Projeto da Unesp dispõe livros acadêmicos para download gratuito

O professor te recomenda leituras extras, mas a grana é curta e comprar os livros se torna algo impraticável. Solução? O site Cultura Acadêmica oferece um catálogo bastante variado, com cerca de 70 títulos no total, distribuídos em temas como Agronomia, Ciências Humanas, Literatura, Arte, Design e Tecnologia.

O projeto surgiu há alguns anos como um selo da Fundação Editora Unesp, que tem como carro chefe a Editora Unesp, existente desde 1987. No entanto, a principal diferença do Cultura Acadêmica é a sua versão digital, que auxilia na ampliação de projetos acadêmicos por meio de downloads gratuitos dos livros. Para baixar as obras, basta se cadastrar no site.

Todos os conteúdos disponíveis foram produzidos nas Faculdades que integram a Unesp e receberam uma supervisão de peso, formada por um conselho editorial e uma comissão científica durante todo o processo de elaboração.

Memória da moda mineira

MARIANA LAGE

Preciosismo. Luís ainda mantém em casa algumas peças que pertenceram a sua avó, mãe e tias

Entre fins de setembro e início de outubro do ano passado, o Museu Histórico Abílio Barreto recebeu cerca de 400 peças antigas que dão o pontapé inicial para mudanças importantes, tanto no que diz respeito às políticas de acervo da instituição quanto, numa perspectiva mais abrangente, à memória da cidade.

São peças que impulsionam a formação de um futuro museu de moda em Belo Horizonte, capaz de remontar, com objetos e trajes do passado, hábitos, costumes e modos de comportamento da sociedade desde a época do Curral Del Rey.

Essa mudança gradativa em direção a um acervo mais substancioso que possa retratar uma história da moda no Estado está sendo tratada com entusiasmo pela equipe técnica do museu e por profissionais relacionados ao mercado de moda. Afinal, é o início de uma história que pode corrigir um certo atraso do país em relação à preservação dessas peças frágeis e de miudezas aparentemente banais da vida cotidiana e doméstica, tais como a indumentária, as joias e os acessórios.

As peças doadas pertenciam à coleção privada do museólogo Luís Augusto de Lima, bisneto do ex-governador do Estado Augusto de Lima, que promoveu a mudança da capital mineira de Ouro Preto para Belo Horizonte. Num futuro próximo, serão exibidas publicamente em formato de exposições temáticas.

Segundo o diretor do museu histórico, Leônidas Oliveira, o acervo doado está em fase de pesquisa técnica-histórica e de catalogação. A programação prevê para março do próximo ano a abertura de uma segunda exposição relacionada à história da moda, já que a primeira está em cartaz e traz lingeries de 1890 a 1990, peças que vieram do acervo da instituição e de coleções privadas, como a do curador Domingos Mazzilli.

Para a professora do curso de design da moda da Fumec, Angélica Adverse, acervos têxteis como esse nos ajudam a perceber a forma como as roupas permeiam a vida individual e coletiva. “Por meio desse acervo, cria-se uma consciência do que é narrado pelos objetos cotidianos. O próprio Abílio Barreto intentava colecionar objetos cotidianos que pudessem apresentar a nossa história cultural. Os objetos são memórias de hábitos e estilos de vida, assim como do nosso comportamento de consumo em diferentes momentos do passado”, aponta.

Para Mazzilli, faltava à cidade uma instituição capaz de fazer o entremeio entre a vontade política e a memorabilia, a tradição e os guardados que são passados através das gerações. “Acho importantíssimo esses espaços que guardam a memória coletiva, não tanto do grande feito histórico, mas do objeto cotidiano, miúdo, banal. Penso que o museu da moda é importante pois a moda é algo muito poderoso por tudo que ela remete, seja ao tempo, ao obsoletismo, à cultura”, defende.

A doação de objetos como revistas, luvas, chapéus, fotografias, etiquetas de roupa e peças de vestuário partiu do desejo de Luís de tornar público seus guardados familiares. Entre as peças doadas, destaque para o penhoar pertencente ao enxoval de casamento, em 1941, de Ephigênia Carsalade Villela, mãe do museólogo. “Ele foi comprado com uma senhora do Rio de Janeiro, madame Geny, que adquiria em Hollywood peças dos figurinos dos filmes e vendia aqui”, revela.

Do público ao Privado. O desapego de Luís em ceder à instituição pública parte de sua coleção familiar acabou se transformando também num incentivo para que outras pessoas, de famílias tradicionais da capital, fizessem o mesmo. É o caso de Marília Salgado, filha de Lia e Clóvis Salgado. Objetos pessoais e documentos dos seus pais já compõem o acervo do museu histórico, mas restam ainda algumas peças especiais que pertenciam à sua bisavó e à sua mãe, como, por exemplo, um vestido encomendado e costurado a mão que a bisavó de Marília usou na festa em celebração à Revolução de 1930.

Outra peça é o “rob de jeur”, vestido que ela usou somente uma vez, na manhã seguinte ao seu casamento, por volta de 1878. “Para quê vou deixá-las sobre o armário de um quarto se as peças podem ser expostas e vistas por muitas pessoas?”, pergunta-se Marília Salgado.

Exposição Coletiva “Jornal da Imagem | Imagem do Jornal” [catálogo virtual]

A exposição O jornal da imagem | imagem do jornal foi elaborada em um Grupo de Pesquisa, o Bureau de estudos sobre a imagem e o tempo, da Escola de Belas Artes da UFMG e tem como ponto de referência o jornal como suporte, o que esteve sempre na mira de muitos artistas. O jornal já apresenta em si um projeto gráfico, um texto, uma imagem, um desenho. Não raro o associamos ao cartaz. A atenção dessa exposição é colocada sob os trabalhos que utilizam esse suporte de fina espessura, mas de polivalente utilização; pois o jornal, em sua singularidade, existe também como multiplicidade, bem como suas maneiras de acolher a imagem e a forma. A variedade imprevisível desse material que é o suporte de uma das atividades humanas — ler jornal — faz com que designe, do ponto de vista de sua materialidade e tatilidade, uma zona específica onde os gestos da mão induzem traços palpáveis. Já escutamos: nada mais simples do que um jornal. Algo simples, mas passível de suscitar o traço gestual, que ordena formas de ser do cotidiano na história de todos. Assim é o jornal, esse flexível material: lugar para fixar constelações de qualidades, dispondo sua superfície para nossas invenções e possibilidades.

Veja o catálogo virtual aqui!

O jornal está intrinsecamente ligado à cultura de massa, termo que designa uma forma relacionada à sociedade contemporânea e aos muitos objetos que lhe são destinados. Ele apareceu de forma mais definitiva no século XVIII e se firmou ao mesmo tempo no período chamado “a era do papel”. Assim, foi contribuindo bastante para a ampliação de um público mais alfabetizado e evoluindo através de sua atuação social e política, sobretudo através da necessidade da liberdade de expressão e das técnicas e procedimentos de impressão. Isso trouxe a questão da difusão da informação, criando a aculturação — fenômeno que resulta do contato direto e contínuo entre grupos de indivíduos de culturas diferentes levando às mudanças de hábitos e formas culturais — visto que pessoas de lugares distantes liam a mesma notícia e se informavam visualmente e literariamente pelo mesmo jornal. Mais tarde veio a difusão das imagens, revelando a problematização da sua exposição política.

Em seu texto A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica, Walter Benjamin nos diz claramente que uma das grandes questões políticas do tempo em que vivia era o valor da sua exposição pela imagem, na qual somente a estrela — star — o campeão esportivo e o ditador eram os vencedores.  E o jornal, como fonte divulgativa de imagens, nunca escapou dos apetites políticos de manipulação, sendo, apesar de tudo, um elemento de sobrevivência, que expõe conflitos, paradoxos e choques bem como a distorção e a espetacularização — características das quais a história é tecida.

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Patricia Franca-Huchet explora o poder da imagem e sua força no espaço da folha do jornal. Esconde o texto recobrindo as partes que lhe são destinadas com vinis coloridos criando espaços compositivos com a imagem. Resultam imagens que perdem o significado ilustrativo impondo sua presença mais silenciosa e imageante..

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Gladston Costa propõe uma desconstrução da função comunicativa do jornal por meio da subtração dos textos e fotografias e da valorização dos elementos pictóricos que fundamentam uma então lógica construtivo/informativa do jornal impresso. Destas ações plásticas resultam conjuntos de pinturas em que os códigos da comunicação de massa são esvaziados e mostrados como exemplificações de dispositivos contemporâneos de comunicação e consequentemente de produção ideológica.

Ricardo Burgarelli utiliza o jornal na busca de relações dialéticas com a imagem e as notícias a partir de um olhar crítico sobre elementos constitutivos da nossa política, história, sociedade e modo de inserção no mundo. Na exposição “Jornal da Imagem | Imagem do Jornal” é explorada em jornais de diversos países a repercussão mundial da execução dos anarquistas italianos Sacco e Vanzetti nos Estados Unidos da América.

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Exposição Coletiva “Jornal da Imagem | Imagem do Jornal”
– Gladston Costa
– Patricia Franca-Huchet [coordenadora do grupo de estudos BE-IT: Bureau de estudos sobre a imagem e o tempo da EBA/UFMG]
– Ricardo Burgarelli

Local : Galeria de Arte do espaço Cultural da Cemig
Abertura : Dia 17 de abril de 2012,  terca-feira às 20 horas
Período da exposição: De 18 de abril a 06 de maio de 2012, das 8 às 19 horas.

Lançamento do Livro Pesquisa Guignard – Convite

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Guignard sob luz especial : Livro revela metodologia de pesquisa abrangente sobre obra do pintor, realizada pelo Cecor/EBA e grupos da Fafich e do ICEx

Itamar Rigueira Jr.

A obra de um dos maiores pintores brasileiros ganhou estudo completo e profundo na UFMG. Meio século depois de sua morte, Alberto da Veiga Guignard (1896-1962) é tema de livro produzido pelo Centro de Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis (Cecor), da Escola de Belas-Artes. Pesquisa Guignard, que será lançado esta semana, é resultado de cerca de dez anos de pesquisa sobre 62 obras do pintor.

Organizado pela professora Anamaria Ruegger Almeida Neves e pela química Claudina Maria Dutra Moresi, o livro junta às análises técnicas – que definem uso de materiais (tintas e suportes), cores, pinceladas etc. – um levantamento bibliográfico, contextualização feita pela historiadora da arte Ivone Luzia Vieira e informações extraídas de entrevistas com ex-alunos, colecionadores, estudiosos e retratados.

“A escolha de Guignard se deve a sua importância como artista no Brasil e, em particular, em Minas Gerais, mas também a seu trabalho como professor”, justifica Anamaria Ruegger, lembrando que ele formou gerações de artistas, com metodologia própria de ensino. Claudina Moresi ressalta a importância do pintor no contexto do Modernismo e a necessidade de estudo sistemático de sua obra. “Esse gênero de trabalho, consolidado no exterior, ainda é novo no Brasil, onde há poucas iniciativas de catalogação de obras.”

A equipe da UFMG desenvolveu e revela metodologia para se conhecer uma obra de artista, que poderá ser útil até para dirimir dúvidas sobre a autenticidade das obras – especialmente no caso de Guignard, alvo de controvérsias envolvendo autoria. De acordo com Anamaria Ruegger, o grupo estudou mais obras, mas o livro só contempla as que tiveram sua autenticidade comprovada.

“O exame de algumas peças trouxe dúvidas. O que nos deu segurança foi aliar aos exames depoimentos de alunos e parentes de personalidades retratadas, histórias contadas por proprietários, fotografias de Guignard trabalhando, entre outros documentos”, salienta a pesquisadora. As entrevistas foram colhidas pelo Núcleo de História Oral da Fafich.

Outro parceiro importante foi o Departamento de Ciência da Computação, responsável pela informatização dos dados gestuais e iconográficos e pela preservação digital.

Precisão para pintar

A maior parte das obras estudadas pelo Cecor integra coleções particulares e foi analisada no laboratório, localizado na Escola de Belas-Artes. Para o estudo daquelas que pertencem ao Museu Casa Guignard, os técnicos se deslocaram até Ouro Preto. O Cecor analisou pinturas sobre tela, madeira maciça e compensada, papelão e desenho sobre papel. Algumas obras em tela e madeira começaram a ser preparadas com alunos – o livro revela manuscritos de aula, que contêm informações sobre materiais.

A pesquisa descobriu como Guignard usou as cores e os pincéis, por meio da tentativa incansável de repetição de combinações de tintas e gestos com os instrumentos. E concluiu que ele foi um pintor preciso, que pensava muito para fazer suas escolhas. “Diferentemente do que ainda se acredita, Guignard criava com intenções bem definidas, é possível garantir que uma imagem que parece borrada é intencional. Ele tinha pleno domínio sobre o que queria e o que fazia”, afirma Anamaria.

Diluição e incisões

Paisagem imaginária foi analisado por vários tipos de luzes especiais

Um dos quadros mais estudados pela equipe do Cecor é Paisagem imaginária (Noite de São João), de 1961, pertencente à coleção do Museu de Arte da Pampulha, muito representativa da fase mineira de Guignard. Em bom estado de conservação, o quadro (óleo sobre tela, 61cm x 46cm) foi analisado por diversos tipos de luzes especiais.

A luz rasante (de fonte paralela à tela) apontou relevos do suporte e da tinta, neste caso mais do suporte, já que o pintor usou tinta muito diluída. A luz transversa, que incide por trás, revelou as áreas de maior massa (quantidade de tinta). A luz ultravioleta, que encontra os pigmentos fluorescentes, mostrou que Guignard usou o vermelho e amarelo de cádmio nessa tela. A luz monocromática e o filme infravermelho deixaram perceber as linhas do desenho. Por fim, a radiografia identificou pigmentos: os elementos químicos mais pesados aparecem na cor branca, e os mais leves em tons de cinza. Nos quadros que usam a madeira como suporte, as análises revelam também incisões feitas pelo artista, como em Cristo no jardim das oliveiras, em que esse artifício acentua o sofrimento nos traços do rosto.

Outra etapa do estudo das obras envolve remoção com bisturi, de um local discreto, de microamostras do quadro, com área de 1 a 2 milímetros quadrados. Isso permite identificar os pigmentos e os aglutinantes (óleo ou têmpera, por exemplo) que formam a tinta. “No caso de Paisagem imaginária, a observação no microscópio (aumento de 10 a 200 vezes) deixou claro que Guignard usou uma camada de branco como preparação, então o cinza, e por fim as tintas coloridas. Depoimentos de alunos confirmaram que ele usava a técnica caracterizada por ‘sujar’ a tela de cinza, que altera o efeito das cores”, revela Claudina Moresi.

Ela conta ainda que os pesquisadores encontraram em duas obras – os retratos de Cecília Meireles, sobre madeira maciça, e de Ismael Nery, em papelão – carimbos que provavelmente são marcas da empresa que vendeu o material ao pintor. Outra curiosidade está ligada à descoberta de alterações realizadas pelo artista durante o processo criativo. No quadro Fantasia, os exames com luzes especiais revelam vestígios da localização anterior de uma das torres da igreja. “Algumas dessas alterações são percebidas a olho nu por quem tem mais treino”, diz Claudina. O trabalho mostrou mais sobre uma característica de Guignard: suas assinaturas, geralmente coloridas, não raro são localizadas de forma a integrar a composição da pintura.

Fugaz e eterno

Modernista por excelência, Alberto da Veiga Guignard personificou a teoria de Charles Baudelaire sobre o artista que alia o fugaz (o moderno) ao eterno (a tradição), segundo a pesquisadora Ivone Luzia Vieira, professora aposentada da UFMG e autora de capítulo em Pesquisa Guignard sobre a relação do pintor com a Modernidade.

“Em diversas de suas obras, Guignard trabalha muito bem a busca por um determinado estilo, de uma dada época, para modernizar aquela forma. Se em suas primeiras exposições os casarios coloniais aparecem próximos ao observador, na sua fase mineira ele afasta esse casario, quebrando a ilusão de espaço da perspectiva renascentista, e verticalizando o quadro. Ele mostra a sucessão de montanhas, por exemplo, não no sentido de profundidade, mas quase chegando à superfície pictórica”, explica Ivone Luzia.

A pesquisadora conta que Guignard estudou muito as flores, as quais pintou sobre fundos de paisagens surreais e distantes. Ainda de acordo com Ivone, ele foi um grande retratista, seguindo características modernas: rostos sem volume, roupas lisas, fazendo a expressão concentrar-se nos olhos e na boca.

O fluminense que ‘reinventou’ Ouro Preto

Nascido em Nova Friburgo (RJ), Guignard viveu por mais de 20 anos na Europa. Iniciou sua formação artística na Real Academia de Belas Artes de Munique e travou contato intenso com pintores modernos e suas obras. Estabeleceu-se, então, no Rio de Janeiro, como artista e professor – que baseava sua atuação mais em exemplos, gestos e expressões que em palavras.

Em 1944, convidado pelo prefeito Juscelino Kubitschek, mudou-se para Belo Horizonte para ministrar o Curso Livre de Desenho e Pintura, no Parque Municipal. A “Escolinha do Parque”, segundo informações do livro Pesquisa Guignard, mudou a maneira de se ensinar artes plásticas na cidade e formou grandes nomes da arte brasileira. Em sua passagem por Minas, Guignard tornou-se “o grande pintor de Ouro Preto, reinventando a cidade, suas montanhas e igrejas nas obras que produziu”, de acordo com a publicação.

Ivone Vieira lembra, ainda, que Guignard levava seus alunos para aulas na cidade, andava muito e instalava seu cavelete na rua, escolhendo recortes de janelas e igrejas. “Ele se apaixonou por Ouro Preto, que chamou de ‘cidade amor-inspiração’”, ressalta a professora, doutora pela Escola de Comunicação e Artes da USP e ex-docente de arte na Faculdade de Educação para alunos de licenciatura. Em Belo Horizonte, segundo ela, Guignard não mirou a paisagem arquitetônica, preferindo as montanhas, a Lagoa da Pampulha e o Parque Municipal.

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Livro: Pesquisa Guignard
Organizadoras: Claudina Maria Dutra Moresi e Anamaria Ruegger Almeida Neves
Editado pela Escola de Belas-Artes da UFMG
200 páginas / distribuição dirigida
Lançamento: 12 de abril, às 19h, no Conservatório UFMG (avenida Afonso Pena, 1534)
Apoios: entre outros parceiros, a pesquisa sobre Guignard contou com recursos da Pró-reitoria de Pesquisa da UFMG, CNPq, Fapemig e Fundep

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Consulte também na Biblioteca da Escola de Belas Artes os livros sobre Guignard.

Sugestões:

GUIGNARD. Alberto da Veiga Guignard : 1896-1962. Rio de Janeiro: Pinakotheke Cultural, 2005. 204p.

SANTA ROSA, Nereide Schilaro. Alberto da Veiga Guignard. São Paulo: Moderna, 2000. 31 p. (Mestres das artes no Brasil)

MORAIS, Frederico. Alberto da Veiga Guignard. [S.l.]: Monteiro Soares Editores e Livreiros, 1979 (Rio de Janeiro: Graf. Borrelli) 185p.

O Jornal das Senhoras – disponível online na Biblioteca Nacional Digital

O Jornal das Senhoras – 156 edições para download na Biblioteca Nacional Digital

A Biblioteca Nacional tem 156 edições digitalizadas do periódico O Jornal das Senhoras, para download. O primeiro número da publicação data de 1º de janeiro de 1852, trazendo “Modas, Litteratura, Bellas-Artes, Theatros e Critica” a suas leitoras. Já na primeira edição, contestava a hegemonia masculina na direção dos veículos de imprensa: “Ora pois, uma Senhora a testa da redação de um jornal! que bicho de sete cabeças será?”

Clique aqui para conferir os exemplares

“Os dois principais centros da produção periodística feminina no Brasil se concentraram em Recife e Rio de Janeiro, desta cidade, saiu o primeiro jornal dirigido por uma mulher, O Jornal das Senhoras.

Fundado pela feminista argentina Juana Manso, O Jornal das Senhoras tinha como objetivo tratar de temas como belas-artes, literatura, moda, além de tentar despertar a consciência feminina para que estas reivindicassem melhores condições educacionais e acesso ao mercado de trabalho.

A partir daí vários jornais dirigidos por mulheres passam a circular pelo Rio de Janeiro, tais como O Bello Sexo, O Espelho, Jornal das Moças, Jornal das Famílias.

[trecho da pesquisa Josefina Álvares de Azevedo: a voz feminina no século XIX através das páginas do jornal A Família, de Karine da Rocha Oliveira, do Programa Nacional de Apoio à Pesquisa da Fundação Biblioteca Nacional].

Gilberto Freyre, modas e estilos

TARCISIO D´ALMEIDA

Publicado no Jornal OTEMPO em 11/03/2012

Dois nomes edificam o que atualmente compreendemos como comunidade intelectual da moda no Brasil. Primeiramente, a paulista Gilda de Mello e Souza (ver artigos : 1, 2, 3) é a pensadora que produziu, na USP, a primeira tese com foco central nas reflexões sobre a moda. Outro nome é o do sociólogo pernambucano Gilberto Freyre, o pensador que, mesmo não tendo se dedicado ao tema em nenhum de seus estudos para obtenção de títulos (mestrado e doutorado), produziu uma série de artigos que foram publicados na grande imprensa e que versavam sobre os embates entre as imposições dos estilos estrangeiros na sociedade brasileira e os jeitos naturais da brasilidade e, ainda, como estes contribuem para a construção das nossas identidades, modas e estilos próprios.

A sociologia de Freyre se debruçou sobre as questões das modas e dos modos tanto de mulheres quanto de homens da sociedade brasileira, em especial, a partir do fim do século XIX, sobretudo, durante a primeira metade do século XX. Mas não somente as modas e os estilos. Os corpos, a morenidade e o processo de higienização decorrente da utilização de matérias-primas mais adequadas à realidade climática brasileira também ganharam destaques nas observações do pensador. Nesse sentido, Freyre direcionou sua reflexão para o entendimento do que poderíamos chamar de moda “Made in Brazil”.

Essa compreensão – ou melhor, essa defesa – do nosso “savoir faire” é o eixo condutor da obra “Modos de Homem & Modas de Mulher”, compilação dos artigos publicados na grande imprensa e que foram editados em formato de livro em 1987, com segunda edição em 2009. Essa obra reconstrói o percurso intelectual do autor, levantando os conceitos propostos por ele para “moda”, “estilo” e “comportamento” e como esses se relacionam com as complexas redes estabelecidas entre os indivíduos na sociedade brasileira. Portanto, noções de fruição estética e cultural são propostas essenciais sugeridas nos artigos de Freyre para entendermos as implicações das modas e dos estilos da época e seus reflexos sociais e culturais.

Como escrevi em um artigo para o V Colóquio de Moda, “se o pensamento sociológico do alemão Georg Simmel, com a publicação de seu ensaio “Philosophie der Mode”, em 1904, é sinônimo de estudo clássico da moda, as abordagens de Freyre adquiriram uma sinonímia em relação às questões referentes não só à moda e ao estilo, mas também aos modos; e a como todos se relacionam e coexistem tanto em homens como em mulheres. Mas não são quaisquer homens e mulheres e, sim, brasileiros e brasileiras e, o que é mais crucial na obra, as relações que se constituem a partir das dinâmicas sociais, culturais e de identidades do Brasil, em um momento, e do Nordeste, em um segundo estágio de reflexão, além de suas demandas tropicais e de clima”.

Mas é preciso lembrarmos que, antes mesmo de publicar “Modos de Homem & Modas de Mulher”, Freyre sinalizou a importância para os vestuários e os padrões estéticos de comportamentos da sociedade. Em sua obra-prima, “Sobrados e Mucambos”, dedicou especial atenção ao vestuário feminino, às barbas masculinas e ao dimorfismo sexual. O historiador Peter Burke nos lembra, em um artigo para o “Caderno Mais!”, da “Folha de S. Paulo” (12/3/2000), outros tópicos essenciais em Freyre: “Seu interesse na história das roupas estendia-se dos trajes formais dos moleques oitocentistas aos turbantes das escravas negras”.

Tarcisio D´Almeida é professor e pesquisador do curso design de moda da Escola de Belas Artes, da Universidade Federal de Minas Gerais (EBA-UFMG). tarcisiodalmeida@eba.ufmg.br
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O livro “Modos de Homem & Modas de Mulher” está disponível para empréstimo na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFMG

Artistas de primeira viagem

Projeto Conversas encerra primeiro ciclo de residências artísticas com exposição de jovens criadores do Estado
DANIEL TOLEDO
Residência. Mariana Rocha, Lucas Carvalho e Estandelau apresentam seu trabalho ao público da cidade. Foto : Marcelo Diogo

Em agosto do ano passado, muita gente se surpreendeu quando foram divulgados os nomes dos três artistas que participariam da primeira edição do Projeto Conversas, realizado em parceria pelo Ceia e a Fundação Clóvis Salgado. Ainda que criadores mais experientes tenham se inscrito para a residência artística de cinco meses apresentada como carro-chefe do projeto, os seus coordenadores, Marcos Hill e Marco Paulo Rolla, optaram por apostar em nomes até então pouco conhecidos mesmo entre a classe artística da cidade.

O resultado dessa aposta, bastante acertada na visão do próprio Marcos Hill, pode ser conhecido na exposição que reúne trabalhos de Mariana Rocha, Lucas Carvalho e Estandelau e entrou  em cartaz no Centro de Arte Contemporânea e Fotografia.

“Nós ficamos muito felizes por oferecer essa oportunidade a artistas bastante jovens e ainda desconhecidos, que puderam se dedicar ao próprio trabalho e alcançaram, após essa experiência, resultados altamente profissionais”, resume o pesquisador Marcos Hill, um dos coordenadores do Ceia e do Projeto Conversas.

Além de trabalharem durante cinco meses em um ateliê criado no último andar do Centro de Arte Contemporânea e Fotografia, os artistas, destaca Hill, participaram de palestras com grandes nomes da arte brasileira e internacional, assim como receberam diversas visitas em seu espaço de criação.

“A partir de outubro, principalmente, o ateliê ganhou uma dinâmica de trabalho muito interessante, com a passagem de outros artistas oriundos de Belo Horizonte, São Paulo e ainda alguns países da América Central”, destaca, em referência à residência Ca-bra – outro tentáculo do Projeto Conversas.

Cada um a seu modo, os três artistas tiveram, então, a chance de desenvolver e refletir continuamente sobre as próprias pesquisas e trabalhos, os quais já passaram por Ipatinga e chegam, finalmente, aos demais andares do Centro de Arte Contemporânea. Perpassando linguagens como o desenho, a pintura, a performance e a instalação, são vários os trabalhos apresentados por cada criador.

“Vejo essa exposição como um excelente cartão de visitas em relação às pesquisas dos três. Daqui em diante, o desafio é manter o nível e encarar de frente esse lugar do artista em relação à sociedade”, afirma Hill.

Agenda

O quê. Exposição de encerramento do Projeto Conversas
Quando. Desde 14 de março a 29 de abril (de terça a sábado, das 9h30 às 21h; domingos, das 16h às 21h)
Onde. Centro de Arte Contemporânea e Fotografia (av. Afonso Pena, 737, centro)
Quanto. Entrada gratuita

Mulheres e sapatos: uma história de amor

Petit Gabi

Não é de hoje que as mulheres têm fascínio por belos pares de sapatos. É um relacionamento que, para algumas, extrapola os limites do bom-senso. Afinal, quem não tem uma amiga ou amiga de uma amiga que alega ter mais de 100 pares de sapatos no closet?

Pois bem, caros leitores, saibam que para entender esse amor feminino pelo calçado é necessário primeiramente entender porque foram criados esses tomadores de atenção.

As principais referências à arte da criação dos sapatos estão ligadas aos egípicios, por sua habilidade de curtir o couro para fabricá-los. Mas existem indícios de que os sapatos existem desde 10.000 a.C. Há estudos de pinturas paleolíticas encontradas em cavernas na França e na Espanha que comprovam essa data tão longínqua. Em contrapartida, outros pesquisadores afirmam que os sapatos foram inventados na Mesopotâmia, há mais de 3.200 anos. Mas de qualquer forma, faz muito tempo, não é?

Sandálias Novo Testamento.
Sandálias Novo Testamento.

As curiosidades sobre a existência desse adorável companheiro dos pés são inúmeras e impressionantes. Os gregos, por exemplo, mostraram-se além do seu tempo, usando um calçado diferente em cada pé. No Império Romano, os calçados denunciavam as classes sociais. Os ingleses do século XIV usavam sapatos tão pontudos que os famigerados pares foram considerados perigosos para o país. Na França do século XVI, os calçados finos demais obrigavam as pessoas a ficar com os pés mergulhados em águas geladas, antes de calçá-los. Na China, como todos conhecem, as mulheres eram obrigadas a usar sapatos de no máximo 15 cm, o que acabava por deformar os pés das belas chinesas. Em Veneza, por sua vez, lá por meados de 1600, as plataformas altíssimas obrigavam seus usuários a necessitar da ajuda de criados para se locomover.

Há algumas décadas, os sapatos passaram a ser objeto de desejo, itens de coleção, paixão e desejo. Mas o fato é que foram projetados inicialmente apenas para proteger os pés dos terrenos acidentados, do frio, calor, etc.. E o que hoje entope nosso armário, era apenas um objeto que fazia parte da vestimenta do homem rudimentar.

Sapato Sindhi.
Sapato de Dobrar os pés.Sapatos da "Dorothy" em "O Feiticeiro de Oz".

Os calçados femininos, por sua vez, têm uma variedade e requinte que os distingue claramente dos masculinos. Os tipos são dos mais variados: anabela, ankle boot, bota, coturno, escarpin, mocassins, mule, open boot, oxford, rasteiras, sandália, sabrina, sapatilha, stilleto, tamanco, tênis, peep toe, princesa e uma infinidade de denominações que os fashionistas não param de criar coleção após coleção.
No Brasil e no mundo, algumas marcas acabam sendo as favoritas das mulheres, como Arezzo, Melissa, Dakota, Via Marte, Corello, Dumond, Calvin Klein, Capodarte, Santa Lolla, Botero, Shoestock, Schutz, Carolina Herrera, Chanel, Jimmy Choo… uma lista extensa que poderia ocupar toda esta página.
O fato é que hoje em dia o sapato não é mais apenas um acessório. É uma peça-chave e acaba sendo a continuação de um look. Pelos pés é possível mostrar traços de feminilidade, personalidade e estilo. Por isso mesmo as mulheres são tão apaixonadas pelos sapatos.

Independentemente do modelo e da marca, o sentimento de algumas mulheres por sapatos é algo que transcende a lógica. Quem nunca ouviu de um homem a velha piada de que em outra encarnação a mulher deveria ser uma centopéia? Pois só isso para explicar sua necessidade de ter tantos pares, quando na verdade só tem dois pés. Afinal, há mulheres que lembram mais facilmente do primeiro par de sapatos que compraram com seu próprio dinheiro do que do homem que beijaram pela primeira vez. Parece loucura, mas algumas delas tratam sapatos como melhores amigos, bens preciosos, companheiros de longas jornadas. E, no final das contas, paixão não é algo que se deva entender. E se isso nos faz feliz, que tenhamos nossos dois, cinco, dez ou cem pares de sapatos.

Biblioteca "Professor Marcello de Vasconcellos Coelho" da Escola de Belas Artes da UFMG