alexander McQueen, o gênio da moda

Alexandre Romero

L’enfant terrible, ou “o hooligan da moda inglesa”, como muitas vezes é apelidado. Alexander McQueen é o derradeiro gênio da moda, entre loucura e sanidade, fragilidade e força, tradição e modernidade, fluidez e severidade, a sua obra continua a quebrar barreiras e a elevar-se a um outro nível.

Em menos de dez anos, Alexander McQueen, tornou-se um dos mais respeitados criadores, tendo até sido director criativo da casa de alta-costura parisiense, Givenchy, que deixou em 2001 para trabalhar na sua própria marca, homónima. Desde então, faz história com os seus desfiles, unindo a excelência da alfaiataria britânica, a execução perfeita da alta-costura francesa e o impecável acabamento italiano. O seu trabalho tem descrito uma espiral ascendente no mundo da moda, pela justaposição de elementos contraditórios, resultando em colecções únicas, de crescente poder emocional e energia crua, pura paixão.

Nascido em Londres, a 17 de Março de 1969, filho de um taxista, o mais novo de seis, Alexander começou por fazer vestidos para as três irmãs e, ainda jovem, anunciou que queria ser criador de moda. Deixou a escola aos 16 anos e logo se tornou aprendiz de grandes mestres na execução técnica de vestuário, como Anderson & Shephard ou Gieves & Hawkes. Daí passou para os teatrais Angels & Bermans, onde aprendeu os segredos do corte, desde o melodramático século XVI, até ao design sóbrio que se tornou a sua imagem de marca.

Aos 20 anos trabalhou com o designer Koji Tatsuno, cujo trabalho tem também raízes britânicas, e um ano depois viajou para Milão, onde foi assistente do designer Romeo Giglis. Finalmente, em 1994, voltou a Londres, onde se estabeleceu e completou o mestrado em Design de Moda na prestigiada Saint Martins College of Art and Design. A sua coleção de graduação foi comprada na totalidade pela famosa estilista Isabella Blow.

As duas colecções mais recentes, “The Horn of Plenty” (O Corno da Abundância) e “Plato’s Atlantis” (Atlântida de Platão) são mostras da mais pura natureza contemporânea e do gênio negro de McQueen. A primeira, traduz a visão do criador sobre o consumismo e a industrialização, transformando objectos comuns em acessórios prodigiosos, numa ode à reciclagem e reutilização. A segunda, é o epíteto da vanguarda da moda, quer pela elaboração técnica do desfile, em que dois robos se apresentam no meio da passarela e transmitem o desfile em direto para todo o mundo, quer pela beleza da colecção em si. Sob o mote da actualidade, dos problemas ambientais e da mudança, a coleção relembra para a necessidade de adaptação humana às novas condições ambientais, e propõe que o futuro possa estar no fundo o oceano.

A arquitetura das peças, o corte, texturas, cores e padrões, a maquiagem, os cabelos e os sapatos (os modelos mais fantásticos que o mundo já viu!) estão em comunhão entre si e com a Natureza. A primeira série é composta por estampas caleidoscópicas que criam um efeito simétrico nos looks, cheios de padrões animais e texturas orgânicas, a segunda série representa a descida ao mar profundo onde as peças são fluídas como água e as modelos se transformam em criaturas marinhas, alienadas. Verdadeiramente indescritível!

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A moda tem Iris van Herpen

Publicado no Jornal OTEMPO em 29/01/2012

TARCÍSIO D´ALMEIDA

A moda (re)nasce e justifica sua existência a partir do princípio do novo. Portanto, ela nasce e, automaticamente, já anuncia sua própria morte a cada estação. Esse automatismo é ditado por regras daquilo que compreendemos como calendário, o qual força as criatividades a se adaptarem às regras das divisões de etapas por meses, segundo a linha produtiva dos mercados.

Se pensarmos no princípio da busca constante pelo “novo”, precisaremos nos lembrar ainda de quem propicia esse “novo” à moda. Responsável por tal tarefa, o estilista é o ator principal na trama que mescla ideias, desejos, matérias-primas, temas, interpretações e indivíduos.

Esse “mélange” constitui o fenômeno moda, que gera, em boa medida, o fascínio pelo que produz no inconsciente das pessoas, quando geralmente se deparam com uma produção extremamente rebuscada no quesito inventividade. E é esse fundamento que busco ao assistir aos desfiles, seja o das semanas de moda, seja o de formandos em moda. E lhes aviso que é importante nos atentarmos para outros países, como os nórdicos e bálticos, por exemplo, pois o fundamento das capitais da moda, que é hegemônico, começa a conviver com uma nova realidade: a da expansão dos novos cenários criativos.

E o mundo já testemunhou esse novo desenho quando os belgas dominaram a moda com suas propostas estéticas minimalistas nos anos 1990. Agora um nome proeminente tem despertado bastante minhas atenções. O nome dela é Iris van Herpen, uma jovem criadora e ex-aluna de design de moda da Artez, prestigiada instituição de ensino de Arnhem, na Holanda. O desfile début de sua marca foi em 2007. Na recente carreira, ela estagiou com Alexander McQueen, em Londres, e com Jongstra Claudy, em Amsterdã. E o que mais tem me hipnotizado com as visões de moda de Iris é como cria uma reciprocidade impressionante entre o fazer artesanalmente com inovações nas técnicas e materiais que ela emprega. Sem medo e excesso, poderíamos dizer que a ausência e a sensação de vazio na moda, geradas pelo suicídio do visionário Alexander McQueen, começam a ser preenchidos pela nova verve criativa de Iris van Herpen.

A riqueza no seu processo criativo está fundamentada em um princípio essencial aos autênticos criadores: o da autoria artística. “Para mim, a moda é uma expressão de arte que está muito próxima e relacionada a mim e ao meu corpo. Eu a vejo como minha expressão de identidade combinada com desejo, humor e ambiente cultural”, explica a estilista.

Quando Iris van Herpen nasceu, no ano de 1984, os japoneses começavam a dominar a cena fashion parisiense. Coincidência ou não, é em Paris, hegemonicamente na Semana de Moda Alta Costura, que Iris tem mostrado suas criações. Ela já produziu nove coleções, desfiladas em 15 semanas de moda, já recebeu seis prêmios, além de ter sido tema de 28 exposições com seus trabalhos de moda-arte. Com Iris van Herpen confirmamos que regras normais não se aplicam aos verdadeiros criadores. Ou, como ela nos explica, “com o meu trabalho, pretendo mostrar que a moda pode certamente ter um valor para o mundo, que é atemporal e que o seu consumo pode ser menos importante. Vestindo-se roupas podemos criar uma forma muito excitante e imperativa de auto expressão”. Viva Iris!

Visite o site de Iris van Herpen : http://www.irisvanherpen.com/site/

Tarcisio D´Almeida é professor e pesquisador do curso design de moda da Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais (EBA-UFMG). tarcisiodalmeida@eba.ufmg.br. Ele divide este espaço com Susanna Kahls, Jack Bianchi e Lobo Pasolini

Brasil vai prevalecer na Bienal de 2012, diz curador

“É uma Bienal que quer se definir por relações entre artistas. O leitmotiv é a ideia de constelação, o conceito de que as coisas só ganham significado quando estão relacionadas”, diz o venezuelano Luis Pérez-Oramas, curador-geral da 30.ª Bienal de São Paulo, marcada para ocorrer em setembro de 2012. História e contemporaneidade, assim, vão se entrelaçar na próxima exposição, que terá entre 110 e 115 artistas participantes. Mais ainda, será uma mostra criada a partir de uma crença “na variedade da beleza”, diz o curador de “A Iminência das Poéticas”, título da edição que vem sendo preparada.

Ainda falta tempo até a abertura da 30.ª Bienal, mas o projeto da mostra já está praticamente definido. De Nova York, Oramas concedeu entrevista à reportagem depois de oito meses de trabalho dedicado exclusivamente à concepção da edição do evento. A lista completa dos artistas será anunciada entre fevereiro e março, mas alguns dos integrantes da exposição, em adiantadas “conversações”, já são citados pelo curador. Entre os brasileiros, o concretista Waldemar Cordeiro, o neoconcretista Hélio Oiticica, o jovem Pablo Pijnappel, que vive na Alemanha e nunca expôs no Brasil, e Ricardo Basbaum. Entre os estrangeiros, o fotógrafo August Sander (1876-1964) e Franz Erhard Walther – ambos alemães -, o pintor francês Bernard Frize, o holandês Hans Eijkelboom, o norte-americano Mark Morrisroe, o italiano Bruno Munari e o colombiano Nicolás París.

Pérez-Oramas, curador geral da30. Bienal

“O Brasil vai prevalecer. É um polo cultural e primeira potência da América Latina e será uma Bienal que quer assumir o lugar em que ocorre. Mas gosto de dizer que a seleção, em geral, é muito equilibrada, internacional”, afirma Oramas. “A arte latina é uma presença óbvia, um dos momentos mais vibrantes da arte está acontecendo neste continente.”

O projeto de Luis Pérez-Oramas, curador do Museum of Modern Art (MoMA) de Nova York, foi escolhido em dezembro de 2010 pela direção da Fundação Bienal de São Paulo para a 30.ª mostra da instituição. Desde então, o venezuelano e os cocuradores Tobi Maier, André Severo (artista gaúcho) e Isabela Villanueva vêm se dedicando ao desenvolvimento da edição. Oramas, que depois vai realizar a retrospectiva da artista brasileira Lygia Clark para o MoMA, marcada para maio de 2014, adianta alguns pontos das “constelações” da 30.ª Bienal.

Será uma mostra com cerca de 40% de obras inéditas ou comissionadas para a ocasião; repleta de recortes monográficos dedicados ao trabalho de criadores contemporâneos e históricos – não terá nenhuma obra de Lygia Clark, ele diz; e a abrangência da exposição para outros espaços da capital paulistana para além da “casa” da instituição, o Pavilhão Ciccillo Matarazzo, no Ibirapuera. “Nos interessa reconhecer o espaço de São Paulo com sua dinâmica e matizes sociais, sem ser demagógico.” Oramas cita parcerias em andamento com o Masp – a ideia de comissionar obras de até três artistas em diálogo com o importante acervo do museu paulistano -, com o Instituto Tomie Ohtake e as Casas Museus da Prefeitura de São Paulo.

O projeto de “A Iminência das Poéticas” inclui cinco módulos. Levando em consideração que a anterior 29.ª Bienal tinha mais de 800 obras de 159 artistas, Oramas conta que havia um “sentimento geral” de que a 30.ª mostra deveria ter número menor de participantes. “Levamos em consideração que deveríamos apresentar a complexidade dos processos criativos”, afirma. As exibições monográficas de artistas terão peso na exposição e o curador fala na concepção de nichos que promoverão pontuações por meio de “contrapontos” entre os trabalhos. “É mostra contemporânea, mas quer constituir campos históricos, funcionando como arqueologia do presente”, completa. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Acesse o site #id30bienal : workshop identidade 30ª bienal e confira os passos do desenvolvimento da identidade visual da 30ª Bienal de São Paulo.

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Leia também : “A Bienal deve criar significados”

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Consulte na Biblioteca o catálogo das edições anteriores da Bienal de São Paulo, inclusive a 29ª.


Acesse também o site da 29ª, 28ª e 27ª Bienal de São Paulo.

2012 é mais cultura

Segue algumas das atrações que devem movimentar o calendário cultural de 2012 em Belo Horizonte (O Tempo online)

– ARTES VISUAIS –

Ainda no primeiro semestre de 2012,
o Inhotim inaugura duas novas galerias dedicadas ao trabalho de relevantes personagens da arte contemporânea nacional: Lygia Pape (foto) e Tunga. Para setembro, está prevista a inauguração de outras duas galerias, ocupadas pelo artista dinamarquês Olafur Eliasson e a espanhola Cristina Iglesias. Importante reduto da arte italiana, a Casa Fiat recebe exposições de Caravaggio, em abril, e De Chiricco, em maio. O MAP, por sua vez, vai abrigar exposições e seminários voltados à domesticidade do espaço coletivo e às relações entre museu e cidade. (Daniel Toledo)

Com curadoria do suíço Joerg Bader e abertura prevista para maio, a exposição “Segue-se a Ver o Que Quisesse” promete ser um dos destaques do Palácio das Artes neste ano. Totalmente dedicada à fotografia, a mostra reúne imagens produzidas em Minas Gerais ao longo dos últimos 60 anos, por cerca de 40 artistas. Em setembro, o Palácio, ao lado de outros espaços da cidade, recebe a 4ª Bienal Brasileira de Design (foto), em sua primeira visita a Belo Horizonte. Também no Palácio, destaque para a mostra da Residência Ceia, em março, e para ampla exposição de videoarte, programada para novembro.(DT)

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– ARTES CÊNICAS –

Ao menos três dos principais grupos mineiros geram expectativa altas para seus novos trabalhos. A Luna Lunera lê a obra de Clarice Lispector como livre inspiração para um espetáculo cujo tema será o prazer. Os ensaios, com direção coletiva (como em “Aqueles Dois”), devem começar entre fevereiro e março. Em agosto, o Espanca! estreia “O Líquido Tátil”, dirigido pelo argentino Daniel Veronese. E o Grupo Galpão reencontra Gabriel Villela para remontagem de “Romeu e Julieta” (abaixo, foto da primeira montagem), que abrirá as Olimpíadas de Londres – e ainda não tem data de apresentação em BH. (Luciana Romagnolli)


À frente da curadoria do FIT-BH (Festival Internacional de Teatro, Palco e Rua 2012), Marcelo Bones ainda está prospectando espetáculos, mas adianta que a programação deve contemplar o centenário de Nelson Rodrigues, os 30 anos do Grupo Galpão e os 20 anos da Cia. do Latão (na foto abaixo, com “Ópera dos Vivos”). De fora do país, aposta em espetáculos que fundem linguagens, como o do compositor alemão Heiner Goebbel (visto no Festival Internacional de Buenos Aires) e um do cineasta britânico Peter Greenaway (“8 1/2 Mulheres”), que constrói obras cinematográficas ao vivo. (LR)

O Sesc Palladium  promete para 2012 uma curadoria mais forte do que a apresentada até então. Destaque para atrações internacionais, dentre as quais a vinda, em junho, da companhia belga Point Zéro, com dois espetáculos sobre textos de Alejandro Jodorowsky (que também deve estar presente), e da companhia do coreógrafo Alvin Ailey (1931-1989), notabilizado por inserir elementos da cultura africana na dança moderna nos EUA. No fim do ano, John Malkovich surge em cena como Casanova, em “The Giacomo Variations” (foto). (LR)

Moda e música em sinergia

Publicado no Jornal OTEMPO em 18/12/2011

TARCISIO D´ALMEIDA

Tão essencial quanto a água que bebemos e hidrata o corpo, a música no mundo da moda exerce um papel crucial, quer seja na trilha sonora de um desfile, num set fotográfico de um editorial de moda ou de campanha publicitária, ou mesmo na abertura de uma exposição. É a música que cria e confere uma atmosfera única para convergir os conceitos idealizados pelo criador e mostrar ao público o que foi pensado estratégica e conceitualmente em termos de moda. A música celebra e sonoriza a moda.

Mesmo a trilha de um desfile que não tenha a emissão acústica de instrumentos musicais e vocais é (de)marcada por uma musicalidade, constituída a partir das marcações dos passos das modelos, por exemplo. Dito isso, é importante pensarmos em música como sons. Todo e qualquer som emitido, com ou sem vocais e instrumentos, pode servir como cenário acústico para um desfile, o que chamamos de trilha sonora. Costumeiramente elaboradas por DJs, as trilhas dos desfiles convergem o ideal estético-conceitual da coleção com uma concepção acústica adequada para acompanhar as exibições peça a peça numa passarela.

Quando temos uma sinergia perfeita entre a música e os looks de uma coleção, somos tomados por uma espécie de completude que nos faz sentir como se “vestíssemos músicas e ouvíssemos moda”. Claro que a cenografia e a iluminação têm papéis muitíssimo relevantes, mas a música na moda também nos serve como uma espécie de selo de autenticação, responsável por nos transportar do mundo real para o irreal, para o imaginário. É o que compreendemos como ambientação perfeita de uma narrativa que serve para mostrar idealizações da moda combinadas a sonoridades – o que nos envolve via sentidos.

Alguns pesquisadores já se debruçaram para entender a relação entre moda e música. A socióloga e professora da University of London Angela McRobbie publicou “In the Culture Society: Art, Fashion and Popular Music” (Routledge, 1999). Nesse livro, a autora investiga as implicações culturais entre temas como arte, moda, feminismo e consumo nas sociedades, além das questões do sexo e da raça na música popular. Outra obra que acaba de ser lançada é “Fashion and Music” (Berg, 2011), da conferencista em estudos culturais e históricos da London College of Fashion Janice Miller, a qual nos revela que “a relação entre moda e música é incorporada e enfatizada pela partilha da linguagem”. Bastante verdadeira essa afirmação pois, basta lembrarmos outra forma de sinergia entre moda e música: a da presença dos ícones da música que se transformam também em ícones fashion.

Independentemente do gênero musical, quer seja rock, pop, dance ou electro, artistas como David Bowie, Madonna, Björk, Fischerspooner, Lady Gaga, dentre outros, de alguma forma, já trataram em suas canções de nomes de marcas da moda ou mesmo estabeleceram uma sinergia e cumplicidade com a moda, ou seja, criando um envolvimento que vem das transformações deles em ícones da moda, que se confundem até mesmo com o ato de se vestir. Adquiriram status de árbitros de estilos únicos que transitam tanto na moda como na música, o que entendemos como ícones.

Tarcisio D´Almeida é professor e pesquisador do curso design de moda da Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais (EBA-UFMG). tarcisiodalmeida@eba.ufmg.br

Instalação de mineiro “terceiro-mundializa” Miami com Kombi e bananas

A Kombi instalação de Paulo Nazareth tinha uma tonelada de bananas, que foram amadurecendo e sendo vendidas pelo próprio artista

Walter Sebastião

A Kombi instalação de Paulo Nazareth tinha uma tonelada de bananas, que foram amadurecendo e sendo vendidas pelo próprio artista.

Deu no New York Times: o mineiro Paulo Nazareth, que mora em Santa Luzia, é o único com bom trabalho na exposição Art positions, setor dedicado aos artistas emergentes da Art Bassel Miami, maior feira de arte contemporânea dos Estados Unidos. Para a crítica Karen Rosemberg, que assina resenha sobre o evento (encerrado dia 4) no suplemento Art&Design, quem está chegando ao circuito artístico faz arte que deixa a sensação de algo já visto e derivado de propostas conhecidas. A única exceção, para ela, é Paulo Nazareth. O mineiro, apresentado pela galeria paulista Mendes Wood, mostrou uma Kombi com uma tonelada de bananas, vendidas por ele mesmo, ao lado de cartazes com textos como: “Não se esqueçam de mim quando eu for nome importante”; “Vendo imagem de homem exótico” etc. A obra chamou atenção e foi parar nas páginas de várias publicações, entre elas o Wall Street Journal.

 A feira de arte já terminou, mas até quinta-feira Paulo Nazareth, com “inglês torto e francês gauche”, vende bananas em Miami. Só que nas ruas de Little Haiti, para onde levou sua instalação. Na Bassel, cada fruta custava US$ 10. Na rua 100 delas estão sendo vendidas a US$ 1. “Descobri que é mais fácil vender banana em feira de arte do que em Little Haiti”, conta, por telefone, explicando que, inicialmente, a comunidade ficou desconfiada da origem (e do preço baixo) das frutas. Aos poucos, habitantes do local passaram a ajudá-lo na empreitada. “Relações ricas com a vida são o material da minha arte”, avisa, explicando que suas ações são políticas, poéticas e estéticas. “Bananas verdes, que, aos poucos, foram ficando amarelas, pintadinhas, dentro da Kombi verde, ficou tudo muito bonito”, observa, vendo no forte aspecto estético um dos motivos do rumor que a obra provocou.

 A instalação [banana banana] ganhou nos Estados Unidos, à revelia do artista, o nome de Mercado de bananas/Mercado de arte. Foca o desejo dos americanos do Sul de migrar para o Norte. A peça faz parte de série chamada Notícias da América, em desenvolvimento a partir de residência artística em Nova York. Trabalho que o artista trocou por vagar pela cidade, durante dois dias, com o movimento Occupy Wal Street e também por viagens pela América Latina, aprofundando pesquisa sobre deslocamentos. “Estou na exposição para ‘terceiro-mundializar’ os Estados Unidos, começando por Miami”, provoca Paulo. Promete, agora, trazer notícias dos EUA para a América Latina, em outra exposição, mostrando trabalhos realizados durante as viagens. Estima que, “se não se perder” na viagem de volta (que será feita por terra, exatamente como ele foi para os Estados Unidos) e “se Deus quiser”, estará de volta ao Brasil em três meses.

BLACK POWER  A série Notícias da América, para Paulo, começou no momento em que ele foi tirar o passaporte e o computador recusou sua foto, já que o padrão não reconhecia o cabelo black power, sendo ele identificado como índio com cocar. Na hora de tirar o visto de entrada nos Estados Unidos, devido ao mesmo problema, teve de colocar um turbante, o que facilitou identificação como árabe. “Foi a expansão do conceito de pessoa, de lugar e homenagem à minha origem”, brinca o artista. “Sou neto de krenaks, bisneto de italiano, asiático segundo teoria do povoamento da América. Me chamo Paulo Nazareth de Jesus, isto é, tenho nome de cidade do Oriente Médio – Nazaré – e católico, dado por mãe, que é do candomblé”, acrescenta, com humor. O bom andamento da carreira credita a promessas da mãe, para São Judas Tadeu, padroeiro das causas impossíveis, para que os projetos dele dessem certo. Para trabalhar, teve de driblar problemas nas fronteiras entre México, Guatemala e Estados Unidos.

 Mais: como Paulo Nazareth queria chegar aos Estados Unidos impregnado de América Latina, foi por terra. Ficou, inclusive, “seis meses e 15 dias sem lavar os pés”, para que a poeira (“que não considero sujeira”) permanecesse neles. Usou meias, na fronteira com o México, para que fiscais não vissem como estavam os pés dele, só lavados no Rio Hudson, já em Nova York. Também jogou no rio, em 28 de outubro, imagem de São Judas Tadeu. “Quando me inscrevi no Bolsa Pampulha, ela rezou para o santo para que os meus projetos dessem certo e as rezas continuam ajudando”, garante. A participação na Art Bassel rendeu vários convites para eventos na Europa, mas Paulo quer chegar lá, “depois de passar pela África”, repetindo o que fez agora.

Perfil

 Paulo Nazareth tem 34 anos, nasceu em Governador Valadares, vive e trabalha em Belo Horizonte. É formado em desenho e gravura, estudou entalhe em madeira com Mestre Orlando. Ganhou o Bolsa Pampulha (2004-2005), já recebeu prêmios em salões, participou de mostras de performances, realizou diversas mostras em BH, São Paulo, Goiânia, Porto Alegre. Evita definições de arte, mas suspeita que o essencial sejam ações transformadoras. Motivo de satisfação é estar amadurecendo projeto cultivado há muito tempo, de linguagem pop, conceitual e contemporânea. Quando convidado a falar sobre seus trabalhos, ele diz: “É um pouco performance.

 Prefiro chamar de arte relacional, arte de conduta. É a minha maneira de me conduzir no mundo. Vou sendo todo dia transformado pelas situações, pelos ecos do que vai ocorrendo ao meu redor. Não se trata de relações apenas intelectuais, presencio relações fortes, emocionantes com a vida. Conheci um artista que não tinha malas e disse, por isso, não viajar. Vendo que viajei com um embornal, de saco de linhagem, ficou surpreso. E chegou à conclusão de que podia fazer o mesmo. É tudo muito forte, cheio de emoções. Há coisas que são para mim como um soco, que faz girar minha cabeça, exatamente como se faz com o pescoço do frango para matá-lo”.

Os fotógrafos que retrataram Picasso

Por Diana Ribeiro

Há 130 anos, nascia um dos artistas mais conceituados de sempre: Pablo Picasso. Pintor, escultor e até poeta, a sua arte versátil e revolucionária transformou por completo a própria ideia de arte. O fascínio pela fotografia permitiu que grandes profissionais da época registassem o seu percurso de vida. Diante da objectiva de uma máquina, Picasso pousava e sorria como em poucas ocasiões. As imagens de Robert Capa, Cartier-Bresson, Brassai ou David Duncan espelham as metamorfoses de um génio em constante insatisfação.

Sobre Picasso já se escreveu quase tudo. Já se fizeram inumeráveis biografias, já se analisou toda a sua obra. O facto é que a vida atribulada do pintor espanhol andou sempre de mãos dadas com a arte: a cada reeinvenção pessoal, uma outra etapa surgia na sua obra. “Eu não procuro, encontro”, terá dito. E a cada novo encontro, Picasso vivia uma vida dentro da sua própria vida.

Pintou alguns dos quadros mais famosos de sempre, produziu esculturas e até escreveu poemas. Ainda assim, Picasso tinha um fascinio especial pela fotografia. Conviveu durante anos com profissionais da área, que acabaram por registar vários momentos do seu percurso de vida. Diante da objectiva da câmara, não hesitava em pousar nem tão pouco ser protagonista de retratos mais intimistas. Robert Capa, por exemplo, fotografou-o na praia com Françoise Gilot. Já David Duncan “apanhou-o” na banheira.

Por David Seymour e Robert Capa feita.

A vida sentida na arte

Pablo Picasso nasceu a 25 de Outubro de 1881, em Málaga. A sua veia artística revelou-se cedo, através do talento natural para o desenho. Estudou Belas Artes na Corunha, em Barcelona e Madrid. Apesar da breve estadia na capital espanhola, Picasso descobre a obra de grandes mestres – Vélasquez, El Greco e Goya – que serviriam de inspiração para muitos dos seus quadros. Entretanto, visita Paris e regressa a Barcelona doente. Decide abandonar os estudos, passando a frequentar tertúlias de grupos de artistas influenciados pela cultura francesa. Em 1900, expõe pela primeira vez desenhos seus. E um ano depois funda com um amigo, em Madrid, a revista “Arte Joven”. Além de ilustrar (todo) o primeiro número, deixa de assinar os seus trabalhos como “Pablo Ruiz y Picasso”, para passar a ser simplesmente “Picasso”.

A partir de então, a obra de Picasso reinventa-se a cada mudança pessoal, onde as suas vivências servem de ponto de partida para novos encontros artísticos. “A grandeza deste indiscutível génio esteve sobretudo na forma como transformou uma obra de arte num estado de ânimo, em como a realidade passou a ser sentida pelo espectador e pelo artista” afirma Paloma Esteban, do Museo Nacional de Arte Reina Sofia. As suas paixões ( Fernande Olivier, Olga Koklova, Marie- Thérèse Walter, Dora Maar ou Françoise Gilot), seriam pintadas de forma distinta.

A sua versatilidade originou ainda várias esculturas, peças de cerâmica e a escrita de poemas. Eternamente insatisfeito, Picasso não procurava, no entanto, a perfeição, mas sim superar-se a cada nova etapa. Talvez por isso, diz-se que vivia constantemente mal-humorado e que pouco sorria. Só que, perante a objectiva de uma câmara, entusiasmava-se. Todo aquele equipamento o fascinava, o que permitiu inúmeros registos fotográficos da sua vida.

O fascínio pela fotografia

David Duncan trabalhou ao lado de Picasso cerca de vinte anos. Era amigo de Robert Capa, um dos grandes fotógrafos com quem havia privado. Capa tinha prometido que os apresentaria, mas a sua morte levou a que Duncan se apresentasse pessoalmente na casa do pintor em Cannes. Picasso, emocionando-se com a visita e com o anel de ouro que este lhe ofereceu (onde estavam gravados os seus nomes), convidou-o a entrar no estúdio. E, claro, na sua intimidade. Duncan fotografou-o como ninguém: na banheira, a dançar, a pintar e até de cuecas. “Ele dizia que Duncan era fantástico, porque era tão delicado e discreto que se esquecia dele. Por não atrapalhar os seus movimentos no atelier, Picasso permitiu que tirasse fotografias que nunca teria permitido a nenhum outro fotógrafo” revelou Christine Ruiz-Picasso, sua nora. A amizade entre ambos durou até à morte de Picasso, em 1973.

Brassai conviveu igualmente de perto com Picasso. Durante a II Guerra Mundial esteve no atelier de Paris a fotografar as suas esculturas para um livro de arte. Mas o que poderia ter sido apenas um encontro profissional transformou-se numa grande amizade. Picasso elogiava a forma como o fotógrafo trabalhava e fazia questão de assistir às suas secções. Com humor, tratava-o por “terrorista”quando se assustava com as explosões provocadas pelo pó de magnésio, usado para iluminar as imagens. Em 1964, Brassai publica “Conversas com Picasso”, revelando entre os diálogos a verdadeira admiração do artista pelas técnicas da fotografia.

Cartier-Bresson, um dos fundadores do fotojornalismo, é autor de vários retratos do pintor na década de 40. Assim como Robert Doisneau, David Seymour (que o registou junto de “Guernica” por exemplo) ou Man Ray. As imagens deixadas por estes grandes nomes acompanham o percurso de Picasso, tal como as suas obras. Uma vida atribulada, mas repleta de talento, que começou há 130 anos e nos chega até hoje.

Picasso e Françoise Gilot vistos por Robert Doisneau.
A sós, por Man Ray e por Yousuf Karsh.


Exposições

Exposição “LUGARALGUM | OTHERWHERE”

Marginalia Project em parceria com Luisa Horta

Importante núcleo de experimentação em arte e tecnologia em Belo Horizonte, o Marginalia+Lab abre suas portas na próxima sexta com uma nova atração. Trata-se da videoinstalação interativa “lugaralgum | otherwhere”, criada pelo coletivo Marginalia Project em parceria com a artista Luisa Horta.

Neste trabalho, os artistas convidam o público a manipular uma lanterna e explorar, por meio dela, imagens até então ocultas no interior de uma sala escura. “Nesse trabalho, a ideia de interação veio a partir da necessidade de explorar um componente específico da técnica fotográfica: o processo de criação da imagem. Em síntese, nossa ideia foi trazer essa experiência, geralmente restrita ao artista, para o público e o momento da fruição”, conta André Mintz, integrante do Marginalia Project.

“Buscamos explorar o processo construído na presença do público, de acordo com sua subjetividade e seu tempo de interação com cada imagem”, completa. Entre as imagens reveladas pela luz das lanternas, estão interferências presenciais de Luisa Horta em algumas paisagens naturais e outras, projetadas.

Visitação:
17 de novembro a 18 de dezembro, entrada gratuita

Horário:
Quinta a domingo, das 15h às 21h

Local:
Marginalia+Lab (av. Brasil, 75, cj. 3, Santa Efigênia)

Sobre os artistas:

Marginalia Project

Formado por Aline X, André Mintz e Pedro Veneroso, o coletivo Marginalia Project cria trabalhos que abordam a tecnologia de formas não convencionais, imbuindo sua utilização de perspectivas estéticas – geralmente críticas, sempre lúdicas. Em atividade desde 2008, o grupo expôs trabalhos em Belo Horizonte, São Paulo, Recife e Nanchang, China. Desde 2009, o Marginalia Project mantém em Belo Horizonte o Marginalia+Lab, laboratório de arte e tecnologia que já sediou o desenvolvimento de dezenas de projetos, em residências e workshops.

A instalação “lugaralgum” é um desdobramento do protótipo Marginalia 1.0 Beta, primeira experiência do grupo, vencedor do Festival Conexões Tecnológicas, do Instituto Sergio Motta, em 2008.

Luisa Horta

Luísa Horta é artista visual, graduanda em Artes Gráficas e Fotografia pela UFMG. Atua nas artes circenses, na dança e no cinema. É colaboradora frequente de projetos cênicos e performáticos, alternando funções como diretora de arte e pesquisadora. Possui como fio condutor do seu trabalho as relações de tensão e construção do corpo mediado pela arquitetura, investigando a foto e o vídeo como performance e investindo no cruzamento de linguagens como integração das várias facetas de sua formação.

Recentemente fez a direção de arte da cena curta “Rosângelas”, direção de Júlia Branco – selecionada para o Festival de Cenas Curtas do Galpão Cine Horto, participou da residência Ateliê Aberto #2, no espaço cultural Casa Tomada – SP, e das exposições coletivas “Bienal Zero” – Bienal Universitária da América Latina na Escola Guignard e “Corpo Coletivo” no Centro Cultural da UFMG.

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Biblioteca "Professor Marcello de Vasconcellos Coelho" da Escola de Belas Artes da UFMG