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Artistas reclamam de reformas demoradas e descaso com teatros municipais e espaços públicos

Carolina Braga

Atores são voz mais forte entre os insatisfeitos com atrasos e reformulações em projetos

É fato que há tempos a classe teatral vive na base do “ver para crer”. De todo modo, a Fundação Municipal de Cultura (FMC) promete para dezembro a reinauguração dos dois teatros municipais inoperantes na cidade. Se a novela do Francisco Nunes se arrasta há mais de quatro anos, nas próximas semanas o Teatro Marília será oficialmente fechado para as obras de revitalização. “No Marília o prazo é menor, porque não vai ter quebradeira”, explica o assessor especial da Presidência da FMC, Cássio Pinheiro. Ele garante que, desta vez, o prazo será cumprido.

Apesar da promessa, o clima ainda é de desconfiança. “É vergonhoso o descaso com esses espaços e é vergonhoso o ponto a que chegamos. Uma cidade como BH, umas das principais capitais do país, que é reconhecida culturalmente em todo o Brasil, estar com dois de seus principais teatros fechados”, lamenta oator Jonnanthan Horta Flores, integrante do Grupo Oficcina Multimédia.

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A obra no Teatro Francisco Nunes, fechado desde abril de 2009, começou efetivamente em maio deste ano. Desde então, a área dentro do Parque Municipal está cercada por tapumes. Com o custo estimado em R$ 10 milhões, a reforma é tocada por meio de recursos do convênio Adote um bem cultural, assinado entre a PBH e uma empresa privada de serviços de saúde. Segundo a patrocinadora da obra, a reinauguração será em janeiro de 2014. O projeto arquitetônico leva a assinatura de Raul Belém Machado e prevê o restauro e modernização da caixa acústica, instalação de novas cadeiras, sistema de ar-condicionado e novo tratamento acústico. O foyer ganhará pé-direito duplo, com única entrada central e espaço para exposições.

Já no Teatro Marília a reforma tem custo estimado de R$ 2 milhões, também a serem repassados por empreiteiras via convênio com a prefeitura da capital. O projeto inclui reestruturação, modernização e revitalização do espaço. O foco principal é a área de palco e plateia, embora a fachada também passará por mudanças. “É um teatro que se mantém sem alterações desde 1964. Mesmo com as reformas que recebeu ao longo dos anos, está ultrapassado do ponto de vista de iluminotécnica e maquinário. Estamos buscando a modernização justamente para esta parte”, explica Cássio.

O projeto assinado pela arquiteta Michelle Ziade prevê mudanças na rampa de acesso ao teatro, assim como a abertura de novas saídas de emergência. No canto direito da sala de espetáculos será aberto um corredor, tanto para a entrada de cenários como para escoamento de público. Dentro do espaço, além da recuperação acústica, da troca de cadeiras e do revestimento do palco em madeira de ipê florestal, o balcão será reativado. Com isso, a capacidade do Marília saltará de 180 para cerca de 200 lugares.

O foyer da casa de espetáculos também será readequado. A área administrativa será reduzida para dar um espaço a ser ocupado com exposições e um centro de memória do teatro. No mezanino, a ideia é reinaugurar o Stage Door, bar que fez parte dos tempos áureos do Marília.

Estado precário

De acordo com Cássio Pinheiro, a programação do teatro foi suspensa em março. “Quando assumimos, em setembro, fizemos uma avaliação e a parte elétrica estava em péssimas condições. Fizemos uma ação emergencial para garantir a agenda da Campanha de Popularização do Teatro e do Verão Arte Contemporânea”, conta. Desde então, o palco passou a ser visitado por profissionais de várias áreas.

Os laudos confirmaram o estado precário da parte elétrica e também a presença de cupins na área das varandas do maquinário. Embora a madeira do palco não esteja infestada, encontra-se empenada. “Na última reforma foi usada madeira verde no piso do palco. Estava lindo, mas empenou. Por causa disso, você não roda nenhum cenário nem consegue montar espetáculo de balé”, informa Cássio Pinheiro. Segundo ele, além do novo revestimento, a caixa cênica será equipada com 180 novos refletores.

A previsão é de que o termo da parceria entre a prefeitura e as empreiteiras que patrocinam o projeto, e que serão responsáveis pela obra, seja assinado ainda esta semana. Apenas depois de formalizado o convênio, as obras começarão efetivamente.

Emperrado
O imbróglio envolvendo o Teatro Clara Nunes continua. O espaço de responsabilidade da Imprensa Oficial, ligada ao governo do estado, será reformado pelo Sesc, que deverá administrar o local. A parceria foi anunciada oficialmente em março. O convênio, no entanto, ainda aguarda o parecer do departamento jurídico. Até lá, está tudo parado.

Fecha e não abre

Abril 2009 – O Teatro Francisco Nunes é interditado em 3 de abril por risco de desmoronamento do teto.

Maio 2012 – O Chico Nunes reabre temporariamente e em situação precária para apresentações do Festival de Arte Negra e do FIT-BH. Concluída apenas a reforma do teto.

Junho 2012 – Apresentações do FIT-BH agendadas para o Teatro Marília tiveram que ser transferidas pelos riscos oferecidos pelo espaço. Prefeitura anuncia convênio de R$ 10 milhões com empresa privada de saúde para reforma do Francisco Nunes.

Março 2013 – Governo de Minas anuncia parceria com o Sesc para reforma do Teatro Clara Nunes. Convênio aguarda apreciação do departamento jurídico.

Maio 2013 – Início das obras no Teatro Francisco Nunes.

Julho 2013 – Anunciado convênio para a reforma do Teatro Marília. Serão investidos R$ 2 milhões por meio do convênio Adote um bem cultural, assinado com empreiteiras.

Novos Artistas Mineiros na Funarte MG

Universo feminino está presente em dois dos três espetáculos, que serão apresentados com entrada franca

"De Perfumes e Sonhos" Foto: Daniel Protzner

De 1º a 6 de julho, a Funarte MG recebe a Mostra de Trabalhos da Graduação em Teatro da Escola de Belas Artes (EBA) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). A programação é composta pelas peças “Exercício para Pedro e Joaquim”, do formando João Filho; “De Perfumes & Sonhos”, da formanda Fabiana Loyola; e “As Rozas Falam”, de Roza Maria de Oliveira.

No espetáculo “Exercício para Pedro e Joaquim”, João Filho propõe um exercício cênico livre, inspirado na poesia de Manoel de Barros, no qual os personagens, por meio de suas memórias e retornos, constroem seus brinquedos no espaço infinito.

“De Perfumes & Sonhos” propõe uma reflexão sobre o caminho percorrido pelas três integrantes do elenco – uma atriz, uma cantora e uma bailarina –, e destaca a expressão de cada uma em sua área de domínio, em diálogo com a linguagem cênica.  O desafio do trabalho foi encontrar um ponto em comum entre as três artistas e a busca por uma metodologia de ensino, onde os potenciais de cada uma se tornassem integrados e orgânicos. A peça foi baseada no livro “Mulheres que correm com os lobos”, no qual predomina a temática do feminino.

O universo feminino também norteia o espetáculo “As Rozas Falam”. O trabalho propõe uma reflexão sobre a condição das mulheres, por meio de depoimentos que foram transformados em material dramatúrgico. A montagem tem como base a Mímesis Corpórea – metodologia desenvolvida pelo LUME (Núcleo Interdisciplinar de Pesquisas Teatrais da Unicamp) –, usada como diretriz para a seleção de mulheres e relatos reais, posteriormente teatralizados e aplicados à experimentação cênica a partir de improvisações. A peça foi baseada em uma pesquisa com mulheres sobreviventes de violência física, participantes, principalmente, do Grupo Bem-Me-Quero.

Mostra de Trabalhos da Graduação em Teatro da Escola de Belas Artes (EBA)

“Exercício para Pedro e Joaquim”

1º de julho (sexta), às 19h
2 de julho (sábado), às 18h

Entrada franca (Distribuição de senhas no local uma hora antes do espetáculo)
Classificação: Livre
Duração: 40 minutos
Ficha Técnica
Direção: Joaquim Elias
Dramaturgia: João Filho
Com Francis Severino e João Filho

“De Perfumes & Sonhos”

1º e 2 de julho, (sexta e sábado), às 20h
3 de julho (domingo), às 19h

Entrada franca (Distribuição de senhas no local uma hora antes do espetáculo)
Classificação: 14 anos
Duração: 40 minutos
Ficha Técnica
Direção, coreografia e textos: Rosa Antuña
Com Eliatrice Guichewsky, Fabiana Loyola e Luísa Bahia

“As Rozas Falam”

4, 5 e 6 de julho (segunda, terça e quarta), às 20 horas
Entrada franca (Distribuição de senhas no local uma hora antes do espetáculo)
Classificação: Desaconselhável para menores de 12 anos
Duração: 1h
Ficha Técnica
Direção: Letícia Castilho
Concepção e dramaturgia: Roza Maria, Edna Rodrigues & Letícia Castilho
Com Roza Maria, Edna Rodrigues

Local: Funarte MG
Rua Januária, 68 – Floresta
Belo Horizonte (MG)
(31) 3213-3084

http://www.funarte.gov.br/teatro/novos-artistas-mineiros-na-funarte-mg/

Confira abaixo a programação da mostra

Multiplicidade molda a identidade do teatro brasileiro contemporâneo, reflete Mariana Muniz

quarta-feira, 29 de julho de 2009, às 10h03

É difícil definir o teatro brasileiro, mas a multiplicidade de suas manifestações define seu perfil atual. Essa é, sinteticamente, a percepção da professora da Escola de Belas-Artes Mariana Muniz, sobre uma das áreas que mais experimentou a interdisciplinaridade em sua conformação. Coordenadora de Artes Cênicas do 41º Festival de Inverno da UFMG, Muniz, cuja atuação profissional e interesses acadêmicos voltam-se especialmente para o teatro do gesto e a improvisação, destaca, em entrevista, experiências da criação em seu campo.

Como o tema Traduções foi apropriado pelas artes cênicas no Festival?

As artes cênicas são, sem dúvida, o lugar em que a tradução entre as diversas linguagens se dá de uma maneira essencial ao próprio desenvolvimento da arte. Em um espetáculo cênico, convivem várias linguagens, desde a literária, passando pela musical e também a visual. Desde sua origem, a área trabalha em um contexto polifônico, com diversas vozes e artes que se conjugam na construção do espetáculo cênico. Por isso, para o Festival de Inverno não foi difícil pensar em algo nessa linha. Além disso, procurei centrar em um trabalho elaborado nos últimos sete anos, sobre a relação entre o espetáculo e o texto teatral. Esse vínculo possui um percurso histórico de reelaboração e desconstrução desde os movimentos de vanguarda do século XX. No século XXI, já existem grupos que fazem a sua própria dramaturgia, mas também há permanência de escritores e dramaturgos que escrevem em seus escritórios e os dois tipos de texto podem ser levados à cena. Esse foi o foco que gerou as oficinas.

Quais afinidades apontaria haver entre as oficinas?

A dramaturgia e a encenação, ou seja, como essas duas linhas, essas duas pontes técnicas se comunicam em um coletivo criador. Ao mesmo tempo em que o espetáculo vai se construindo, o ator necessariamente precisa elaborar suas escolhas, os meios expressivos para trabalhar. Essas escolhas induzem um percurso dramatúrgico. O foco das oficinas é esse: o ator como criador do material cênico e como ele se articula nessa construção dramatúrgica e cênica do espetáculo ou da performance.

Como você define o teatro brasileiro atual?

A multiplicidade. É muito difícil definir o teatro brasileiro. É normal relacioná-lo aos grandes centros, que são o Rio de Janeiro e São Paulo. Por isso, há de se pensar que não se tem acesso fácil ao que é produzido longe dessas cidades. O que existe hoje é um teatro múltiplo, até mesmo pelas várias modalidades de criação, como também há experimentações diversas, como a performance e a instalação cênica, por exemplo. Esse teatro múltiplo atende a variados públicos e, de alguma forma, sempre se reinventa. Outra característica muito forte do teatro atual é a presença expressiva dos coletivos teatrais, qualidade do teatro brasileiro e latino-americano. Isso se relaciona com estratégias de sobrevivência de um espetáculo, ou seja, como dar continuidade a um projeto artístico no universo do patrocínio brasileiro. Justamente por essas condições externas, ou seja, não estão ligadas ao processo artístico, mas nele interferem, esse teatro é feito por meio do coletivo. E dentro dessa linha dos coletivos, maneiras, técnicas e procedimentos são descobertos na criação coletivizada. Por isso, o teatro dos coletivos é experimental e múltiplo.

(Assessoria de Imprensa do Festival de Inverno)

Disponível em: http://www.ufmg.br/online/arquivos/012577.shtml