois a moda é algo muito poderoso por tudo que ela remete, seja ao tempo, ao obsoletismo, à cultura”, defende.
A doação de objetos como revistas, luvas, chapéus, fotografias, etiquetas de roupa e peças de vestuário partiu do desejo de Luís de tornar público seus guardados familiares. Entre as peças doadas, destaque para o penhoar pertencente ao enxoval de casamento, em 1941, de Ephigênia Carsalade Villela, mãe do museólogo. “Ele foi comprado com uma senhora do Rio de Janeiro, madame Geny, que adquiria em Hollywood peças dos figurinos dos filmes e vendia aqui”, revela.
Do público ao Privado. O desapego de Luís em ceder à instituição pública parte de sua coleção familiar acabou se transformando também num incentivo para que outras pessoas, de famílias tradicionais da capital, fizessem o mesmo. É o caso de Marília Salgado, filha de Lia e Clóvis Salgado. Objetos pessoais e documentos dos seus pais já compõem o acervo do museu histórico, mas restam ainda algumas peças especiais que pertenciam à sua bisavó e à sua mãe, como, por exemplo, um vestido encomendado e costurado a mão que a bisavó de Marília usou na festa em celebração à Revolução de 1930.
Outra peça é o “rob de jeur”, vestido que ela usou somente uma vez, na manhã seguinte ao seu casamento, por volta de 1878. “Para quê vou deixá-las sobre o armário de um quarto se as peças podem ser expostas e vistas por muitas pessoas?”, pergunta-se Marília Salgado.
-19.863204-43.959736
Biblioteca "Professor Marcello de Vasconcellos Coelho" da Escola de Belas Artes da UFMG