Novas pesquisas do Museu Van Gogh apontam que despigmentação pode ter alterado cores de alguns dos quadros mais famosos do pintor.
A imagem do quadro O Quarto, de Vincent Van Gogh, é uma que os apaixonados por arte sabem de cor: a cama amarelada contrastando com as paredes azuis e tristes.
Aparentemente, porém, essa não era a aparência original da obra, nem a forma como Van Gogh a concebeu. Um estudo de oito anos sendo conduzido pelo Museu Van Gogh, em parceria com a Agência Holandesa de Patrimônio Cultural e a Shell (sim, do petróleo) está provando que nem todos os mitos sobre o pintor são reais.
Assim como quando o suicídio de Van Gogh foi questionado, fica enfraquecida a imagem de pintor desequilibrado, impulsivo, que simplesmente jogava tinta às pressas na tela para criar suas poderosas imagens.
Utilizando um raio-X fluorescente e um microscópio de elétrons, os pesquisadores conseguiram ver as linhas-guias e esboços que o artista traçava antes de começar a pintar. Ficou claro que ele fazia um uso minucioso de técnicas de perspectiva e profundidade, e tinha grande preocupação com as proporções dos objetos.
Em outras palavras, Van Gogh era um artista muito mais metódico do que a imagem popular faz acreditar, e ele compunha seus quadros com cuidado e de forma bastante consciente.
O que mais muda, porém, é o uso de cores nos quadros de Van Gogh.
O vermelho sumiu
Uma descoberta surpreendente do estudo diz respeito às mudanças nas cores dos quadros, que podem ter sofrido com a degradação de alguns pigmentos.
Na virada do século XX, época de Van Gogh, estava apenas começando a venda de pigmentos prontos (até então, os artistas misturavam seus materiais todos no estúdio). O problema é que a indústria incipiente ainda não sabia como esses pigmentos se comportariam com o passar dos meses e dos anos.
Resultado: alguns tons – no caso de Van Gogh, notadamente os tons de vermelho – foram sumindo.
Assim, no caso do famoso quadro O quarto, o artista teria originalmente pintado as paredes de um tom violeta. Conforme o pigmento vermelho foi sumindo, sobrou apenas o azul que foi misturado para originar o tom.
O mais interessante é que a mudança de cor alterou totalmente a atmosfera da obra. A combinação de amarelo com lilás é mais suave, dando uma sensação mais acolhedora ao ambiente.
“[A combinação de cores original] não é tão contrastante quanto a que conhecemos”, explica Marije Vallekoop, chefe de pesquisa e apresentação do Museu Van Gogh. “Era algo que ele queria expressar na pintura – tranquilidade e relaxamento”.
Outras obras também tiveram mudanças curiosas. Algumas pinturas de flores, frutos e árvores, por exemplo, mudaram totalmente: botões de flor que eram cor de rosa viraram brancos, levando pesquisadores a acreditarem que eram outras espécies de plantas.
FalaCultura. c2013. Disponível em: <http://falacultura.com/2013/07/01/cores-van-gogh/>. Acesso em: 2 jul. 2013.