Cristiano Lenhardt
A Dobra do Raciocínio Geométrico
Recife, Aplicação, 2013
brochura 112 páginas
ISBN 978-85-66593-01-3
Um desdobramento da sua pesquisa com litogravuras, os novos trabalhos continuam a explorar a geometria e a dobra, confundindo o bidimensional e o tridimensional.
Catálogo da série de gravuras de Cristiano Lenhardt.
Impresso em oito cores na Editora—Aplicação, em Recife.
Jaqueta impressa em litografia, miolo impresso em risografia.
PRINCÍPIOS DA DOBRA COMO MÉTODO DE DESENHO NA LITOGRAFIA:
A exatidão dos teores matemáticos é espantosa. Coisa que para alguns ou tantos é visto claro, aqui se marca pelo arrebatamento. A folha de papel é uma condicionante básica, é um momento concreto da abstração. No universo da geometria um infinito de pontos podem formar retas em todas as direções, e com isso posso traçar o desenho que imaginar no plano abstrato. Ter uma lâmina retangular que se dobra e desdobra na mesma dimensão que a minha, promove uma sensação de revelação no presenciar do fenômeno que põe em suspensão o modo estático de ler um desenho. Ao dobrar uma folha de papel, como num gesto de desenho cego, conto com leis e regras que não calculo previamente. Dobrar o papel, imprimir seus novos planos achatando-os na prensa é o que foi se tornando um método de desenho no exercício de uma arte gráfica tão antiga, a litografia. Na litografia a gravura é impressão de matriz pedra, multiplicante de imagem ou escrito. Porém aqui cada folha impressa origina uma figura, a prensagem demarca o desenho a partir de cada nova dobra e da combinação de encaixes e entintagens diferentes.
A folha de papel é instrumento de desenho determinante, atua como matriz fugaz na ordenação da corporatura. Se trata de marca, de prova, de sinal. A medida de uma dobra sobre a outra na soma da espessura do papel ao acomodar dessas camadas promove encaixes imprecisos, lascas de tinta, linhas rarefeitas e trilhas topológicas. A tinta pressionada no papel atravessa a fibra, mancha e expande.
O papel talvez tenha virado música, só vale no tempo. Do ponto dobrado ao ponto aberto existe um percurso. Contrair – dilatar. Músculo, coração, pulmão. Sanfona , saia plissada, leque. E caminhando assim, há meditação. Em simetria um eixo baliza e distribui um tanto e um quanto, tornando mais mortal a imagem criatura. Em assimetria alastra sinistro e arquitetônico espelho. A matemática não parece idéia do homem Misterioso e elegante exercício Misteriosa e elegante matéria E se o papel for sensibilizado e exposto a luz em dobras não é mais a impressão que estampa a superfície, uma reação química é responsável pela ascensão da grafia. Um gradiente de cinzas do branco ao negro expõe as variáveis de intensidade que a luz toca as faces no papel que age como instrumento filtro além de suporte.
Texto integrante do Livro A Dobra do Raciocínio Geométrico