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Recosturando Portinari na Casa Fiat de Cultura

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Com curadoria de Ronaldo Fraga, exposição apresenta processo de restauro da obra “Civilização Mineira” e coleção de moda inspirada no maior pintor modernista brasileiro Da poesia do céu de Brodósqui à delicadeza das andorinhas. Das brincadeiras de infância aos retirantes nordestinos. Candido Portinari buscou inspiração nas mais simples formas e foi capaz de inspirar gerações com sua arte e originalidade. É um pouco desse universo que a exposição Recosturando Portinari na Casa Fiat de Cultura apresenta ao público, entre 26 de agosto e 26 de outubro, no Circuito Cultural Praça da Liberdade. Com curadoria do estilista e designer Ronaldo Fraga, a mostra apresenta os bastidores da recuperação de uma obra de arte – por meio do processo de restauro do quadro “Civilização Mineira” (1959) – e faz o visitante entrar no mundo de Portinari sob um olhar sensível e criativo.

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Maior quadro de Cândido Portinari em Minas Gerais, Civilização Mineira ganha os holofotes da exposição. Representando a mudança da capital mineira, de Ouro Preto para Belo Horizonte, em 1897, e a evolução da sociedade local, o painel, de 2,34m X 8,14m, passou por restauração no último ano, quando foram descobertos uma intensa ocorrência de cupins e o esbranquiçamento de partes da obra – provocado pelo branco feito de titânio. Instalações e ambientes sensoriais foram idealizados por Ronaldo Fraga para contar as etapas dessa restauração – de forma lúdica e interativa –, fazendo com que o público se sinta parte do quadro e do passo a passo da recuperação de uma obra de um dos principais representantes do modernismo no Brasil. O Making of e a representação de um ateliê de restauro, além de uma visão sobre a vida e a obra do mestre modernista, poderão ser apreciados pelo público nesse mergulho portinaresco.

Esse minucioso processo de restauração aproxima-se do complexo trabalho de criação de um artista. Por isso, lado a lado ao processo de restauro, será apresentada a obra de Portinari como fonte de inspiração para uma criação de moda, a coleção O Caderno Secreto de Candido Portinari. O pintor é fonte inesgotável de inspiração para diferentes vetores da cultura brasileira, e, pela primeira vez, é transposto para a moda. Sob a ótica de Ronaldo Fraga, detalhes, traços, formas e cores características de Portinari ganham releitura na moda, deixando as telas para ganhar as ruas. Balões de São João, pipas erecos portin 2 azulejos transformam-se em verdadeiros legados contemporâneos da arte de Portinari. Os visitantes vão conferir o making of da criação do estilista (croquis e pesquisa) e concepções inéditas, tendo como ponto de partida a obra Civilização Mineira.

Para o presidente da Casa Fiat de Cultura, José Eduardo de Lima Pereira, realizar essa exposição de forma tão lúdica é a maneira ideal de fazer com que o público conheça Portinari e Ronaldo Fraga em sua essência. “O olhar sensível de Ronaldo Fraga tem muito do menino que ele foi e sempre será. Ao ‘recosturar’ Portinari, ele busca um companheiro de brincadeiras infantis no menino de Brodósqui. Gente grande que não tem coragem de pôr pra fora a criança que ainda é não devia ter permissão para visitar esse trabalho, essa deliciosa recostura que faz pensar e que diverte. Como tudo o mais que Ronaldo Fraga faz”, ressalta o presidente.

Para Ronaldo Fraga, Recosturando Portinari é uma oportunidade de cada vez mais pessoas conhecerem o trabalho desse artista que tanto representou o Brasil em suas telas. “É uma forma de fazer com que as novas gerações se familiarizem com essa arte, com o processo de criação e o universorecos portin 3 inspiracional de Candido Portinari. É a perpetuação de um legado que deve ser múltiplas vezes preservado e apreciado”, explica o curador.

Quatro salas compõem a mostra, que utiliza as mais diversas linguagens, possibilitando que o público se envolva de forma interativa com o quadro Civilização Mineira e com o mundo de Portinari. Na primeira delas, inconfidentes mineiros dão as boas vindas aos visitantes, numa instalação com os elementos do quadro. Na sequência, espantalhos – figuras tão recorrentes na obra do pintor – relembram momentos marcantes da vida de Portinari e destaques de sua obra, enquanto ao lado, serão revelados os bastidores do ateliê de restauro do quadro Civilização Mineira. Num outro ambiente, os aromas da infância de Portinari ganham vida, proporcionando uma experiência multissensorial. Com chão coberto de grãos de café e sob balões de São João, Ronaldo Fraga leva para o mundo da moda cores, formas e visões desse importante nome do modernismo brasileiro.

A exposição é uma realização da Casa Fiat de Cultura, em parceria com a Associação de Amigos do Museu Mineiro, com patrocínio da Fiat Automóveis, parceria institucional da Associação Pró-Produção das Artes (APPA), apoio cultural do Café Três Corações e produção da Paralelo 3.

Candido Portinari

De origem humilde, Portinari ganhou o mundo pintando o que via e o querecos portin 4 sentia. Suas pinceladas suaves foram capazes de descrever o sofrimento, a dor e a alegria de um povo da forma mais singela e marcante, assinando seu estilo único na história da arte. Considerado por historiadores, críticos e colecionadores de arte – assim como por grande parte do público –como um dos maiores nomes da pintura brasileira do século XX, ele é um dos principais representantes do modernismo no Brasil. Candido Portinari nasceu em 30 de dezembro de 1903, na fazenda de café Santa Rosa, no povoado de Brodósqui, em São Paulo. Foi o segundo dos 12 filhos dos imigrantes italianos Baptista Portinari e Dominga Torquato. Se as escolas tradicionais não o atraíram – cursou até o terceiro ano primário –, aos poucos, as artes começaram a povoar seu imaginário. Começou a pintar aos nove anos e, um ano depois, já chamava atenção com o desenho “Retrato de Carlos Gomes”, feito para homenagear a Banda de Música Carlos Gomes, na qual o pai tocava bombardino.

A vocação para as artes levou-o ao Rio de Janeiro. Aos 15 anos, mudou-se para a então capital do Brasil para estudar no Liceu de Artes e Ofícios. Em 1922, fez a primeira participação em uma exposição, quando ganhou menção honrosa com um retrato possivelmente inspirado no amigo Ezequiel Fonseca Filho. Em 1928, ganhou, com o quadro “Retrato de Olegário Mariano”, na Exposição Geral de Belas Artes, o Prêmio de Viagem à Europa. Em seguida, foi estudar na França, em Paris. A distância, ao perceber como os grandes artistas sintetizavam a cultura de origem nas próprias obras, pôde enxergar melhor sua terra e tomar a decisão que marcaria sua trajetória: pintar sua gente. Assim tornou-se Portinari.

Em Paris, o artista conheceu a uruguaia Maria Victoria Martinelli, de 19 anos. Um ano depois, o casal voltou ao país e, para sobreviver, Portinari passou a pintar intensamente. Em 1934, começou a lecionar pintura mural e de cavalete no Instituto de Artes da Universidade do Distrito Federal, no Rio, e deu início à criação de painéis públicos. Seu único filho, João Candido, nasceu em 1939, quando pintava os painéis “Jangadas do Nordeste”, “Cena Gaúcha” e “Noite de São João” para o Pavilhão Brasileiro da Feira Mundial de Nova York. Em Minas Gerais, em 1944, foi marcante a inauguração da Pampulha, em Belo Horizonte, onde criou algumas das mais significativas obras. O então prefeito Juscelino Kubitschek pediu a Oscar Niemeyer, autor do projeto da Igreja de São Francisco de Assis, que fosse decorada por Portinari com azulejos na parte externa e pintura mural no interior.

Após a participação na “I Bienal de São Paulo”, foi convidado pelo Governo Brasileiro a criar dois painéis intitulados “Guerra e Paz” para a sede das Nações Unidas (ONU), em Nova York. Três anos depois, foi internado com hemorragia intestinal. Diagnóstico: sintoma causado pelo uso de tintas contendo metais pesados, como chumbo, cádmio e prata. A doença se agravou, e, por determinação médica, parou de pintar. De volta ao ofício, em 1955, participou da III Bienal de São Paulo, com os estudos para o painel, e foi eleito pelo International Fine Arts Council, de Nova York, o “melhor pintor do ano”. Concluiu “Guerra e Paz” em 1956: “Foi o melhor trabalho que já fiz: dedico-o à humanidade”. Em 1962, em 6 de fevereiro, morreu vítima de complicações pela intoxicação das tintas que o consagraram. Foi sepultado no Cemitério São João Batista, no Rio. Porém, seu legado como um dos principais nomes da pintura brasileira do século 20, graças ao trabalho do filho João Candido, à frente do Projeto Portinari, continua para as novas gerações.

O quadro Civilização Mineira

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“Civilização Mineira” (1959) é o maior quadro de Cândido Portinari em Minas Gerais, com a medida de 2,34m x 8,14m, composto por 12 chapas de madeira compensada, que se encontra instalado no hall de entrada da Casa Fiat de Cultura. Obra de Candido Portinari, que representa a mudança da capital mineira, de Ouro Preto para Belo Horizonte, em 1897, “Civilização Mineira” foi produzido em têmpera sobre madeira, em 1959, no Rio de Janeiro, para decorar a sede do Banco do Estado de Minas Gerais (antigo Banco Agrícola Hipotecário de Minas Gerais). O projeto foi executado entre fevereiro e abril do mesmo ano da encomenda, o que demonstra a concentração com que orecos portin 5 pintor trabalhava, e foi inaugurado juntamente à nova sede do banco, em maio de 1960.

No início de 1967, o Banco Agrícola Hipotecário de Minas Gerais, então proprietário da obra, foi transformado, pela fusão com o Banco Mineiro da Produção, no Banco do Estado de Minas Gerais, BEMGE. Nessa ocasião, o quadro de Portinari foi transferido para Belo Horizonte e instalado na sede da nova instituição financeira, na Praça Sete de Setembro, onde permaneceu até outubro do mesmo ano, oportunidade em que foi transferido ao Palácio dos Despachos, para a inauguração do edifício, que seria a sede administrativa do Governo do Estado de Minas Gerais, na capital. Desde então, encontra-se instalado no hall de entrada do edifício. O quadro Civilização Mineira, de Candido Portinari, é obra caracteristicamente modernista, sem abrir mão de fundamentos da pintura clássica, claramente dominados pelo pintor. A pintura se caracteriza por tons pastel e pela representação das paisagens urbanas, perpassada por linhas diagonais e faixas tonais, que criam arestas e remetem ao cubismo de uso recorrente do artista. A técnica pictórica, aparentemente, é mista e contrasta tinta rala. A composição da obra é dividida ao meio por duas seções: do lado esquerdo, a cidade de Ouro Preto é representada por um conjunto de casario, igrejas e telhados, e, do lado direito, está a moderna Belo Horizonte, com seus edifícios, fiação elétrica – criando ritmos poéticos, com andorinhas pousadas sobre os fios – e construções.

Restauro

O projeto de recuperação da obra de Portinari foi uma iniciativa da Casa Fiat de Cultura, em parceria com Associação Pró-Cultura e Promoção das Artes (APPA), Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (IEPHA-MG) e Ministério da Cultura, com patrocínio da Fiat Automóveis, e marcou a primeira atividade da Casa Fiat de Cultura no Circuito Cultural Praça da Liberdade.

recos portin 6Por representar a memória histórica de Minas Gerais, o quadro Civilização Mineira é um especial exemplar dentro do conjunto de obras de Portinari existente em Belo Horizonte. Sua importância é reconhecida por meio da proteção legal do Estado e do Município. O monumento é propriedade do Estado e está sob a guarda do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais – IEPHA/MG, sendo ainda tombado, pelo Município de Belo Horizonte, como patrimônio cultural do conjunto urbano da Praça da Liberdade. O quadro passou por restauro há 11 anos, mas, devido a manchas e degradações ocasionais, percebeu-se a necessidade de um novo processo. Foi realizado um trabalho de pesquisa e análise, com o objetivo de coletar o maior número possível de informações acerca do artista, da técnica e dos materiais que utilizava, assim como sobre a iconografia do painel, os estudos estilístico-formais, o contexto histórico em que foi produzido e o estado de conservação da obra, após mais de 50 anos de exposição no prédio em que se encontra.

recos portin 7Os maiores percalços encontrados pela equipe de restauro foram referentes à intensa ocorrência de cupins e ao esbranquiçamento de partes da obra, provocado pelo branco de titânio. Dentre as iniciativas de investigação, realizaram-se estudos químicos dos materiais pictóricos – por meio de análises não destrutivas por fluorescência de raios- X – em diversos pontos da obra, com o intuito de determinar a paleta de cores da obra e os locais de retirada de amostras. Cada ponto foi medido e fotografado para observação mais precisa da informação. Posteriormente, seguiu-se ao diagnóstico e à documentação científica por imagem, com uso de fotografias por luz visível e fluorescência de ultravioleta.

A imagem por luz visível, captada por câmera fotográfica tradicional, é um registro da pintura em seu estado atual e real e possibilitou a geração de imagens em alta resolução da obra, tanto em “fatias” quanto integral. Aplicou-se o gerenciamento de cores, técnica que permite manter a consistência dos tons e faz com que a imagem digital apresente tonalidades mais próximas da imagem original.

Já a fluorescência em ultravioleta é uma imagem diagnóstica, que permite aos restauradores analisar a camada pictórica e o estado de conservação dos vernizes superficiais. Com este tipo de fotografia, foi possível verificar se houve repintura, além de diferenciar tons e cores originais daqueles aplicados por intervenções anteriores e saber, com exatidão, o local em que foi feita a operação. Dessa forma, conseguiu-se dar nova vida ao quadro, com as cores e beleza que Portinari idealizou tantas décadas atrás.

Arte na moda

O que Van Gogh, Mondrian, Matisse, Monet, Poliakoff, Picasso, Braque, Frida Kahlo, Degas, Dalí e Escher teriam em comum? Além de serem grandes nomes das artes plásticas, todos foram inspiração, alguns mais de uma vez, para estilistas. Foram fonte de beleza para a criação no mundo da moda, que cada vez mais se torna uma extensão artística de outras expressões, indo das telas para as ruas e popularizando a arte. Recentemente, foi a vez de Ronaldo Fraga buscar inspiração nas telas, na vida e na obra de Candido Portinari, artista que despertou a vontade de encher as ruas com suas cores, formas e pinceladas.

20140826085226114958e (1)Apaixonado pela cultura brasileira, e sempre empenhado em fazer moda como um vetor cultural, não é a primeira vez que Fraga buscou em artistas brasileiros o fio condutor para fazer sua própria arte. Carlos Drummond de Andrade, Mario de Andrade, Guimarães Rosa, Graciliano Ramos e Nara Leão, por exemplo, já figuraram em suas criações e mostraram ao mundo a riqueza cultural do Brasil. Os desenhos que Portinari fazia ainda pequeno, a chegada do circo em sua cidade, as noites de São João, pipas soltas pelo ar e espantalhos coloridos nas plantações de café aparecem em belos bordados em fios soltos ou estampados de maneira gráfica e colorida. “Vou pintar a minha gente com aquela cor e aquelas roupas. Com seus pés grandes e descalços, suas mazelas e suas festas”, disse Portinari certa vez. Ronaldo Fraga capta essa vontade do grande pintor de se fazer ver as belezas de um povo que sempre arrumou maneiras de sorrir.

Programa Educativo

O Programa Educativo é peça fundamental no trabalho de valorização e ampliação do conhecimento proporcionado pela Casa Fiat de Cultura a seu público. Para cada exposição, são idealizados uma temática e um conceito a serem trabalhados em visitas orientadas, oficinas, programação paralela, assessoria ao professor e outras atividades. Na mostra Recosturando Portinari, o Programa Educativo, que conta com concepção da educadora Rachel Vianna e coordenação da educadora Manuela Tolentino, aborda a vida e obra de Portinari e seu legado inspirador nas artes. Segundo Rachel Vianna, os educadores vão envolver os visitantes com repetições visuais, que transitam tanto nos quadros de Portinari quanto nas estampas da moda. “Será possível perceber os ritmos, formas, superfícies e cores característicos desse grande mestre do modernismo. O artista criava ritmos visuais por meio da repetição, do movimento no espaço em sua composição. Isso também é muito comum na moda. As artes se misturam”, explica.

Uma equipe de educadores multidisciplinares está à disposição para atender todos os públicos: crianças, jovens, adultos, estudantes das redes pública e privada e grupos como associações e ONGs, dentre outros. O Programa é um dos diferenciais com suas visitas orientadas e um motivo a mais para conhecer a exposição Recosturando Portinari na Casa Fiat de Cultura.

O agendamento para grupos, escolas e assessoria ao professor poderá ser feito pelo telefone (31) 3289-8910 ou pelo e-mail agendamento2@casafiat.com.br. Além das visitas de grupos e instituições, o Programa Educativo oferece visitas temáticas ao público e às famílias nos fins de semana, sem necessidade de agendamento. Toda a programação tem entrada gratuita.

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SERVIÇO

Recosturando Portinari
Casa Fiat de Cultura

De 26 de agosto a 26 de outubro de 2014
Visitação: 3ª a 6ª das 10h às 21h | sábados, domingos e feriados das 10h às 18h
Entrada gratuita
Praça da Liberdade, 10 – Funcionários – BH/MG.
Telefone: (31) 3289-8900
www.casafiatdecultura.com.br
casafiat@casafiat.com.br
facebook.com.br/casafiatdecultura
Instagram:@casafiatdecultura
Informações para a imprensa:
Personal Press
Polliane Eliziário – polliane.eliziario@personalpress.jor.br – (31) 9788-3029

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Cosulte também na Biblioteca da Escola de Belas Artes, os livros sobre este artista, sobre Moda e Ronaldo Fraga :

 DAMM, Flavio.; PORTINARI, Cândido. Um Candido pintor Portinari. 1. ed. [S.l.]: Expressão e Cultura, 1971. 1v.

PORTINARI, Candido. Candido Portinari. São Paulo: Aleksander B. Landau, c1972. 1v.

PORTINARI, Cândido; PENNA, Christina Scarabôtolo Gabaglia; PORTINARI, João Candido.; PROJETO PORTINARI. Candido Portinari: catálogo raisonné = catalogue raisonné. Rio de Janeiro: Projeto Portinari, 2004. 5 v.

PORTINARI, Cândido; BARDI, P. M. Cem obras primas de Portinari. [São Paulo]: Museu de Arte de São Paulo ‘Assis Chateaubriand’, 1970. [72] p.

QUEIROZ, João Rodolfo; BOTELHO, Reinaldo. Ronaldo Fraga. São Paulo: Cosac & Naify, 2007. 149 p. (Coleção Moda brasileira.)

POLLINI, Denise; ALFONSO, José Luis Hernández. Moda no Brasil: criadores contemporâneos e memórias. São Paulo: MAB, FAAP, 2012. 173 P. + 1 DVD.

As medidas da preservação : Tese da Escola de Belas-Artes avalia parâmetros de conservação do patrimônio histórico de Congonhas

Luana Macieira

Willi Gonçalves: busca de um modelo sustentável de conservação do patrimônio
Willi Gonçalves: busca de um modelo sustentável de conservação do patrimônio

Iluminação ambiente, temperatura, poluição e umidade relativa do ar são atores que impactam a integridade do patrimônio histórico. Compreender como essas influências externas agem sobre um dos principais santuários de Congonhas do Campo, para, a partir deles, formular parâmetros de conservação é o eixo da tese Métricas de preservação e simulações computacionais como ferramentas diagnósticas para a conservação de coleções: um estudo de caso no Sítio Patrimônio Mundial de Congonhas, Minas Gerais, Brasil, defendida por Willi de Barros Gonçalves junto ao programa de Pós-graduação da Escola de Belas-Artes da UFMG.

Como objeto de pesquisa, Willi Gonçalves analisou a capela da ceia do Santuário Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas, interior de Minas Gerais. O local, que foi eleito patrimônio histórico da humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), conta com peças do barroco mineiro datadas do século 18.

“Escolhemos essa capela devido à importância histórica e cultural desse patrimônio, que recebe milhares de visitantes todos os anos. Além disso, como encontra-se próxima a uma região onde há mineração, ela sofre com a ação da poeira gerada pela atividade”, explica Gonçalves.

A pesquisa trabalhou em duas vertentes: as métricas de preservação e as simulações computacionais. A primeira etapa do estudo visou à obtenção de parâmetros quantitativos que facilitam as ações de quem trabalha com preservação de patrimônio. Esses parâmetros englobam variáveis ambientais que interferem na deterioração dos bens culturais, como iluminação, temperatura, poluição e umidade relativa do ar.

As medições feitas no ambiente analisado (no caso, o interior da capela da ceia), determinam como os agentes externos atuam sobre o patrimônio, indicando, assim, as melhores condições para que seja preservado.

Correntes de ar

Segundo o pesquisador, simultaneamente ao estudo das métricas de preservação, foram feitas simulações computacionais para avaliar como a deterioração ocorre no lugar. Foi estudada principalmente a ação das correntes de ar no seu interior.

“A capela que analisamos só tem uma entrada, porém a porta tem várias aberturas, o que faz com que haja correntes de ar circulando permanentemente no local. Por meio das ferramentas de simulação no computador, estudamos quais intervenções poderiam ser feitas na capela para melhor conservá-la”, diz.

Nas simulações, foram observadas as possibilidades de vedação da abertura da capela e de um sistema que puxasse o ar de fora para dentro apenas quando apresentasse condições favoráveis. Além das simulações em computador, foram feitos testes em um túnel de vento do Departamento de Engenharia Mecânica da UFMG.

“Usamos uma série de aparelhos para medir as condições do ambiente interno da capela. Uma das medições mais importantes foi um escaneamento feito com escaner 3D, que gera uma fotografia tridimensional e muito detalhada do ambiente. Com esse escaneamento, as simulações de computador e os testes no túnel de vento, conseguimos entender como o ar circula em volta das esculturas no interior

Sustentabilidade

Para Willi de Barros Gonçalves, apesar de inovador no Brasil, esse tipo de estudo em patrimônios históricos móveis e imóveis já foi feito em regiões da Itália e do Egito, importante, segundo ele, para a conservação sustentável dos patrimônios.

“A sustentabilidade dos sistemas de climatização é algo importante em um cenário de mudanças climáticas globais. Observando como o ar circula ao redor e dentro da capela, podemos criar modelos sustentáveis para que o local se conserve usando apenas a circulação natural ou forçada das correntes de ar, sem a necessidade de um sistema de ar-condicionado”, exemplifica.

No caso do Santuário Bom Jesus do Matosinhos, o pesquisador ressalta que as alternativas sustentáveis de conservação devem, também, focar na poeira gerada pelas mineradoras da região.

“Na capela, uma das nossas conclusões foi a de que as estratégias de conservação devem ser feitas pensando sempre no fato de que o ar que circula na região, em alguns meses do ano, apresenta elevado nível de sujeira e poluição oriundas da atividade mineradora. Esse é um dos grandes problemas que os métodos de conservação naquele local devem combater”, explica.

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Tese: Métricas de preservação e simulações computacionais como ferramentas diagnósticas para a conservação de coleções: um estudo de caso no Sítio Patrimônio Mundial de Congonhas, Minas Gerais, Brasil
Autor: Willi de Barros Gonçalves
Orientador: Luiz Antônio Cruz Souza

Descobertas as verdadeiras cores de Van Gogh

Novas pesquisas do Museu Van Gogh apontam que despigmentação pode ter alterado cores de alguns dos quadros mais famosos do pintor.

 Descoberta: quais as verdadeiras cores de Van Gogh?

A imagem do quadro O Quarto, de Vincent Van Gogh, é uma que os apaixonados por arte sabem de cor: a cama amarelada contrastando com as paredes azuis e tristes.

Aparentemente, porém, essa não era a aparência original da obra, nem a forma como Van Gogh a concebeu. Um estudo de oito anos sendo conduzido pelo Museu Van Gogh, em parceria com a Agência Holandesa de Patrimônio Cultural e a Shell (sim, do petróleo) está provando que nem todos os mitos sobre o pintor são reais.

 Descoberta: quais as verdadeiras cores de Van Gogh?

Assim como quando o suicídio de Van Gogh foi questionado, fica enfraquecida a imagem de pintor desequilibrado, impulsivo, que simplesmente jogava tinta às pressas na tela para criar suas poderosas imagens.

Utilizando um raio-X fluorescente e um microscópio de elétrons, os pesquisadores conseguiram ver as linhas-guias e esboços que o artista traçava antes de começar a pintar. Ficou claro que ele fazia um uso minucioso de técnicas de perspectiva e profundidade, e tinha grande preocupação com as proporções dos objetos.

Em outras palavras, Van Gogh era um artista muito mais metódico do que a imagem popular faz acreditar, e ele compunha seus quadros com cuidado e de forma bastante consciente.

O que mais muda, porém, é o uso de cores nos quadros de Van Gogh.

O vermelho sumiu

Uma descoberta surpreendente do estudo diz respeito às mudanças nas cores dos quadros, que podem ter sofrido com a degradação de alguns pigmentos.

Na virada do século XX, época de Van Gogh, estava apenas começando a venda de pigmentos prontos (até então, os artistas misturavam seus materiais todos no estúdio). O problema é que a indústria incipiente ainda não sabia como esses pigmentos se comportariam com o passar dos meses e dos anos.

Resultado: alguns tons – no caso de Van Gogh, notadamente os tons de vermelho – foram sumindo.

Assim, no caso do famoso quadro O quartoo artista teria originalmente pintado as paredes de um tom violeta. Conforme o pigmento vermelho foi sumindo, sobrou apenas o azul que foi misturado para originar o tom.

van gogh mudanca02 Descoberta: quais as verdadeiras cores de Van Gogh?

O mais interessante é que a mudança de cor alterou totalmente a atmosfera da obra. A combinação de amarelo com lilás é mais suave, dando uma sensação mais acolhedora ao ambiente.

“[A combinação de cores original] não é tão contrastante quanto a que conhecemos”, explica Marije Vallekoop, chefe de pesquisa e apresentação do Museu Van Gogh. “Era algo que ele queria expressar na pintura – tranquilidade e relaxamento”.

Outras obras também tiveram mudanças curiosas. Algumas pinturas de flores, frutos e árvores, por exemplo, mudaram totalmente: botões de flor que eram cor de rosa viraram brancos, levando pesquisadores a acreditarem que eram outras espécies de plantas.

FalaCultura. c2013.                                                                                               Disponível em: <http://falacultura.com/2013/07/01/cores-van-gogh/>. Acesso em: 2 jul. 2013.

“A RESTAURAÇÃO é apenas o último passo”

Entrevista com Antônio Agamellotti

Sgamellotti: não se faz conservação só com recursos científicos
Sgamellotti: não se faz conservação só com recursos científicos (foto Foca Lisboa)

Há seis anos a comunidade europeia montou infraestrutura física e de especialistas para conservação de seu patrimônio cultural considerada única no mundo. Reunindo 21 instituições, o consórcio, conhecido como Eu-ARTECH, conta com o original Molab, ou Mobile Laboratory, sediado na Universidade de Perugia, na Itália, e, há algum tempo, parceiro da UFMG. Recentemente, o grupo italiano manifestou interesse em formalizar acordos no Brasil, especialmente com a Universidade, ancorado em trabalhos com a Escola de Belas-Artes, que abriga núcleo de reconhecida competência na área. “Queremos dar continuidade aos projetos e promover intercâmbio de professores e alunos”, disse o químico e professor Antonio Sgamellotti, um dos mais respeitados cientistas em conservação da Europa. No início do mês, abriu sua agenda de trabalho no Brasil para receber a reportagem do BOLETIM para a qual concedeu a entrevista que se segue.

Por que investir em um laboratório móvel?

O Molab é a única infraestrutura europeia de conservação do patrimônio cultural que funciona de forma inversa à tradicional. Ou seja, com instrumentos originais portáteis para análise não destrutiva da obra de arte: ela é que vai até o usuário. Isso ocorre porque algumas obras não podem ser movidas no trabalho de conservação, como os grandes monumentos ou afrescos. Há artefatos que são tirados do lugar, mas não é bom movê-los, por dois motivos: Primeiro, por razão ética. Qualquer movimentação causa-lhes um estresse considerável e devemos proporcionar menos traumas possíveis à sua estrutura. O segundo tem motivação econômica: o alto custo dos seguros.

Quando menciona que o Molab possui instrumentos únicos isso significa que há um desenvolvimento específico da indústria para ele? Descreva essa dinâmica de inovação tecnológica definida pela necessidade de conservação.

Há instrumentos produzidos pela indústria para determinados objetivos e depois nós os adaptamos para o uso nos bens culturais. Outros equipamentos são desenvolvidos academicamente e depois sua tecnologia é transferida para a indústria. Em alguns casos, são protótipos únicos, mas, em outros, acabam comercializados com a indústria.

Os estudos do Molab parecem se apoiar numa abordagem mais técnico-científica. No Brasil, no entanto, predomina uma análise mais histórica dos objetos artísticos…

Isso não é apenas no Brasil. Diria que, inicialmente, a história da arte é a história das ideias. Mas, aos poucos, está sobressaindo a visão de que o conhecimento do percurso do artista também traz contribuições, e elas são, naturalmente, interdisciplinares e requerem os cientistas, os conservadores, os restauradores e os historiadores da arte. Creio que o Brasil deva ter o papel de guiar os países da América Latina nesse processo de integração dos aspectos científicos e os histórico-artísticos e de conservação. E, mais particularmente, a UFMG, pela competência que já desenvolveu, tem todas as possibilidades de se tornar o centro de coordenação desse processo. Porém, a interação da ciência com aspectos histórico-artísticos tem como contexto o estágio de desenvolvimento de cada país. O Brasil passa por um desenvolvimento inacreditável e isso é ótimo. Mas quando ocorre de modo súbito e veloz apresenta algum risco: o de perder, durante o processo de modernização, o contato com a realidade histórica, com a identidade do patrimônio – e isso é como perder ou negligenciar a identidade de um país. Creio que o Brasil, por sua dimensão e pela capacidade que possui, não pode permitir que os erros cometidos na Europa aqui se repitam.

Ainda sobre o papel da ciência para a arte e considerando a experiência do Molab: é ela que lidera hoje o aporte de novos conhecimentos a essa área?

A ciência possui importância e autonomia, mas está inserida em certo contexto sociocultural e por isso precisamos de sociólogos, de filósofos e de pensadores nesse processo. Se quisermos conservar o patrimônio não poderemos fazê-lo apenas com recursos científicos. Isso simplesmente não faria sentido. Diria que, para fazer conservação do patrimônio, é necessário educar – não apenas a população, mas, antes, promover treinamento para formar especialistas a par dos problemas e em condições de intervir. Podemos contribuir neste aspecto, mas também queremos receber outros conhecimentos, que podem ser problemas que ocorrem em um clima e em uma realidade diferentes.

As condições ambientais têm imposto algum tipo de desafio para a preservação de patrimônio?

Naturalmente preservar o patrimônio significa preservá-lo em seu meio natural, levando em conta os problemas ambientais. Esta contextualização consiste em restaurá-lo e resguardá-lo por meio do conhecimento, de uma conservação preventiva e de uma manutenção programada. Isto é, tentar prevenir o que pode produzir danos, pois a restauração é apenas o último passo. Levo em consideração que ambiente não é apenas o atmosférico, mas também o social.

O Projeto Portinari criou ponte de trabalho entre a Universidade de Perugia e a UFMG. Essa parceria gerou alguma nova descoberta?

Sobre a obra de Portinari, discutimos problemas diversos, como os relacionados à utilização do pigmento anatásio [óxido de titânio]. Parece que o fenômeno de degradação provocado pelo seu uso está ocorrendo em algumas obras de Portinari.

Ana Maria Vieira

http://www.ufmg.br/boletim/bol1748/6.shtml