Fabio Morais
O Performer
São Paulo, 2009
livro-objeto: impressão jato de tinta e peça de xadrez (Rei)
edição de 100 exemplares
http://fabio-morais.blogspot.com/2009/01/o-performer-2005.html
Algumas das performances-texto d’O Performer:
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O performer sai de casa com uma câmera fotográfica, um tripé e o bolso da calça jeans cheio de giz branco. Depois de muito caminhar, pacientemente vendo e sentindo os lugares, ele enfim escolhe um (escolha essa que mistura gostos estéticos pessoais, um punhado de boassimbologias ali detectadas, o afã de documentar o momento de uma vez por todas e até mesmo um olhar para o mundo ainda tomado de ecos da noite passada).
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O performer pára, arma o tripé, posiciona a câmera e inicia o delicado processo de enquadrar um pequeno pedaço do resto de tudo. O enquadramento resolvido e o performer pega, no bolso da calça jeans, um punhado de giz branco. Ele agora irá, conforme o enquadramento que vê no visor da câmera, riscar o contorno deste recorte do mundo.
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O processo é lento e minucioso já que esse retângulo tão fácil e banal que se vê no visor, ao ser desenhado no real, precisa lidar com as distâncias em trezentos e sessenta graus que rodeiam e separam todas as coisas. Por exemplo: a base do retângulo a ser traçado começa no tronco de uma daquelas árvores mas, ao fim da largura do tronco, o risco continua no muro, bem lá trás, um pouco longe da árvore e, logo depois, no banco da praça ali bem na frente, continuando no conjunto daqueles prédios ao fundo, para terminar na altura do peito do rapaz que está no primeiro plano. Traçar seu desejo de bidimensionalidade e apreensão do tridimensional é um mecanismo que requer, do performer, calma e dedicação.
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Depois de uma tarde inteira de trabalho, indo e voltando ao visor inúmeras vezes para conferir a posição e o tamanho certos dos traçados, enfim o contorno do enquadramento fica pronto. Operformer recolhe suas coisas e vai embora deixando para trás as marcas de uma escolha, cheio de esperança de que nalgum momento alguém passe pelo exato ponto onde ele fincou acâmera e, num golpe de vista, enxergue surpreso o retângulo traçado, sendo assim, de alguma forma, seu cúmplice.
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Já que não sei fotografar…
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O performer pára, arma o tripé, posiciona a câmera e inicia o delicado processo de enquadrar um pequeno pedaço do resto de tudo. O enquadramento resolvido e o performer pega, no bolso da calça jeans, um punhado de giz branco. Ele agora irá, conforme o enquadramento que vê no visor da câmera, riscar o contorno deste recorte do mundo.
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O processo é lento e minucioso já que esse retângulo tão fácil e banal que se vê no visor, ao ser desenhado no real, precisa lidar com as distâncias em trezentos e sessenta graus que rodeiam e separam todas as coisas. Por exemplo: a base do retângulo a ser traçado começa no tronco de uma daquelas árvores mas, ao fim da largura do tronco, o risco continua no muro, bem lá trás, um pouco longe da árvore e, logo depois, no banco da praça ali bem na frente, continuando no conjunto daqueles prédios ao fundo, para terminar na altura do peito do rapaz que está no primeiro plano. Traçar seu desejo de bidimensionalidade e apreensão do tridimensional é um mecanismo que requer, do performer, calma e dedicação.
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Depois de uma tarde inteira de trabalho, indo e voltando ao visor inúmeras vezes para conferir a posição e o tamanho certos dos traçados, enfim o contorno do enquadramento fica pronto. Operformer recolhe suas coisas e vai embora deixando para trás as marcas de uma escolha, cheio de esperança de que nalgum momento alguém passe pelo exato ponto onde ele fincou acâmera e, num golpe de vista, enxergue surpreso o retângulo traçado, sendo assim, de alguma forma, seu cúmplice.
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Já que não sei fotografar…
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A performance dura um mês.
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O performer estabelece um lugar qualquer, que já faça parte de seu cotidiano, como o “palco” da performance: uma rua por onde passa diariamente, uma praça ou a padaria. Na verdade, a performance acontece pelas vinte e quatro horas de cada um dos trinta dias que ela dura.
O performer estabelece um lugar qualquer, que já faça parte de seu cotidiano, como o “palco” da performance: uma rua por onde passa diariamente, uma praça ou a padaria. Na verdade, a performance acontece pelas vinte e quatro horas de cada um dos trinta dias que ela dura.
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Porém, esse momento em que o performer irá passar diariamente pelo “lugar-palco” estabelecido é como se fosse um ponto de encontro que ele marca entre sua performance e o mundo: algo simbólico.
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No primeiro dia o performer passa todo o dia vestido de preto. No segundo, veste-se de um cinza muito escuro, quase preto. No terceiro, de um cinza um tom mais claro que o do segundo dia. No quarto, um tom mais claro que o do terceiro. No quinto, novamente, um tom mais claro que o do quarto dia. E assim, sucessivamente, durante um mês até atingir a roupa totalmente branca no último dia da performance.
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Já que não sei pintar….
No primeiro dia o performer passa todo o dia vestido de preto. No segundo, veste-se de um cinza muito escuro, quase preto. No terceiro, de um cinza um tom mais claro que o do segundo dia. No quarto, um tom mais claro que o do terceiro. No quinto, novamente, um tom mais claro que o do quarto dia. E assim, sucessivamente, durante um mês até atingir a roupa totalmente branca no último dia da performance.
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Já que não sei pintar….