Isaac Salazar: o escultor de palavras

Helena Sousa Pereira

Há certos livros que, de tão bem escritos, são apelidados de obras-primas. Isaac Salazar vai mais longe. Independentemente da qualidade do seu conteúdo, ele transforma todos os livros em obras de arte.

A história começa numa qualquer livraria. Fulano passa os olhos pelos escaparates. Fulano sente a capa e a contra-capa. Fulano inala o cheiro a livro novo, velho ou assim-assim. Fulano folheia o seu tempo futuro no pretérito presente, saca do cartão e dá-se a transacção cultural-comercial. Livro no saco, Sicrano segue para casa. Não faz cerimónia e abre-o em cima do balcão da cozinha. Em pouco mais de uma hora devora adjectivos e advérbios de modo. Sicrano está inebriado. Sicrano está de barriga cheia. Beltrano pousa o livro. Fulano, Sicrano e Beltrano estão satisfeitos.

Depois disto, é quase falta de educação deixar os livros ali, só numa de apanhar umas ondas de pó e conseguir um tom amarelado uniforme. O mofo é letal. Para o prevenir, recomendamos o trabalho de Isaac Salazar, mestre em book origami.

Isaac diz no seu site pessoal que nunca tinha pensado em si como uma pessoa criativa, até ao dia em que viu uma árvore de natal feita com páginas da Reader’s Digest (nesta página) e indagou até que ponto seria possível levar o conceito um pouco mais longe.

O resultado é o que aqui vos damos a conhecer. Extraordinário.

Ecologicamente consciente e adepto das energias renováveis, agrada-lhe a ideia de poder salvar um livro cujo destino mais que certo seria o caixote de lixo, e conferir-lhe uma nova vida.

Está certo que, no que aos livros concerne, sempre fomos pródigos em dar-lhes outras funções que não a primordial função para a qual foram criados: serem lidos. Ainda a reciclagem não existia e já nós cumpríamos um dos 3 R’s de ouro: reutilizar (os nossos livros) – como arma de arremesso numa discussão; para atear a fogueira no inverno; reutilizá-los para aprendermos a andar direitos ou a comer com modos; como calço para aquela mesa que manca; ou ainda como fiel depositário de recadinhos e bilhetinhos de amor.

Mas em nenhum dos exemplos anteriores conseguimos igualar o que as mãos deste auto-didacta, que nunca teve uma única aula de arte na vida, conseguiram: transformar meros livros em obras de arte, apenas com recurso à dobragem de papel e a ajuda de um x-acto.

No filme Comer, Rezar e Amar (2010), a personagem vivida por Julia Roberts procurava uma palavra. Não uma palavra qualquer, mas a sua palavra. Aquela que deveria transmitir de forma fiel a sua verdadeira essência.

Deite os olhos à galeria de Isaac Salazar e procure descobrir qual é a sua palavra. Se chegar a alguma conclusão e estiver interessado, aqui fica o endereço da loja de Isaac na etsy.

Mais trabalhos de Isaac Salazar no flickr.

Sobre moda, figurino e fantasia

Passou-se o carnaval. Por isso, pensei em tratar das relações entre moda, figurino e fantasia. Vestir-se implica usar uma criação, quer seja de uma grife de moda, de um figurino (para teatro, cinema, TV), ou de uma fantasia (para carnaval ou festa, por exemplo). Três campos quase homogêneos, mas com sutis distinções, que compartilham de dois conceitos essenciais que os caracterizam: o tentar “ser conceitual” e a “(re)interpretação de temas”. Por isso, fazem-se necessárias, inicialmente, as definições sobre o que constitui cada um deles.

A moda registra, desde suas origens remotas com o Renascimento, a essência do consumo de seus bens produzidos. Seja na esfera simbólico-estética, seja na econômico-financeira da criatividade, que adquire caráter mercadológico, as criações da alta-costura e do prêt-à-porter não existem sem uma equação que balanceie liberdade do ato criativo dos estilistas e o que será adotado pelas sociedades em seus tempos históricos. Contudo, há uma premissa que antecede essa dinâmica: a busca constante pela essência autoral na criação, o que garante o passaporte de criativa ao universo fashion.

A existência do mundo da moda é justificada por inúmeros fatores de ordens e campos diversos que se interagem no esforço conjunto para compreenderem a sua importância e seu consequente impacto nas sociedades. Moderna por excelência, a moda responde por uma gama de possibilidades que articulam estilos, tanto na esfera individual, em um primeiro estágio, quanto coletiva, em busca da inserção nas tribos s

Christian Lacroix e John Galliano

ociais. O vale-tudo pela satisfação a partir da roupa é seguido, historicamente, como uma das ferramentas que justifica a existência consubstanciada de um mercado voltado para a complexidade que é a moda.

Já o processo criativo do figurino começa com uma análise detalhada da composição de determinado estilo visual, período e cultura social em que a produção (teatro, cinema, TV) irá ocorrer, seja esse período histórico ou não. O roteiro da produção igualmente esclarecerá o lugar, o tempo e as estações nas quais os esboços dos desenhos começam a ser traçados para, em seguida, ganharem vida como peças do figurino.

Dependendo da produção, uma variedade de processos e de fontes diferentes de pesquisa pode ser usada para ordenar a sequência lógica de exibição do figurino, não somente as roupas, como também os acessórios e o mobiliário cenográfico. A pesquisa detalhada é essencial, pois resulta num retrato que busca a fidelidade das criações da sociedade e da cultura da época pesquisada.

E, quando pensamos na fantasia e na sua relação com a sociedade, precisamos lembrar que a nossa compreensão aqui para a palavra “fantasia” é no sentido de se vestir, criando uma atmosfera contemplativa, de comemoração, geralmente atrelada às festas populares, como o Carnaval, ou, mesmo, às festas particulares ou em grupos. Uma fantasia é, geralmente, a tradução de uma imagem, de um sonho idealizado e materializado em roupas que escondem a real personalidade e constroem uma outra.

Temos alguns exemplos que contextualizam as contaminações das três áreas. John Galliano (para Dior), Christian Lacroix e Gareth Pugh são estilistas que criaram na moda com pesquisas e ressignificações históricas. Ronaldo Fraga, Lino Villaventura e Jean Paul Gaultier são exemplos de criadores que já desenvolveram figurinos para peças de teatro, cinema e companhias de danças.

Jean Paul Gaultier, Lino Villaventura e Ronaldo Fraga
Tarcísio D’Almeida é professor e pesquisador do curso Design de Moda da Escola de Belas Artes, da Universidade Federal de Minas Gerais (EBA-UFMG). tarcisiodalmeida@eba.ufmg.br

Semana de Arte Moderna de 1922 – 90 anos (artigos e documentários)

Marta Berard.

O ‘grito de guerra’ da Semana de Arte Moderna completa 90 anos

São Paulo, 12 fev (EFE).- A ruptura com o academicismo nas artes plásticas e a substituição do hendecassílabo pelo verso livre foram algumas das bandeiras da Semana de Arte Moderna, evento cultural realizado em São Paulo e que propiciou a renovação cultural do modernismo brasileiro.

‘Foi um grito de guerra’, disse à Agência Efe o professor e decorador assistente do Museu de Arte de São Paulo (Masp), Denis Molino, para ilustrar o significado que teve a Semana como revolução na cultura brasileira, evendo que nesta segunda-feira completa 90 anos.

A Semana de Arte Moderna foi um acontecimento realizado nas noites dos dias 13, 15 e 17 de fevereiro de 1922 no magnífico Teatro Municipal de São Paulo, transformado no palco de conferências, recitais de música e poemas, na qual participou um grupo de artistas que se rebelavam contra a forma fixa e os cânones estéticos do século XIX, imperantes na arte do Brasil.

Ficam para a lembrança daquele vibrante acontecimento os assobios e vaias com as quais foram recebidas algumas das conferências e a ousadia do compositor Heitor Villa-Lobos, que surgiu em cena usando chinelos de dedo.

Denis explicou que a Semana foi um evento ‘paulista’ porque naquele momento a cidade ‘tinha essa abertura e era muito mais espontânea’ que o Rio de Janeiro, naquela época capital brasileira e onde ficava a Academia de Belas Artes, guardiã da técnica, do apego à norma, da obra bem definida e de contornos acabados.

‘A ideia de transformação radical é mais propícia a São Paulo’, disse Denis, acrescentando que dali foi ganhando espaço no Brasil.

A importância de São Paulo como crisol brasileiro foi recentemente reconhecida pela presidente Dilma Rousseff, que no dia 25 de janeiro recebeu a medalha de honra da cidade e pronunciou um discurso no qual disse que a cidade foi o motor do progresso econômico do país e o berço do modernismo cultural.

A Semana é considerada como a semente da qual brotou o Modernismo brasileiro, embora seus principais expoentes, Mário e Oswald de Andrade, Anita Malfatti, Menotti del Picchia, Tarsila do Amaral, Emiliano Di Cavalcantti e Manuel Bandeira, já tinham escrito vários capítulos de ruptura na década anterior, que serviriam para narrar a novela da mudança cultural.

Inspirados em um espírito iconoclasta, os modernistas brasileiros bebem das vanguardas europeias como o Dadaísmo, o Futurismo e o Cubismo, mas com uma releitura tropical, em busca de um relato propriamente brasileiro e da construção de identidade.

Denis, que também dá cursos de História da Arte no Masp, explicou que enquanto na Europa já se tinha produzido um processo de ‘destruição da ordem’, o Brasil tinha essa necessidade de afundar na originalidade, na liberdade artística, na ruptura dos cânones.

Na sua opinião, esse movimento, que se manifestou em diferentes disciplinas artísticas, como pintura e música, teve especial impacto na literatura, onde aconteceu a separação da escola poética do Parnasianismo, baseada na estrutura métrica e na beleza formal, que gozava de ampla influência entre os poetas brasileiros.

Nos primeiros compassos do Modernismo brasileiro – que se articularam em torno do Manifesto Antropófago, escrito por Oswald de Andrade em 1928 no primeiro número da ‘Revista da Antropofagia’ – a proposta é fagocitar (digerir) a cultura estrangeira, mas revesti-la de elementos nacionais.

‘As pinturas de Tarsila, autora do famoso ‘Abaporu’, por exemplo, remetem ao Cubismo, mas com um discurso autóctone, com cores tropicais e a temática de fundo do interior rural brasileiro’, segundo Denis.

Para o especialista, a Semana de Arte Moderna e o Modernismo tiveram seu impacto até os anos 60, mas a partir dos 70 se pulveriza a mensagem desse período de euforia, que, nas palavras de Mário de Andrade, constituiu ‘a maior orgia intelectual que a história artística registrou’. EFE

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ARTIGOS

Revista Continuum : “Saga Modernista completa 90 anos”. 

Petrônio Souza : Modernista por BH

Marilia Andres Ribeiro : O modernismo brasileiro: arte e política

Luciano Monteiro : O movimento modernista e a construção de uma identidade nacional sob a égide do Estado Novo

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Assista ao documentário produzido pela Globo News sobre a Semana de Arte Moderna de 22:

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=tJKYZdGU4rA]

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Especial da TV Cultura sobre a Semana de Arte Moderna de 22

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=LdO_ebONK9I]

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E veja como foi a exposição Tarsila e o Brasil dos Modernistas na Casa Fiat de Cultura.

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Consulte também as obras do acervo da Belas Artes:

ALAMBERT, Francisco. A Semana de 22 : a aventura modernista no Brasil. São Paulo: Scipione, 1992. 104p. (Historia em aberto)

AMARAL, Aracy A. Artes plásticas na semana de 22. 5. ed. rev. e ampl. São Paulo: Ed. 34, 1998. 335p.

BOAVENTURA, Maria Eugenia. 22 por 22: a Semana de Arte Moderna vista pelos seus contemporâneos. São Paulo: EDUSP, c2000. 461 p.

BULHÕES, Maria Amelia; KERN, Maria Lucia Bastos. A Semana de 22 e a emergência da modernidade no Brasil. Porto Alegre: Secretaria Municipal da Cultura, 1992. 61 p.

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alexander McQueen, o gênio da moda

Alexandre Romero

L’enfant terrible, ou “o hooligan da moda inglesa”, como muitas vezes é apelidado. Alexander McQueen é o derradeiro gênio da moda, entre loucura e sanidade, fragilidade e força, tradição e modernidade, fluidez e severidade, a sua obra continua a quebrar barreiras e a elevar-se a um outro nível.

Em menos de dez anos, Alexander McQueen, tornou-se um dos mais respeitados criadores, tendo até sido director criativo da casa de alta-costura parisiense, Givenchy, que deixou em 2001 para trabalhar na sua própria marca, homónima. Desde então, faz história com os seus desfiles, unindo a excelência da alfaiataria britânica, a execução perfeita da alta-costura francesa e o impecável acabamento italiano. O seu trabalho tem descrito uma espiral ascendente no mundo da moda, pela justaposição de elementos contraditórios, resultando em colecções únicas, de crescente poder emocional e energia crua, pura paixão.

Nascido em Londres, a 17 de Março de 1969, filho de um taxista, o mais novo de seis, Alexander começou por fazer vestidos para as três irmãs e, ainda jovem, anunciou que queria ser criador de moda. Deixou a escola aos 16 anos e logo se tornou aprendiz de grandes mestres na execução técnica de vestuário, como Anderson & Shephard ou Gieves & Hawkes. Daí passou para os teatrais Angels & Bermans, onde aprendeu os segredos do corte, desde o melodramático século XVI, até ao design sóbrio que se tornou a sua imagem de marca.

Aos 20 anos trabalhou com o designer Koji Tatsuno, cujo trabalho tem também raízes britânicas, e um ano depois viajou para Milão, onde foi assistente do designer Romeo Giglis. Finalmente, em 1994, voltou a Londres, onde se estabeleceu e completou o mestrado em Design de Moda na prestigiada Saint Martins College of Art and Design. A sua coleção de graduação foi comprada na totalidade pela famosa estilista Isabella Blow.

As duas colecções mais recentes, “The Horn of Plenty” (O Corno da Abundância) e “Plato’s Atlantis” (Atlântida de Platão) são mostras da mais pura natureza contemporânea e do gênio negro de McQueen. A primeira, traduz a visão do criador sobre o consumismo e a industrialização, transformando objectos comuns em acessórios prodigiosos, numa ode à reciclagem e reutilização. A segunda, é o epíteto da vanguarda da moda, quer pela elaboração técnica do desfile, em que dois robos se apresentam no meio da passarela e transmitem o desfile em direto para todo o mundo, quer pela beleza da colecção em si. Sob o mote da actualidade, dos problemas ambientais e da mudança, a coleção relembra para a necessidade de adaptação humana às novas condições ambientais, e propõe que o futuro possa estar no fundo o oceano.

A arquitetura das peças, o corte, texturas, cores e padrões, a maquiagem, os cabelos e os sapatos (os modelos mais fantásticos que o mundo já viu!) estão em comunhão entre si e com a Natureza. A primeira série é composta por estampas caleidoscópicas que criam um efeito simétrico nos looks, cheios de padrões animais e texturas orgânicas, a segunda série representa a descida ao mar profundo onde as peças são fluídas como água e as modelos se transformam em criaturas marinhas, alienadas. Verdadeiramente indescritível!

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A moda tem Iris van Herpen

Publicado no Jornal OTEMPO em 29/01/2012

TARCÍSIO D´ALMEIDA

A moda (re)nasce e justifica sua existência a partir do princípio do novo. Portanto, ela nasce e, automaticamente, já anuncia sua própria morte a cada estação. Esse automatismo é ditado por regras daquilo que compreendemos como calendário, o qual força as criatividades a se adaptarem às regras das divisões de etapas por meses, segundo a linha produtiva dos mercados.

Se pensarmos no princípio da busca constante pelo “novo”, precisaremos nos lembrar ainda de quem propicia esse “novo” à moda. Responsável por tal tarefa, o estilista é o ator principal na trama que mescla ideias, desejos, matérias-primas, temas, interpretações e indivíduos.

Esse “mélange” constitui o fenômeno moda, que gera, em boa medida, o fascínio pelo que produz no inconsciente das pessoas, quando geralmente se deparam com uma produção extremamente rebuscada no quesito inventividade. E é esse fundamento que busco ao assistir aos desfiles, seja o das semanas de moda, seja o de formandos em moda. E lhes aviso que é importante nos atentarmos para outros países, como os nórdicos e bálticos, por exemplo, pois o fundamento das capitais da moda, que é hegemônico, começa a conviver com uma nova realidade: a da expansão dos novos cenários criativos.

E o mundo já testemunhou esse novo desenho quando os belgas dominaram a moda com suas propostas estéticas minimalistas nos anos 1990. Agora um nome proeminente tem despertado bastante minhas atenções. O nome dela é Iris van Herpen, uma jovem criadora e ex-aluna de design de moda da Artez, prestigiada instituição de ensino de Arnhem, na Holanda. O desfile début de sua marca foi em 2007. Na recente carreira, ela estagiou com Alexander McQueen, em Londres, e com Jongstra Claudy, em Amsterdã. E o que mais tem me hipnotizado com as visões de moda de Iris é como cria uma reciprocidade impressionante entre o fazer artesanalmente com inovações nas técnicas e materiais que ela emprega. Sem medo e excesso, poderíamos dizer que a ausência e a sensação de vazio na moda, geradas pelo suicídio do visionário Alexander McQueen, começam a ser preenchidos pela nova verve criativa de Iris van Herpen.

A riqueza no seu processo criativo está fundamentada em um princípio essencial aos autênticos criadores: o da autoria artística. “Para mim, a moda é uma expressão de arte que está muito próxima e relacionada a mim e ao meu corpo. Eu a vejo como minha expressão de identidade combinada com desejo, humor e ambiente cultural”, explica a estilista.

Quando Iris van Herpen nasceu, no ano de 1984, os japoneses começavam a dominar a cena fashion parisiense. Coincidência ou não, é em Paris, hegemonicamente na Semana de Moda Alta Costura, que Iris tem mostrado suas criações. Ela já produziu nove coleções, desfiladas em 15 semanas de moda, já recebeu seis prêmios, além de ter sido tema de 28 exposições com seus trabalhos de moda-arte. Com Iris van Herpen confirmamos que regras normais não se aplicam aos verdadeiros criadores. Ou, como ela nos explica, “com o meu trabalho, pretendo mostrar que a moda pode certamente ter um valor para o mundo, que é atemporal e que o seu consumo pode ser menos importante. Vestindo-se roupas podemos criar uma forma muito excitante e imperativa de auto expressão”. Viva Iris!

Visite o site de Iris van Herpen : http://www.irisvanherpen.com/site/

Tarcisio D´Almeida é professor e pesquisador do curso design de moda da Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais (EBA-UFMG). tarcisiodalmeida@eba.ufmg.br. Ele divide este espaço com Susanna Kahls, Jack Bianchi e Lobo Pasolini

Brasil vai prevalecer na Bienal de 2012, diz curador

“É uma Bienal que quer se definir por relações entre artistas. O leitmotiv é a ideia de constelação, o conceito de que as coisas só ganham significado quando estão relacionadas”, diz o venezuelano Luis Pérez-Oramas, curador-geral da 30.ª Bienal de São Paulo, marcada para ocorrer em setembro de 2012. História e contemporaneidade, assim, vão se entrelaçar na próxima exposição, que terá entre 110 e 115 artistas participantes. Mais ainda, será uma mostra criada a partir de uma crença “na variedade da beleza”, diz o curador de “A Iminência das Poéticas”, título da edição que vem sendo preparada.

Ainda falta tempo até a abertura da 30.ª Bienal, mas o projeto da mostra já está praticamente definido. De Nova York, Oramas concedeu entrevista à reportagem depois de oito meses de trabalho dedicado exclusivamente à concepção da edição do evento. A lista completa dos artistas será anunciada entre fevereiro e março, mas alguns dos integrantes da exposição, em adiantadas “conversações”, já são citados pelo curador. Entre os brasileiros, o concretista Waldemar Cordeiro, o neoconcretista Hélio Oiticica, o jovem Pablo Pijnappel, que vive na Alemanha e nunca expôs no Brasil, e Ricardo Basbaum. Entre os estrangeiros, o fotógrafo August Sander (1876-1964) e Franz Erhard Walther – ambos alemães -, o pintor francês Bernard Frize, o holandês Hans Eijkelboom, o norte-americano Mark Morrisroe, o italiano Bruno Munari e o colombiano Nicolás París.

Pérez-Oramas, curador geral da30. Bienal

“O Brasil vai prevalecer. É um polo cultural e primeira potência da América Latina e será uma Bienal que quer assumir o lugar em que ocorre. Mas gosto de dizer que a seleção, em geral, é muito equilibrada, internacional”, afirma Oramas. “A arte latina é uma presença óbvia, um dos momentos mais vibrantes da arte está acontecendo neste continente.”

O projeto de Luis Pérez-Oramas, curador do Museum of Modern Art (MoMA) de Nova York, foi escolhido em dezembro de 2010 pela direção da Fundação Bienal de São Paulo para a 30.ª mostra da instituição. Desde então, o venezuelano e os cocuradores Tobi Maier, André Severo (artista gaúcho) e Isabela Villanueva vêm se dedicando ao desenvolvimento da edição. Oramas, que depois vai realizar a retrospectiva da artista brasileira Lygia Clark para o MoMA, marcada para maio de 2014, adianta alguns pontos das “constelações” da 30.ª Bienal.

Será uma mostra com cerca de 40% de obras inéditas ou comissionadas para a ocasião; repleta de recortes monográficos dedicados ao trabalho de criadores contemporâneos e históricos – não terá nenhuma obra de Lygia Clark, ele diz; e a abrangência da exposição para outros espaços da capital paulistana para além da “casa” da instituição, o Pavilhão Ciccillo Matarazzo, no Ibirapuera. “Nos interessa reconhecer o espaço de São Paulo com sua dinâmica e matizes sociais, sem ser demagógico.” Oramas cita parcerias em andamento com o Masp – a ideia de comissionar obras de até três artistas em diálogo com o importante acervo do museu paulistano -, com o Instituto Tomie Ohtake e as Casas Museus da Prefeitura de São Paulo.

O projeto de “A Iminência das Poéticas” inclui cinco módulos. Levando em consideração que a anterior 29.ª Bienal tinha mais de 800 obras de 159 artistas, Oramas conta que havia um “sentimento geral” de que a 30.ª mostra deveria ter número menor de participantes. “Levamos em consideração que deveríamos apresentar a complexidade dos processos criativos”, afirma. As exibições monográficas de artistas terão peso na exposição e o curador fala na concepção de nichos que promoverão pontuações por meio de “contrapontos” entre os trabalhos. “É mostra contemporânea, mas quer constituir campos históricos, funcionando como arqueologia do presente”, completa. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Acesse o site #id30bienal : workshop identidade 30ª bienal e confira os passos do desenvolvimento da identidade visual da 30ª Bienal de São Paulo.

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Leia também : “A Bienal deve criar significados”

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Consulte na Biblioteca o catálogo das edições anteriores da Bienal de São Paulo, inclusive a 29ª.


Acesse também o site da 29ª, 28ª e 27ª Bienal de São Paulo.

2012 é mais cultura

Segue algumas das atrações que devem movimentar o calendário cultural de 2012 em Belo Horizonte (O Tempo online)

– ARTES VISUAIS –

Ainda no primeiro semestre de 2012,
o Inhotim inaugura duas novas galerias dedicadas ao trabalho de relevantes personagens da arte contemporânea nacional: Lygia Pape (foto) e Tunga. Para setembro, está prevista a inauguração de outras duas galerias, ocupadas pelo artista dinamarquês Olafur Eliasson e a espanhola Cristina Iglesias. Importante reduto da arte italiana, a Casa Fiat recebe exposições de Caravaggio, em abril, e De Chiricco, em maio. O MAP, por sua vez, vai abrigar exposições e seminários voltados à domesticidade do espaço coletivo e às relações entre museu e cidade. (Daniel Toledo)

Com curadoria do suíço Joerg Bader e abertura prevista para maio, a exposição “Segue-se a Ver o Que Quisesse” promete ser um dos destaques do Palácio das Artes neste ano. Totalmente dedicada à fotografia, a mostra reúne imagens produzidas em Minas Gerais ao longo dos últimos 60 anos, por cerca de 40 artistas. Em setembro, o Palácio, ao lado de outros espaços da cidade, recebe a 4ª Bienal Brasileira de Design (foto), em sua primeira visita a Belo Horizonte. Também no Palácio, destaque para a mostra da Residência Ceia, em março, e para ampla exposição de videoarte, programada para novembro.(DT)

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– ARTES CÊNICAS –

Ao menos três dos principais grupos mineiros geram expectativa altas para seus novos trabalhos. A Luna Lunera lê a obra de Clarice Lispector como livre inspiração para um espetáculo cujo tema será o prazer. Os ensaios, com direção coletiva (como em “Aqueles Dois”), devem começar entre fevereiro e março. Em agosto, o Espanca! estreia “O Líquido Tátil”, dirigido pelo argentino Daniel Veronese. E o Grupo Galpão reencontra Gabriel Villela para remontagem de “Romeu e Julieta” (abaixo, foto da primeira montagem), que abrirá as Olimpíadas de Londres – e ainda não tem data de apresentação em BH. (Luciana Romagnolli)


À frente da curadoria do FIT-BH (Festival Internacional de Teatro, Palco e Rua 2012), Marcelo Bones ainda está prospectando espetáculos, mas adianta que a programação deve contemplar o centenário de Nelson Rodrigues, os 30 anos do Grupo Galpão e os 20 anos da Cia. do Latão (na foto abaixo, com “Ópera dos Vivos”). De fora do país, aposta em espetáculos que fundem linguagens, como o do compositor alemão Heiner Goebbel (visto no Festival Internacional de Buenos Aires) e um do cineasta britânico Peter Greenaway (“8 1/2 Mulheres”), que constrói obras cinematográficas ao vivo. (LR)

O Sesc Palladium  promete para 2012 uma curadoria mais forte do que a apresentada até então. Destaque para atrações internacionais, dentre as quais a vinda, em junho, da companhia belga Point Zéro, com dois espetáculos sobre textos de Alejandro Jodorowsky (que também deve estar presente), e da companhia do coreógrafo Alvin Ailey (1931-1989), notabilizado por inserir elementos da cultura africana na dança moderna nos EUA. No fim do ano, John Malkovich surge em cena como Casanova, em “The Giacomo Variations” (foto). (LR)

Moda e música em sinergia

Publicado no Jornal OTEMPO em 18/12/2011

TARCISIO D´ALMEIDA

Tão essencial quanto a água que bebemos e hidrata o corpo, a música no mundo da moda exerce um papel crucial, quer seja na trilha sonora de um desfile, num set fotográfico de um editorial de moda ou de campanha publicitária, ou mesmo na abertura de uma exposição. É a música que cria e confere uma atmosfera única para convergir os conceitos idealizados pelo criador e mostrar ao público o que foi pensado estratégica e conceitualmente em termos de moda. A música celebra e sonoriza a moda.

Mesmo a trilha de um desfile que não tenha a emissão acústica de instrumentos musicais e vocais é (de)marcada por uma musicalidade, constituída a partir das marcações dos passos das modelos, por exemplo. Dito isso, é importante pensarmos em música como sons. Todo e qualquer som emitido, com ou sem vocais e instrumentos, pode servir como cenário acústico para um desfile, o que chamamos de trilha sonora. Costumeiramente elaboradas por DJs, as trilhas dos desfiles convergem o ideal estético-conceitual da coleção com uma concepção acústica adequada para acompanhar as exibições peça a peça numa passarela.

Quando temos uma sinergia perfeita entre a música e os looks de uma coleção, somos tomados por uma espécie de completude que nos faz sentir como se “vestíssemos músicas e ouvíssemos moda”. Claro que a cenografia e a iluminação têm papéis muitíssimo relevantes, mas a música na moda também nos serve como uma espécie de selo de autenticação, responsável por nos transportar do mundo real para o irreal, para o imaginário. É o que compreendemos como ambientação perfeita de uma narrativa que serve para mostrar idealizações da moda combinadas a sonoridades – o que nos envolve via sentidos.

Alguns pesquisadores já se debruçaram para entender a relação entre moda e música. A socióloga e professora da University of London Angela McRobbie publicou “In the Culture Society: Art, Fashion and Popular Music” (Routledge, 1999). Nesse livro, a autora investiga as implicações culturais entre temas como arte, moda, feminismo e consumo nas sociedades, além das questões do sexo e da raça na música popular. Outra obra que acaba de ser lançada é “Fashion and Music” (Berg, 2011), da conferencista em estudos culturais e históricos da London College of Fashion Janice Miller, a qual nos revela que “a relação entre moda e música é incorporada e enfatizada pela partilha da linguagem”. Bastante verdadeira essa afirmação pois, basta lembrarmos outra forma de sinergia entre moda e música: a da presença dos ícones da música que se transformam também em ícones fashion.

Independentemente do gênero musical, quer seja rock, pop, dance ou electro, artistas como David Bowie, Madonna, Björk, Fischerspooner, Lady Gaga, dentre outros, de alguma forma, já trataram em suas canções de nomes de marcas da moda ou mesmo estabeleceram uma sinergia e cumplicidade com a moda, ou seja, criando um envolvimento que vem das transformações deles em ícones da moda, que se confundem até mesmo com o ato de se vestir. Adquiriram status de árbitros de estilos únicos que transitam tanto na moda como na música, o que entendemos como ícones.

Tarcisio D´Almeida é professor e pesquisador do curso design de moda da Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais (EBA-UFMG). tarcisiodalmeida@eba.ufmg.br

Biblioteca "Professor Marcello de Vasconcellos Coelho" da Escola de Belas Artes da UFMG