Multiplicidade molda a identidade do teatro brasileiro contemporâneo, reflete Mariana Muniz

quarta-feira, 29 de julho de 2009, às 10h03

É difícil definir o teatro brasileiro, mas a multiplicidade de suas manifestações define seu perfil atual. Essa é, sinteticamente, a percepção da professora da Escola de Belas-Artes Mariana Muniz, sobre uma das áreas que mais experimentou a interdisciplinaridade em sua conformação. Coordenadora de Artes Cênicas do 41º Festival de Inverno da UFMG, Muniz, cuja atuação profissional e interesses acadêmicos voltam-se especialmente para o teatro do gesto e a improvisação, destaca, em entrevista, experiências da criação em seu campo.

Como o tema Traduções foi apropriado pelas artes cênicas no Festival?

As artes cênicas são, sem dúvida, o lugar em que a tradução entre as diversas linguagens se dá de uma maneira essencial ao próprio desenvolvimento da arte. Em um espetáculo cênico, convivem várias linguagens, desde a literária, passando pela musical e também a visual. Desde sua origem, a área trabalha em um contexto polifônico, com diversas vozes e artes que se conjugam na construção do espetáculo cênico. Por isso, para o Festival de Inverno não foi difícil pensar em algo nessa linha. Além disso, procurei centrar em um trabalho elaborado nos últimos sete anos, sobre a relação entre o espetáculo e o texto teatral. Esse vínculo possui um percurso histórico de reelaboração e desconstrução desde os movimentos de vanguarda do século XX. No século XXI, já existem grupos que fazem a sua própria dramaturgia, mas também há permanência de escritores e dramaturgos que escrevem em seus escritórios e os dois tipos de texto podem ser levados à cena. Esse foi o foco que gerou as oficinas.

Quais afinidades apontaria haver entre as oficinas?

A dramaturgia e a encenação, ou seja, como essas duas linhas, essas duas pontes técnicas se comunicam em um coletivo criador. Ao mesmo tempo em que o espetáculo vai se construindo, o ator necessariamente precisa elaborar suas escolhas, os meios expressivos para trabalhar. Essas escolhas induzem um percurso dramatúrgico. O foco das oficinas é esse: o ator como criador do material cênico e como ele se articula nessa construção dramatúrgica e cênica do espetáculo ou da performance.

Como você define o teatro brasileiro atual?

A multiplicidade. É muito difícil definir o teatro brasileiro. É normal relacioná-lo aos grandes centros, que são o Rio de Janeiro e São Paulo. Por isso, há de se pensar que não se tem acesso fácil ao que é produzido longe dessas cidades. O que existe hoje é um teatro múltiplo, até mesmo pelas várias modalidades de criação, como também há experimentações diversas, como a performance e a instalação cênica, por exemplo. Esse teatro múltiplo atende a variados públicos e, de alguma forma, sempre se reinventa. Outra característica muito forte do teatro atual é a presença expressiva dos coletivos teatrais, qualidade do teatro brasileiro e latino-americano. Isso se relaciona com estratégias de sobrevivência de um espetáculo, ou seja, como dar continuidade a um projeto artístico no universo do patrocínio brasileiro. Justamente por essas condições externas, ou seja, não estão ligadas ao processo artístico, mas nele interferem, esse teatro é feito por meio do coletivo. E dentro dessa linha dos coletivos, maneiras, técnicas e procedimentos são descobertos na criação coletivizada. Por isso, o teatro dos coletivos é experimental e múltiplo.

(Assessoria de Imprensa do Festival de Inverno)

Disponível em: http://www.ufmg.br/online/arquivos/012577.shtml

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