O boletim semanal de cultura da BBC, Arte em Revista, apresenta vídeo sobre mostra na Open Gallery em Londres. O artista David Bowie está sendo “reinterpretado” por diversos artistas plásticos na exposição.
O vídeo apresenta também tema de exposição na capital americana, a artista minimalista Ellsworth Kelly é homenageada por seus 90 anos.
Outra atração cultural mostrada no vídeo é o circo UniverSoul, que está passando por 300 cidades americanas com seus ritmos do hip hop e talentos da cultura afro-americana em suas performances.
Também em destaque são as obras restauradas de Picasso, Matisse, Chagall, Miro e Le Corbusier no Museu de arte bizantina em Atenas.
Tão essencial quanto a água que bebemos e hidrata o corpo, a música no mundo da moda exerce um papel crucial, quer seja na trilha sonora de um desfile, num set fotográfico de um editorial de moda ou de campanha publicitária, ou mesmo na abertura de uma exposição. É a música que cria e confere uma atmosfera única para convergir os conceitos idealizados pelo criador e mostrar ao público o que foi pensado estratégica e conceitualmente em termos de moda. A música celebra e sonoriza a moda.
Mesmo a trilha de um desfile que não tenha a emissão acústica de instrumentos musicais e vocais é (de)marcada por uma musicalidade, constituída a partir das marcações dos passos das modelos, por exemplo. Dito isso, é importante pensarmos em música como sons. Todo e qualquer som emitido, com ou sem vocais e instrumentos, pode servir como cenário acústico para um desfile, o que chamamos de trilha sonora. Costumeiramente elaboradas por DJs, as trilhas dos desfiles convergem o ideal estético-conceitual da coleção com uma concepção acústica adequada para acompanhar as exibições peça a peça numa passarela.
Quando temos uma sinergia perfeita entre a música e os looks de uma coleção, somos tomados por uma espécie de completude que nos faz sentir como se “vestíssemos músicas e ouvíssemos moda”. Claro que a cenografia e a iluminação têm papéis muitíssimo relevantes, mas a música na moda também nos serve como uma espécie de selo de autenticação, responsável por nos transportar do mundo real para o irreal, para o imaginário. É o que compreendemos como ambientação perfeita de uma narrativa que serve para mostrar idealizações da moda combinadas a sonoridades – o que nos envolve via sentidos.
Alguns pesquisadores já se debruçaram para entender a relação entre moda e música. A socióloga e professora da University of London Angela McRobbie publicou “In the Culture Society: Art, Fashion and Popular Music” (Routledge, 1999). Nesse livro, a autora investiga as implicações culturais entre temas como arte, moda, feminismo e consumo nas sociedades, além das questões do sexo e da raça na música popular. Outra obra que acaba de ser lançada é “Fashion and Music” (Berg, 2011), da conferencista em estudos culturais e históricos da London College of Fashion Janice Miller, a qual nos revela que “a relação entre moda e música é incorporada e enfatizada pela partilha da linguagem”. Bastante verdadeira essa afirmação pois, basta lembrarmos outra forma de sinergia entre moda e música: a da presença dos ícones da música que se transformam também em ícones fashion.
Independentemente do gênero musical, quer seja rock, pop, dance ou electro, artistas como David Bowie, Madonna, Björk, Fischerspooner, Lady Gaga, dentre outros, de alguma forma, já trataram em suas canções de nomes de marcas da moda ou mesmo estabeleceram uma sinergia e cumplicidade com a moda, ou seja, criando um envolvimento que vem das transformações deles em ícones da moda, que se confundem até mesmo com o ato de se vestir. Adquiriram status de árbitros de estilos únicos que transitam tanto na moda como na música, o que entendemos como ícones.
Tarcisio D´Almeida é professor e pesquisador do curso design de moda da Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais (EBA-UFMG). tarcisiodalmeida@eba.ufmg.br.
Assim como Janis Joplin, Jim Morrison, Kurt Cobain e Jimmy Hendrix, o talento de Amy Winehouse ultrapassa as regras de gravadora e mercado. Ela era o que a sua essência constituiu como um ser criativo e avesso às regras
O mundo da música está de luto. Mas, também, o da moda está. A fatídica morte, também aos 27 anos, da cantora britânica Amy Winehouse, no dia 23 de julho último, em Londres, posicionou-a no time dos bons intérpretes que traduzem os anseios e desejos de uma geração. Assim como Janis Joplin, Jim Morrison, Kurt Cobain e Jimmy Hendrix, o talento de Amy Winehouse ultrapassa as regras de gravadora e mercado. Ela era o que a sua essência constituiu como um ser criativo e avesso às regras. Mais valia o alternativo do que o mainstream para ela. Por isso mesmo, podemos considerar seu estilo extremamente marcante não somente para o universo da música, mas também para o da moda; estabelecendo sinergias entre música e moda. Aliás, em uma era em que o conceito de tendência anda esvaziado e pulverizado, encontramos em Amy a força e a importância da presença do estilo; sim, este que é único, que se constitui como uma marca, uma assinatura individual de cada um de nós numa era de sociedade globalizada e sem fronteiras.
O que nos faz pensar que o estilo de Amy vai além de uma moda específica? Uma possível resposta talvez esteja na plena consciência de seu estilo e como ele se confirmou em suas idealizações constitutivas de sua imagética e veia artística. Sim, pois em Amy havia a mescla dos tempos: a vontade nostálgica, mas muito bem dosada e costurada, com o despojado do viver contemporâneo. A construção da imagem da estrela Amy existe fundamentada em dois princípios-características essenciais: a beleza e a moda, ambas demarcadas pelas atitudes retrôs e que estão intimamente relacionadas às releituras pela moda atualmente. Para a primeira, ela resgatou a presença constante do delineador nos olhos e a estrutura do cabelo colmeia; já para a moda, podemos confirmar em Amy o desejo do retorno à silhueta dos looks comportados das décadas de 1950 e 60, mas com outra leitura, e que dialogavam com as tatuagens da artista.
Ela não seguiu nenhuma tendência. Pelo contrário, o seu estilo virou tendência em jovens de todo o planeta. Criou-se, portanto, a estética do jeito de cantar e se vestir à la Amy, que abriu caminho, direta ou indiretamente, para outras artistas, tais como Duffy e Adele. Assim como Amy, elas adotaram como fonte de inspiração em seus visuais as belezas dos 50 e 60 nas construções de seus estilos. Esse mergulho no passado é também presente na musicalidade da artista, que mesclou jazz e ‘neo-soul’ com rock. O que a distancia, por exemplo, das concepções musicais de Madonna, Björk, Lady Gaga e Rihanna, outras artistas da música que são também ícones da moda. Talvez, o mais apropriado seria pensarmos em Amy como um autêntico ícone de estilo. A partir daí, poderíamos compreendê-la também como um ícone da moda.
Mas, assim como Madonna, Victoria Beckham e Kate Moss, Amy Winehouse também teve suas incursões mais diretas com a moda. Criou uma linha para a marca do clássico streetwear britânico Fred Perry. Colaborou com duas coleções, a última delas para a primavera/verão 2011, e desenvolveu mais três, as quais deverão ser lançadas postumamente. O fundamento central é a inclinação pelo retrô, que pautava o olhar e o cuidado da artista com as criações.
Mas a sinergia entre estilo e moda ocorreu naturalmente, com influências em coleções, em editoriais e campanhas de moda em revistas como a “Vogue Paris”, de fevereiro de 2008, que dedicou um editorial, clicado por Peter Lindbergue, com a modelo brasileira Isabeli Fontana produzida como Amy Winehouse. Outro exemplo da forte marca e influência de Amy na moda aconteceu com a campanha da coleção de joias da Chanel, no mesmo ano, que teve a top Coco Rocha em looks sóbrios da Chanel, mas com o forte apelo das joias e da atitude da artista, via a concepção de beleza da campanha. Este mesmo conceito de beleza com a maquiagem e cabelos à la Amy inspiraram o desfile de dezembro de 2007 da Chanel.
[slideshow]
Tarcisio D’Almeida é professor e pesquisador do curso Design de Moda da Escola de Belas Artes, da Universidade Federal de Minas Gerais (EBA-UFMG). Email: tarcisiodalmeida@eba.ufmg.br. Ele divide este espaço com Susanna Kahls e Jack Bianchi.
-19.863204-43.959736
Biblioteca "Professor Marcello de Vasconcellos Coelho" da Escola de Belas Artes da UFMG