Instalação de mineiro “terceiro-mundializa” Miami com Kombi e bananas

A Kombi instalação de Paulo Nazareth tinha uma tonelada de bananas, que foram amadurecendo e sendo vendidas pelo próprio artista

Walter Sebastião

A Kombi instalação de Paulo Nazareth tinha uma tonelada de bananas, que foram amadurecendo e sendo vendidas pelo próprio artista.

Deu no New York Times: o mineiro Paulo Nazareth, que mora em Santa Luzia, é o único com bom trabalho na exposição Art positions, setor dedicado aos artistas emergentes da Art Bassel Miami, maior feira de arte contemporânea dos Estados Unidos. Para a crítica Karen Rosemberg, que assina resenha sobre o evento (encerrado dia 4) no suplemento Art&Design, quem está chegando ao circuito artístico faz arte que deixa a sensação de algo já visto e derivado de propostas conhecidas. A única exceção, para ela, é Paulo Nazareth. O mineiro, apresentado pela galeria paulista Mendes Wood, mostrou uma Kombi com uma tonelada de bananas, vendidas por ele mesmo, ao lado de cartazes com textos como: “Não se esqueçam de mim quando eu for nome importante”; “Vendo imagem de homem exótico” etc. A obra chamou atenção e foi parar nas páginas de várias publicações, entre elas o Wall Street Journal.

 A feira de arte já terminou, mas até quinta-feira Paulo Nazareth, com “inglês torto e francês gauche”, vende bananas em Miami. Só que nas ruas de Little Haiti, para onde levou sua instalação. Na Bassel, cada fruta custava US$ 10. Na rua 100 delas estão sendo vendidas a US$ 1. “Descobri que é mais fácil vender banana em feira de arte do que em Little Haiti”, conta, por telefone, explicando que, inicialmente, a comunidade ficou desconfiada da origem (e do preço baixo) das frutas. Aos poucos, habitantes do local passaram a ajudá-lo na empreitada. “Relações ricas com a vida são o material da minha arte”, avisa, explicando que suas ações são políticas, poéticas e estéticas. “Bananas verdes, que, aos poucos, foram ficando amarelas, pintadinhas, dentro da Kombi verde, ficou tudo muito bonito”, observa, vendo no forte aspecto estético um dos motivos do rumor que a obra provocou.

 A instalação [banana banana] ganhou nos Estados Unidos, à revelia do artista, o nome de Mercado de bananas/Mercado de arte. Foca o desejo dos americanos do Sul de migrar para o Norte. A peça faz parte de série chamada Notícias da América, em desenvolvimento a partir de residência artística em Nova York. Trabalho que o artista trocou por vagar pela cidade, durante dois dias, com o movimento Occupy Wal Street e também por viagens pela América Latina, aprofundando pesquisa sobre deslocamentos. “Estou na exposição para ‘terceiro-mundializar’ os Estados Unidos, começando por Miami”, provoca Paulo. Promete, agora, trazer notícias dos EUA para a América Latina, em outra exposição, mostrando trabalhos realizados durante as viagens. Estima que, “se não se perder” na viagem de volta (que será feita por terra, exatamente como ele foi para os Estados Unidos) e “se Deus quiser”, estará de volta ao Brasil em três meses.

BLACK POWER  A série Notícias da América, para Paulo, começou no momento em que ele foi tirar o passaporte e o computador recusou sua foto, já que o padrão não reconhecia o cabelo black power, sendo ele identificado como índio com cocar. Na hora de tirar o visto de entrada nos Estados Unidos, devido ao mesmo problema, teve de colocar um turbante, o que facilitou identificação como árabe. “Foi a expansão do conceito de pessoa, de lugar e homenagem à minha origem”, brinca o artista. “Sou neto de krenaks, bisneto de italiano, asiático segundo teoria do povoamento da América. Me chamo Paulo Nazareth de Jesus, isto é, tenho nome de cidade do Oriente Médio – Nazaré – e católico, dado por mãe, que é do candomblé”, acrescenta, com humor. O bom andamento da carreira credita a promessas da mãe, para São Judas Tadeu, padroeiro das causas impossíveis, para que os projetos dele dessem certo. Para trabalhar, teve de driblar problemas nas fronteiras entre México, Guatemala e Estados Unidos.

 Mais: como Paulo Nazareth queria chegar aos Estados Unidos impregnado de América Latina, foi por terra. Ficou, inclusive, “seis meses e 15 dias sem lavar os pés”, para que a poeira (“que não considero sujeira”) permanecesse neles. Usou meias, na fronteira com o México, para que fiscais não vissem como estavam os pés dele, só lavados no Rio Hudson, já em Nova York. Também jogou no rio, em 28 de outubro, imagem de São Judas Tadeu. “Quando me inscrevi no Bolsa Pampulha, ela rezou para o santo para que os meus projetos dessem certo e as rezas continuam ajudando”, garante. A participação na Art Bassel rendeu vários convites para eventos na Europa, mas Paulo quer chegar lá, “depois de passar pela África”, repetindo o que fez agora.

Perfil

 Paulo Nazareth tem 34 anos, nasceu em Governador Valadares, vive e trabalha em Belo Horizonte. É formado em desenho e gravura, estudou entalhe em madeira com Mestre Orlando. Ganhou o Bolsa Pampulha (2004-2005), já recebeu prêmios em salões, participou de mostras de performances, realizou diversas mostras em BH, São Paulo, Goiânia, Porto Alegre. Evita definições de arte, mas suspeita que o essencial sejam ações transformadoras. Motivo de satisfação é estar amadurecendo projeto cultivado há muito tempo, de linguagem pop, conceitual e contemporânea. Quando convidado a falar sobre seus trabalhos, ele diz: “É um pouco performance.

 Prefiro chamar de arte relacional, arte de conduta. É a minha maneira de me conduzir no mundo. Vou sendo todo dia transformado pelas situações, pelos ecos do que vai ocorrendo ao meu redor. Não se trata de relações apenas intelectuais, presencio relações fortes, emocionantes com a vida. Conheci um artista que não tinha malas e disse, por isso, não viajar. Vendo que viajei com um embornal, de saco de linhagem, ficou surpreso. E chegou à conclusão de que podia fazer o mesmo. É tudo muito forte, cheio de emoções. Há coisas que são para mim como um soco, que faz girar minha cabeça, exatamente como se faz com o pescoço do frango para matá-lo”.

Os fotógrafos que retrataram Picasso

Por Diana Ribeiro

Há 130 anos, nascia um dos artistas mais conceituados de sempre: Pablo Picasso. Pintor, escultor e até poeta, a sua arte versátil e revolucionária transformou por completo a própria ideia de arte. O fascínio pela fotografia permitiu que grandes profissionais da época registassem o seu percurso de vida. Diante da objectiva de uma máquina, Picasso pousava e sorria como em poucas ocasiões. As imagens de Robert Capa, Cartier-Bresson, Brassai ou David Duncan espelham as metamorfoses de um génio em constante insatisfação.

Sobre Picasso já se escreveu quase tudo. Já se fizeram inumeráveis biografias, já se analisou toda a sua obra. O facto é que a vida atribulada do pintor espanhol andou sempre de mãos dadas com a arte: a cada reeinvenção pessoal, uma outra etapa surgia na sua obra. “Eu não procuro, encontro”, terá dito. E a cada novo encontro, Picasso vivia uma vida dentro da sua própria vida.

Pintou alguns dos quadros mais famosos de sempre, produziu esculturas e até escreveu poemas. Ainda assim, Picasso tinha um fascinio especial pela fotografia. Conviveu durante anos com profissionais da área, que acabaram por registar vários momentos do seu percurso de vida. Diante da objectiva da câmara, não hesitava em pousar nem tão pouco ser protagonista de retratos mais intimistas. Robert Capa, por exemplo, fotografou-o na praia com Françoise Gilot. Já David Duncan “apanhou-o” na banheira.

Por David Seymour e Robert Capa feita.

A vida sentida na arte

Pablo Picasso nasceu a 25 de Outubro de 1881, em Málaga. A sua veia artística revelou-se cedo, através do talento natural para o desenho. Estudou Belas Artes na Corunha, em Barcelona e Madrid. Apesar da breve estadia na capital espanhola, Picasso descobre a obra de grandes mestres – Vélasquez, El Greco e Goya – que serviriam de inspiração para muitos dos seus quadros. Entretanto, visita Paris e regressa a Barcelona doente. Decide abandonar os estudos, passando a frequentar tertúlias de grupos de artistas influenciados pela cultura francesa. Em 1900, expõe pela primeira vez desenhos seus. E um ano depois funda com um amigo, em Madrid, a revista “Arte Joven”. Além de ilustrar (todo) o primeiro número, deixa de assinar os seus trabalhos como “Pablo Ruiz y Picasso”, para passar a ser simplesmente “Picasso”.

A partir de então, a obra de Picasso reinventa-se a cada mudança pessoal, onde as suas vivências servem de ponto de partida para novos encontros artísticos. “A grandeza deste indiscutível génio esteve sobretudo na forma como transformou uma obra de arte num estado de ânimo, em como a realidade passou a ser sentida pelo espectador e pelo artista” afirma Paloma Esteban, do Museo Nacional de Arte Reina Sofia. As suas paixões ( Fernande Olivier, Olga Koklova, Marie- Thérèse Walter, Dora Maar ou Françoise Gilot), seriam pintadas de forma distinta.

A sua versatilidade originou ainda várias esculturas, peças de cerâmica e a escrita de poemas. Eternamente insatisfeito, Picasso não procurava, no entanto, a perfeição, mas sim superar-se a cada nova etapa. Talvez por isso, diz-se que vivia constantemente mal-humorado e que pouco sorria. Só que, perante a objectiva de uma câmara, entusiasmava-se. Todo aquele equipamento o fascinava, o que permitiu inúmeros registos fotográficos da sua vida.

O fascínio pela fotografia

David Duncan trabalhou ao lado de Picasso cerca de vinte anos. Era amigo de Robert Capa, um dos grandes fotógrafos com quem havia privado. Capa tinha prometido que os apresentaria, mas a sua morte levou a que Duncan se apresentasse pessoalmente na casa do pintor em Cannes. Picasso, emocionando-se com a visita e com o anel de ouro que este lhe ofereceu (onde estavam gravados os seus nomes), convidou-o a entrar no estúdio. E, claro, na sua intimidade. Duncan fotografou-o como ninguém: na banheira, a dançar, a pintar e até de cuecas. “Ele dizia que Duncan era fantástico, porque era tão delicado e discreto que se esquecia dele. Por não atrapalhar os seus movimentos no atelier, Picasso permitiu que tirasse fotografias que nunca teria permitido a nenhum outro fotógrafo” revelou Christine Ruiz-Picasso, sua nora. A amizade entre ambos durou até à morte de Picasso, em 1973.

Brassai conviveu igualmente de perto com Picasso. Durante a II Guerra Mundial esteve no atelier de Paris a fotografar as suas esculturas para um livro de arte. Mas o que poderia ter sido apenas um encontro profissional transformou-se numa grande amizade. Picasso elogiava a forma como o fotógrafo trabalhava e fazia questão de assistir às suas secções. Com humor, tratava-o por “terrorista”quando se assustava com as explosões provocadas pelo pó de magnésio, usado para iluminar as imagens. Em 1964, Brassai publica “Conversas com Picasso”, revelando entre os diálogos a verdadeira admiração do artista pelas técnicas da fotografia.

Cartier-Bresson, um dos fundadores do fotojornalismo, é autor de vários retratos do pintor na década de 40. Assim como Robert Doisneau, David Seymour (que o registou junto de “Guernica” por exemplo) ou Man Ray. As imagens deixadas por estes grandes nomes acompanham o percurso de Picasso, tal como as suas obras. Uma vida atribulada, mas repleta de talento, que começou há 130 anos e nos chega até hoje.

Picasso e Françoise Gilot vistos por Robert Doisneau.
A sós, por Man Ray e por Yousuf Karsh.


Exposições

Exposição “LUGARALGUM | OTHERWHERE”

Marginalia Project em parceria com Luisa Horta

Importante núcleo de experimentação em arte e tecnologia em Belo Horizonte, o Marginalia+Lab abre suas portas na próxima sexta com uma nova atração. Trata-se da videoinstalação interativa “lugaralgum | otherwhere”, criada pelo coletivo Marginalia Project em parceria com a artista Luisa Horta.

Neste trabalho, os artistas convidam o público a manipular uma lanterna e explorar, por meio dela, imagens até então ocultas no interior de uma sala escura. “Nesse trabalho, a ideia de interação veio a partir da necessidade de explorar um componente específico da técnica fotográfica: o processo de criação da imagem. Em síntese, nossa ideia foi trazer essa experiência, geralmente restrita ao artista, para o público e o momento da fruição”, conta André Mintz, integrante do Marginalia Project.

“Buscamos explorar o processo construído na presença do público, de acordo com sua subjetividade e seu tempo de interação com cada imagem”, completa. Entre as imagens reveladas pela luz das lanternas, estão interferências presenciais de Luisa Horta em algumas paisagens naturais e outras, projetadas.

Visitação:
17 de novembro a 18 de dezembro, entrada gratuita

Horário:
Quinta a domingo, das 15h às 21h

Local:
Marginalia+Lab (av. Brasil, 75, cj. 3, Santa Efigênia)

Sobre os artistas:

Marginalia Project

Formado por Aline X, André Mintz e Pedro Veneroso, o coletivo Marginalia Project cria trabalhos que abordam a tecnologia de formas não convencionais, imbuindo sua utilização de perspectivas estéticas – geralmente críticas, sempre lúdicas. Em atividade desde 2008, o grupo expôs trabalhos em Belo Horizonte, São Paulo, Recife e Nanchang, China. Desde 2009, o Marginalia Project mantém em Belo Horizonte o Marginalia+Lab, laboratório de arte e tecnologia que já sediou o desenvolvimento de dezenas de projetos, em residências e workshops.

A instalação “lugaralgum” é um desdobramento do protótipo Marginalia 1.0 Beta, primeira experiência do grupo, vencedor do Festival Conexões Tecnológicas, do Instituto Sergio Motta, em 2008.

Luisa Horta

Luísa Horta é artista visual, graduanda em Artes Gráficas e Fotografia pela UFMG. Atua nas artes circenses, na dança e no cinema. É colaboradora frequente de projetos cênicos e performáticos, alternando funções como diretora de arte e pesquisadora. Possui como fio condutor do seu trabalho as relações de tensão e construção do corpo mediado pela arquitetura, investigando a foto e o vídeo como performance e investindo no cruzamento de linguagens como integração das várias facetas de sua formação.

Recentemente fez a direção de arte da cena curta “Rosângelas”, direção de Júlia Branco – selecionada para o Festival de Cenas Curtas do Galpão Cine Horto, participou da residência Ateliê Aberto #2, no espaço cultural Casa Tomada – SP, e das exposições coletivas “Bienal Zero” – Bienal Universitária da América Latina na Escola Guignard e “Corpo Coletivo” no Centro Cultural da UFMG.

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Exposições

Exposição REMINISCÊNCIAS CORPÓREAS

Texto: Divulgação
Começa no dia 08 de novembro a exposição Reminiscências Corpóreas, na Galeria de Arte Paulo Campos Guimarães, Foyer da Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa. A artista plástica Luciana Diniz mostra nesta exposição individual seu trabalho de arte sobre fotografias. Reminiscências Corpóreas é um olhar diferenciado sobre memória e identidade. A imagem se transforma em poesia sobre experiências e percorre um caminho delicado entre o desejo e a aversão, o que seduz e o que banaliza, o implícito e o explícito. A exposição tem entrada franca.

A Artista

Luciana Diniz tem 26 anos e é natural de Belo Horizonte. Designer formada pela Escola de Design da UEMG, trabalha com design gráfico e comunicação visual. Como artista plástica, iniciou seus estudos em 2005 na Escola de Belas Artes da UFMG, em Belo Horizonte. Participou das exposições “EntreRiscos” no Centro cultural da UFMG, “Jovens ilustradores” na Biblioteca Pública da UFMG e “Poligrafic0.5” na Escola de Teatro da UFMG. Foi destaque da FAPEMIG com a apresentação do artigo “Itinerário crítico de Mario Pedrosa: da vanguarda à retaguarda.” em 2008, no Projeto de Iniciação Científica “Historiografia da Arte Brasileira”. O atual trabalho iniciou‐se em 2010 dentro da Escola de Belas Artes e foi um dos vencedores do Edital 2011 da Superintendência de Bibliotecas de Minas Gerais, para a exposição de Artes Visuais.

Visitação:
08 a 30 de novembro de 2011

Horário:
Segunda a sexta das 08 às 20 horas. Sábado das 08 às 12 horas

Local: Galeria de Arte Paulo Campos Guimarães, Foyer da Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa.
Rua da Bahia, 1889 – Funcionários, Belo Horizonte.

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Professora da Escola de Belas Artes é tem trabalhos expostos nos Estados Unidos

Texto: EBA-Comunicação e Divulgação

 A professora Maria do Céu Diel, do Departamento de Desenho da Escola de Belas Artes da UFMG, terá seus trabalhos exibidos em Denver, nos Estados Unidos. Quem recebe a coletânea de obras da professora é a galeria Abecedarian, especializada em livros de artista, trabalhos em papel, colagens e montagens.

A exposição “Paper, Paint and Travel” começa no dia 06 de outubro e fica até o dia 29 do mesmo mês. Com este título, a artista busca mostrar em suas reminiscências de viagens, as memórias híbridas que existem entre o vivido e o sonhado, imagens que se completam no sono. No dia 7 de outubro, haverá uma recepção com a professora.

Finalmente, ´Hot Luxury´ no Brasil

Publicado no Jornal OTEMPO em 23/10/2011

TARCISIO D´ALMEIDA

Entender o luxo na vida contemporânea demanda novas maneiras de interpretação do significado da palavra “luxo”, que adquiriu, durante a evolução da humanidade, novas tentativas de compreensão. Historicamente, a noção de luxo surgiu na França com a apreciação pelas joias e seu fascínio exercido em mulheres e homens. Esse princípio de apreciação estética era exportado pela nobreza francesa para outros países da Europa. Em seguida, o luxo começa a ser praticado pelo universo da moda, também na França.

Contudo, as vivências nas relações das “vidas líquidas” – para utilizarmos a nomenclatura do pensamento do filósofo Zigmunt Bauman – do mundo contemporâneo registra uma nova realidade, pautada especialmente na mudança de paradigmas. A interpretação e compreensão do luxo adquirem novas configurações, as quais direcionaram seu novo entendimento para o universo do abstrato, ou seja, o luxo não é mais a simples tradução de bens materiais e que traduzam a riqueza e a ostentação, mas também o tempo. Este seu aceleramento desenfreado, isto é, a falta de tempo para tudo o que o homem desejaria realizar, tornou-se o principal tema do novo mapeamento para explicar o luxo no contemporâneo.

É óbvio que permanecemos também com a noção de luxo centrada nos bens materiais, símbolos do consumo que agregaram em si o adjetivo “luxo”. É dentro desse princípio de reflexão e discussões que a editora de moda Suzy Menkes, papisa e autoridade do jornalismo de moda britânico e respeitada mundialmente, idealizou e criou, no ano de 2005, o evento que batizou com o gigantesco título “Luxury”. Gigantesco não no tamanho da palavra, mas sim na semântica histórica que ela carrega consigo. Menkes e seus convidados têm se reunido anualmente em cidades no mundo que têm despertado as atenções do planeta. E, pela primeira vez, o evento chega à América do Sul, ao Brasil e, em especial, à cidade de São Paulo. Ganhou um adjetivo ao título original: “Hot Luxury”, e acontece nos dias 10 e 11 de novembro próximo, no Hotel Unique.

No casting de convidados para a edição brasileira, Menkes mesclou nomes tops da criação de moda, mas também nomes de destaque que fazem os bastidores e potencializam o consumo de moda e de luxo pelo planeta. O fotógrafo de moda Mario Testino, os estilistas Sarah Burton (da Alexander McQueen), Diane von Furstenberg, Carolina Herrera, Lenny Niemeyer e Francisco Costa (da Calvin Klein), além do designer de calçados Christian Louboutin, são alguns dos criadores que estarão discutindo moda e suas inter-relações.

No site: www.iguatemisaopaulo.com.br/iht2011 você tem acesso a programação completa.

Tarcisio D´Almeida é professor e pesquisador do curso Design de Moda da Escola de Belas Artes, da Universidade Federal de Minas Gerais (EBA-UFMG). tarcisiodalmeida@eba.ufmg.br

Entre a sociologia e a estética

MARCELO MIRANDA

Publicado no Jornal OTEMPO em 24/10/2011
Drama. Cena de ´Os Inquilinos´, filme de Sergio Bianchi que será exibido na mostra

Em sua sexta edição, a Mostra Cinema e Direitos Humanos na América do Sul iniciou seu “braço” mineiro a partir do dia 24-11-2011, no Cine Humberto Mauro. Até o início de dezembro, o evento terá passado por todas as capitais do país, mais Brasília.

Na programação, 47 filmes de dez países sul-americanos se revezam até o dia 31. É raro, hoje – ou inexistente -, outro evento cultural que se espalhe de forma tão ampla. Trata-se da conjugação de forças da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, com produção da Cinemateca Brasileira (vinculada ao MinC), patrocínio da Petrobras e produções locais (por aqui, fica a cargo da Pimenta Filmes).

Conforme afirma o curador, Francisco César Filho, “a mostra cumpre relevante papel no mapeamento e exibição de uma produção que, infelizmente, desfruta de parca circulação no território brasileiro”. Estão representados na seleção trabalhos da Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai, Peru, Uruguai, Argentina e Venezuela – além do Brasil.

Para a versão 2011, o curador procurou manter o olhar de outros anos: equilibrar uma certa noção necessariamente sociológica do evento (já que ele é muito claramente aberto à discussão sobre inclusão e questões relativas aos direitos humanos, evidentemente) com um viés de exigência estética que faça os filmes dialogarem com a tradição do cinema em si.

“A arte cinematográfica como opção de linguagem se orienta por obras que priorizam, além da temática, também a criação audiovisual e o apuro técnico”, afirma o curador. “Dessa forma, títulos ficcionais, renomados diretores e atores admirados fazem parte de uma programação que busca atingir também o imaginário do público”.

Daí que o espectador curioso poderá se deparar com obras fortes, como os brasileiros “Os Inquilinos”, de Sergio Bianchi, e “Céu sem Eternidade”, de Eliane Caffé, ou o argentino “Confissões”, de Gualberto Ferrari. Ou mesmo com uma inusitada animação colombiana, “Pequenas Vozes”, de Oscar Andrade e Jairo Eduardo Carrillo, que retrata crianças removidas de suas casas por conta de conflitos armados em seus países.

Um outro destaque de bastante relevância, também brasileiro, é o documentário “Diário de uma Busca”, de Flávia Castro, inédito no circuito de Belo Horizonte (ainda que tenha estreado em outras cidades). Premiado em Gramado no ano passado, segue a investigação da diretora sobre o passado de seu pai, militante político nos anos 1960.

Programação
As sessões da Mostra Cinema e Direitos Humanos ocorrem no Cine Humberto Mauro (av. Afonso Pena, 1.537) de hoje a 31/10.

Filmes e horários em www.cinedireitoshumanos.org.br

Inclusão

Filmes têm legendas e audiodescrição

Como elemento integrante de sua própria lógica, a Mostra Cinema e Direitos Humanos na América do Sul exibe todos os filmes com legendas especiais para deficientes auditivos e audiodescrição a quem é portador de deficiência visual. A entrada é sempre gratuita.

Animação. ´Pequenas Vozes´, desenho produzido na Colômbia sobre crianças fora de suas casas

A programação inclui curtas e longas-metragens, em programas montados de forma que os filmes dialoguem e atraiam mais gente.

“É um marco inegável de sua vocação democrática na difusão dos diversos direitos do homem”, registra o curador, Francisco César Filho, no site oficial da mostra. (MM)

Teatro Universitário comemora 59 anos com espetáculos, workshops e oficinas

Em comemoração aos 59 anos do Teatro Universitário (TU), a Escola de Belas-Artes recebe, no mês de outubro, diversos espetáculos, workshops e oficinas, promovidos pelo Centro de Documentação do Teatro Universitário (CPD/TU).
Em comemoração aos 59 anos do Teatro Universitário (TU), a Escola de Belas-Artes recebe, no mês de outubro, diversos espetáculos, workshops e oficinas, promovidos pelo Centro de Documentação do Teatro Universitário (CPD/TU).

Nesta segunda, dia 17, às 17h, o professor de Educação Física Gregório Hernández apresentou seu projeto de mestrado, em andamento, que tem como foco o ator e a rua. Formado pelo TU, o estudo de Hernández parte da antropologia ecológica e de performance para unir os dois campos de sua atuação. Hoje, dia 19, quarta, Fernando Linhares discute A máscara como segunda natureza do ator: o treinamento do ator como uma técnica em ação.

No dia 25, terça, das 14h às 17h, o Instituto Universitário Nacional Del Arte, de Buenos Aires, apresenta o espetáculo El cadáver de um recuerdo enterrado vivo. A peça conta a história de uma empresa de alumínio que, após a morte de sua proprietária, vive um surto de depressão entre os funcionários. As entradas serão distribuídas uma hora antes no local.

Na quarta, 26, haverá bate-papo com o ator, pesquisador e professor Renato Ferracini sobre O corpo na arte. As atividades vão até o dia 30 e acontecem na sala Otávio Cardoso da EBA. Veja aprogramação completa.
Nesta segunda, dia 17, às 17h, o professor de Educação Física Gregório Hernández vai apresentar seu projeto de mestrado, em andamento, que tem como foco o ator e a rua. Formado pelo TU, o estudo de Hernández parte da antropologia ecológica e de performance para unir os dois campos de sua atuação. No dia 19, quarta, Fernando Linhares discute A máscara como segunda natureza do ator: o treinamento do ator como uma técnica em ação.

No dia 25, terça, das 14h às 17h, o Instituto Universitário Nacional Del Arte, de Buenos Aires, apresenta o espetáculo El cadáver de um recuerdo enterrado vivo. A peça conta a história de uma empresa de alumínio que, após a morte de sua proprietária, vive um surto de depressão entre os funcionários. As entradas serão distribuídas uma hora antes no local.

Na quarta, 26, haverá bate-papo com o ator, pesquisador e professor Renato Ferracini sobre O corpo na arte. As atividades vão até o dia 30 e acontecem na sala Otávio Cardoso da EBA. Veja aprogramaçãocompleta.

Curtas produzidos por alunos e ex-alunos da EBA são exibidos em mostra internacional

quinta-feira, 6 de outubro de 2011, às 12h01

Quatro curtas de alunos e ex-alunos da Escola de Belas-Artes participam da 9ª edição da Mostra Udigrudi Mundial de Animação (Mumia), que acontece até 12 de outubro no Cine Humberto Mauro. Veja a programação no blog da mostra.

O Céu no andar de baixo, de Leonardo Cata Preta, narra a história de Francisco, que registra fatos importantes de sua vida tirando fotografias do céu. Borboleta, de Karla Oliveira, conta o primeiro encontro de uma menina com uma borboleta.

Breves instantes, de Mirian Rolim, trabalha com a ideia da efemeridade barroca através dos tapetes de serragem confeccionados para festas religiosas em Ouro Preto. O professor do Departamento de Fotografia, Teatro e Cinema (FTC) da Escola de Belas-Artes (EBA) Simon Brethé apresenta sua obra Concerto.

A Mumia, que divulga a produção audiovisual de animação, exibe este ano curtas-metragens regionais, nacionais e internacionais. Além do Palácio das Artes, outros pontos de BH, como o Centro de Cultura Belo Horizonte, a Casa do Baile, o Cineclube Joaquim Pedro de Andrade, o Cineclube Sabotage e Cineclube Uma Tela no Meu Bairro, recebem a mostra.

Moda : A formação e a direção criativa

TARCISIO D´ALMEIDA

Publicado no Jornal OTEMPO em 02/10/2011

Todas as carreiras têm suas definições, especificidades e destinações. E a moda ainda contempla uma outra noção de pertencimento: a de integrar o que os pensadores da atualidade definem como “indústria criativa”. Ela forma profissionais produtores de bens artísticos e estéticos, mas têm também forte apelo de mercado.

 O primeiro autor a observar essa relação da moda com a produção de mercadorias, além de ideais estéticos, foi o filósofo alemão Walter Benjamin. “A moda é filha dileta do capitalismo”, disse no final do século XIX, em Paris, ao produzir as reflexões que integram o livro “Passagens”. Foi ele quem enxergou o que muitos atualmente tentam explicar como duelo entre criação e mercado. Duelo este que, por sinal, direcionou a moda para uma viela em que as regras ditatoriais do mercado esmagam a liberdade autônoma e criativa. Sim, a moda não foge desse embate, pois é uma área que mescla as duas vertentes. Mas sempre penso (e defendo) que é possível ser conceitual. O verdadeiro criador de moda precisa ter assinatura, precisa ser autoral.

 Dito isso, podemos pensar especificamente sobre o aspecto criativo e sobre o profissional que se forma em moda. A própria definição do adjetivo para o profissional que atua na área tem se alterado na evolução histórica em decorrência direta de novas percepções sobre a indústria criativa da moda. Na época de criação da alta costura, nos anos 1860, era atribuído ao profissional o adjetivo de “costureiro”. Entramos no século XX e, a partir dos 1960, começa-se a nomear os criadores visionários do prêt-à-porter como “estilistas”. Por uma forte influência da língua inglesa e pelas maneiras de se interpretar o desenvolvimento do design no final do século XX, chama-se os criadores como “designers de moda”.

 E, recentemente, em plenos anos 2000, testemunhamos uma nova atribuição para quem cria e produz moda: a de “diretor criativo” e “diretor de estilo”. A papisa francesa do ensino de moda, Marie Rucki, sentenciou recentemente que “acabou a era das grandes estrelas da moda; a direção criativa é o grande futuro da moda”. É importante pensarmos sobre essa nomenclatura, pois ela é reflexo direto de uma nova compreensão das multiplicidades do campo. Para a primeira adjetivação, a de “diretor criativo”, compreende-se toda a configuração de uma nova realidade que contempla, além da noção de estilismo, a ideia de o profissional estar pronto para as adversidades e exigências que a carreira exige. Alguém com formação completa em direções conceituais de estilo, de imagem, de produção, dentre outras.

 Já a definição de “diretor de estilo” contempla, hegemonicamente, o profissional que concebe propostas conceituais de estilos de moda. O importante aqui é entendermos que a nova realidade da moda centra-se na questão da criação e como todos a interpretarão. De maneira que o passaporte para o sucesso no mercado que anda saturado de profissionais sem formação forte é o que costumo afirmar como olhar além das fronteiras da obviedade. É preciso enxergar onde não se vê e perceber que as novas sensibilidades demandam estratégias que devem ser, simultaneamente, criativa e mercadológica. Afinal de contas, moda deve ser sempre um exercício estético para a humanidade que a consome simbólica e mercadologicamente.

 Tarcisio D´Almeida é professor e pesquisador do curso Design de Moda da Escola de Belas Artes, da Universidade Federal de Minas Gerais (EBA-UFMG). tarcisiodalmeida@eba.ufmg.br

Em destaque, LIVRO:

O livro de Zénon Piéters

Patricia Franca-Huchet, artista e professora da Escola de Belas Artes da UFMG, apresenta sua obra intitulada  “O livro de Zénon Piéters”. Trata-se de um livro de artista.

Zénon Piéters, heterônimo da artista, é um fotógrafo melancólico amador e livreiro que “possui o olhar do pintor, percebe que a realidade das coisas podem ser intensamente apreendidas através de uma transposição sensorial e espiritual sobre a frontalidade (o papel da fotografia e a tela da pintura)”, segundo a própria artista.

A autora escreve um pouco sobre o livro:

“Este livro é um trabalho que envolve um canteiro literário, a figura do heterônimo, uma longa pesquisa, apresentações de imagens, a ficção e a invenção de si mesmo. Não me sinto a autora, mas a compiladora — ou a sonhadora — de uma obra imaginária que é o relêvo de diversos horizontes que afloraram como imagens e textos. (…)

A pintura é uma articulação entre algo cerebral e a matéria e isso é de uma grande sensualidade. Esse tecido entre algo psíquico que atravessa a matéria e que vai surgir na superfície do quadro é um ponto muito avançado, muito sofisticado. Poder-se-ia apontar uma grande força que se encontra no justo desequilíbrio. Zénon parece procurá-lo: o justo desequilíbrio que é a essência de nossa capacidade de ser, ter e estar presente. (…)

A mise-en-scène e a teatralidade da imagem fotográfica e pictural é o que interessa-lhe [Zénon] em seu modo psíquico e mental de lidar com a imagem. É constante leitor de poesia e literatura; isso ajudou-lhe a trabalhar com a realidade. Essa dimensão, nós a encontramos particularmente em sua ambição de prolongar a pintura na imagem fotográfica e lhe dar uma espessura de sentido, até mesmo simbólica — em uma iconografia no presente — mas não sem constatar o quão impossível é o movimento de doação da pintura à câmara escura. Zénon acredita que fazemos passos falsos quando julgamos poder esquecer a grande tradição da arte. Nada de rupturas para Zénon que crê no movimento de abertura oferecido pelos limites dela no tempo. (…)”

Acesse: O espectador fotógrafo: Zénon Piéters

Biblioteca "Professor Marcello de Vasconcellos Coelho" da Escola de Belas Artes da UFMG