Flertes entre moda e arquitetura

Nascido nos anos 20, o art déco trouxe ares de modernidade para as ornamentações arquitetônicas de BH. Muitas décadas depois é a vez do traçado figurar como uma das macrotendências para o verão 2012

Publicado no Jornal OTEMPO em 04/09/2011

MARIANA LAGE

A cada nova estação, estilistas e suas equipes vão em busca de inspiração em diferentes épocas do passado. Referências se proliferam a cada seis meses alimentando o público com pitadas de estilos que habitaram as cabeças de artistas e fizeram história, desde os tempos mais remotos (Grécia e Roma antigos) e imemoriais (arte rupestre) ao pretérito mais recente, como o século XX e suas vanguardas artísticas.

Este verão parece ser a vez de resgatar um pouco do estilo arquitetônico das décadas de 1930 a 1950, que influenciaram fachadas de prédios e palacetes ao longo de toda a paisagem belo-horizontina, além de outras cidades como Rio de Janeiro, Nova York, Miami e Paris. As linhas modernistas do art déco saem das construções e estruturam coleções de primavera/verão 2012 de marcas brasileiras como Barbara Bela, Patachou, Acquastudio e Priscilla Darolt.

Segundo o arquiteto e professor da Universidade Federal de Minas Gerais, Leonardo Castriota, a arquitetura predominante desse período recebia originariamente o nome de estilo moderno. “O termo veio da Exposição Internacional de Artes Decorativas de Paris (de 1925) e foi o primeiro estilo que procurou fazer a aproximação entre arte e indústria”. O traço principal do déco está no viés extremamente moderno e, segundo Castriota, pode ser identificado com mais clareza na ornamentação, essencialmente geométrica. “O déco cria uma nova linguagem ornamental e trabalha muito com a ideia de industrialização”. Uma modernidade imaginada que exalava tanto no estilo quanto na mentalidade daqueles que viveram esses anos entre 1930 e 1950, evidenciados no seriado norte-americano Flash Gordon e no frenesi aristocrático com os primeiros dirigíveis.

“Hoje, o moderno ficou muito associado ao estilo à lá Niemeyer. Para se ter uma ideia dessas diferenças de direções, existem duas igrejas em Belo Horizonte do mesmo período, os anos 40. Uma é a Igreja de São Francisco de Assis, de Oscar Niemeyer, na Pampulha, e a São Francisco de Chagas, no Carlos Prates”, exemplifica. “O estilo déco não é a concepção de modernidade que prevaleceu e durante muito tempo foi considerada arquitetura de segunda. Inclusive, ocorreu na cidade um processo de demolição massiva. Contudo, a partir dos anos 90, o estilo voltou a ser valorizado e os exemplares, recuperados”, complementa.

Inspiração para todos os gostos e estilos

Para a elaboração de sua nova coleção, a estilista Juliana Bocchese, da Bárbara Bela, iniciou a pesquisa a partir da busca de novos tecidos. “Estava doida para mudar a cara da coleção e acabei descobrindo o organza plissado”, explica. Como o tecido é bastante geométrico e dá um caimento mais solto no corpo, explica a estilista, a influência do estilo art déco veio como uma etapa natural no processo criativo. “As coisas surgiram naturalmente e até por forças da contingência”, conta. A partir dos geometrismos e da silhueta mais livre, foi apenas uma questão de tempo para Juliana rememorar a época em que as mulheres se libertaram dos espartilhos e as roupas perderam a rigidez.

Na coleção de Priscilla Darolt, o déco surgiu através do resgate dos loucos anos 20 e do visual da dançarina Josephine Baker. Com cores mais fechadas, como preto-fosco, cinza e amarelo-claro, as construções da coleção vem em formas simples, retas e alongadas.

Já a grife Patachou escolheu o edifício Biarritz, da capital carioca, para desenvolver sua proposta. Construído na década de 40, o prédio alia o glamour do art déco francês ao tropicalismo da praia do Flamengo. Mais colorido do que as formas arquitetônicas vistas por aqui, o Biarritz traz também o mesmo rigor geométrico e a suntuosidade nos materiais como metais nobres, mármore e madeira de lei. Na coleção, tais materiais aparecem na forma de sedas, cetim, renda e tecidos com piquê e casa de abelha, dando textura e relevo às estampas.

Destacada por especialistas como uma coleção cubista, a Acquastudio apostou no forte geometrismo e em peças estruturadas. Trapézio e losangos surgiram também em tecidos mais esvoaçantes. Contudo, as formas mais curvas do déco ficaram de fora. Na época do desfile, Glória Kalil considerou que a estilista da marca, Esther Bauman, errou a mão e não fez jus as formas harmoniosas do período áureo moderno. (ML)

Reconheça o estilo nas ruas

Quer conhecer pessoalmente as linhas que caracterizam o estilo art déco? Faça um tour pela cidade!

Cine Brasil (Praça Sete)
Construído em 1931, o prédio se apresenta como um transatlântico atracado na praça. Com suas linhas e curvas futuristas, o Cine Theatro foi precursor dos primeiros arranha-céus na cidade.

Pirulito (Praça Sete)
O obelisco em Homenagem ao Centenário da Independência foi inaugurado em 1924 e faz parte do conjunto de prédios com ares modernistas na Avenida Afonso Pena.

Edifício Acaiaca (Avenida Afonso Pena, 867)
Inaugurado em 1943, o edifício traz dois rostos indígenas com traços astecas, outra influência forte no estilo art déco. Lá já foi um grande centro comercial de BH.

Edifício Sulamérica e Sulacap
Concluídos em 1947, as construções faziam um “jogo urbanístico” com o Viaduto de Santa Tereza. Hoje, a visão foi comprometida por inúmeras descaracterizações.

Viaduto Santa Tereza (Região Central)
De 1929, o viaduto foi projetado pelo engenheiro modernista Emílio Baumgart.

Ed. Chagas Dória (Rua Sapucaí, 571)
Atual Fundação Municipal de Cultura, o prédio foi construído nos anos 30 e tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado em 1988.

Prefeitura Municipal (Avenida Afonso Pena, 1212)
Com projeto de Luís Signorelli, a construção da prefeitura foi realizada em 1935.

Palacete Dantas (Praça da Liberdade, 317)
De 1916, o palacete já abrigou durante anos a Secretaria de Estado de Cultura.

Minas Tênis Clube (Rua da Bahia, 2244)
A sede social do clube foi inaugurada em 1939.

Colégio Izabela Hendrix (Rua Espírito Santo, 2055)
Na entrada do edifício, há a inscrição do ano em que foi concluído: 1940. Elementos art decó estão presentes na sua fachada e internamente.

Palacete Jeha (Avenida Brasil, 1433)
De 1934, a construção é um dos exemplares mais bem conservados do estilo déco remanescentes na cidade. Hoje, abriga um escritório de advocacia.

“A RESTAURAÇÃO é apenas o último passo”

Entrevista com Antônio Agamellotti

Sgamellotti: não se faz conservação só com recursos científicos
Sgamellotti: não se faz conservação só com recursos científicos (foto Foca Lisboa)

Há seis anos a comunidade europeia montou infraestrutura física e de especialistas para conservação de seu patrimônio cultural considerada única no mundo. Reunindo 21 instituições, o consórcio, conhecido como Eu-ARTECH, conta com o original Molab, ou Mobile Laboratory, sediado na Universidade de Perugia, na Itália, e, há algum tempo, parceiro da UFMG. Recentemente, o grupo italiano manifestou interesse em formalizar acordos no Brasil, especialmente com a Universidade, ancorado em trabalhos com a Escola de Belas-Artes, que abriga núcleo de reconhecida competência na área. “Queremos dar continuidade aos projetos e promover intercâmbio de professores e alunos”, disse o químico e professor Antonio Sgamellotti, um dos mais respeitados cientistas em conservação da Europa. No início do mês, abriu sua agenda de trabalho no Brasil para receber a reportagem do BOLETIM para a qual concedeu a entrevista que se segue.

Por que investir em um laboratório móvel?

O Molab é a única infraestrutura europeia de conservação do patrimônio cultural que funciona de forma inversa à tradicional. Ou seja, com instrumentos originais portáteis para análise não destrutiva da obra de arte: ela é que vai até o usuário. Isso ocorre porque algumas obras não podem ser movidas no trabalho de conservação, como os grandes monumentos ou afrescos. Há artefatos que são tirados do lugar, mas não é bom movê-los, por dois motivos: Primeiro, por razão ética. Qualquer movimentação causa-lhes um estresse considerável e devemos proporcionar menos traumas possíveis à sua estrutura. O segundo tem motivação econômica: o alto custo dos seguros.

Quando menciona que o Molab possui instrumentos únicos isso significa que há um desenvolvimento específico da indústria para ele? Descreva essa dinâmica de inovação tecnológica definida pela necessidade de conservação.

Há instrumentos produzidos pela indústria para determinados objetivos e depois nós os adaptamos para o uso nos bens culturais. Outros equipamentos são desenvolvidos academicamente e depois sua tecnologia é transferida para a indústria. Em alguns casos, são protótipos únicos, mas, em outros, acabam comercializados com a indústria.

Os estudos do Molab parecem se apoiar numa abordagem mais técnico-científica. No Brasil, no entanto, predomina uma análise mais histórica dos objetos artísticos…

Isso não é apenas no Brasil. Diria que, inicialmente, a história da arte é a história das ideias. Mas, aos poucos, está sobressaindo a visão de que o conhecimento do percurso do artista também traz contribuições, e elas são, naturalmente, interdisciplinares e requerem os cientistas, os conservadores, os restauradores e os historiadores da arte. Creio que o Brasil deva ter o papel de guiar os países da América Latina nesse processo de integração dos aspectos científicos e os histórico-artísticos e de conservação. E, mais particularmente, a UFMG, pela competência que já desenvolveu, tem todas as possibilidades de se tornar o centro de coordenação desse processo. Porém, a interação da ciência com aspectos histórico-artísticos tem como contexto o estágio de desenvolvimento de cada país. O Brasil passa por um desenvolvimento inacreditável e isso é ótimo. Mas quando ocorre de modo súbito e veloz apresenta algum risco: o de perder, durante o processo de modernização, o contato com a realidade histórica, com a identidade do patrimônio – e isso é como perder ou negligenciar a identidade de um país. Creio que o Brasil, por sua dimensão e pela capacidade que possui, não pode permitir que os erros cometidos na Europa aqui se repitam.

Ainda sobre o papel da ciência para a arte e considerando a experiência do Molab: é ela que lidera hoje o aporte de novos conhecimentos a essa área?

A ciência possui importância e autonomia, mas está inserida em certo contexto sociocultural e por isso precisamos de sociólogos, de filósofos e de pensadores nesse processo. Se quisermos conservar o patrimônio não poderemos fazê-lo apenas com recursos científicos. Isso simplesmente não faria sentido. Diria que, para fazer conservação do patrimônio, é necessário educar – não apenas a população, mas, antes, promover treinamento para formar especialistas a par dos problemas e em condições de intervir. Podemos contribuir neste aspecto, mas também queremos receber outros conhecimentos, que podem ser problemas que ocorrem em um clima e em uma realidade diferentes.

As condições ambientais têm imposto algum tipo de desafio para a preservação de patrimônio?

Naturalmente preservar o patrimônio significa preservá-lo em seu meio natural, levando em conta os problemas ambientais. Esta contextualização consiste em restaurá-lo e resguardá-lo por meio do conhecimento, de uma conservação preventiva e de uma manutenção programada. Isto é, tentar prevenir o que pode produzir danos, pois a restauração é apenas o último passo. Levo em consideração que ambiente não é apenas o atmosférico, mas também o social.

O Projeto Portinari criou ponte de trabalho entre a Universidade de Perugia e a UFMG. Essa parceria gerou alguma nova descoberta?

Sobre a obra de Portinari, discutimos problemas diversos, como os relacionados à utilização do pigmento anatásio [óxido de titânio]. Parece que o fenômeno de degradação provocado pelo seu uso está ocorrendo em algumas obras de Portinari.

Ana Maria Vieira

http://www.ufmg.br/boletim/bol1748/6.shtml

Sobre entidades e congressos de moda

A criação da Sociedade Brasileira de Estudos em Moda plantou as sementes para grupos de pesquisas que tenham como objetivo central discutir a moda e suas interrelações

Publicado no Jornal OTEMPO em 21/08/2011

TARCISIO D´ALMEIDA

Toda comunidade que reúne um certo número de indivíduos interessados no mesmo assunto – mesmo que sob prismas de abordagens variadas – torna-se de extrema valia para consolidar como válido um objeto de estudo na esfera acadêmica. E é exatamente esse princípio que justifica, por exemplo, a existência de entidades como The British Costume Association, da Grã-Bretanha, Costume Society of America, dos EUA, e The International Association of Costume, do Japão. No Brasil, temos o registro pioneiro da criação, em 1998, da Sociedade Brasileira de Estudos em Moda (SBEM), no Centro de Artes da Universidade do Estado de Santa Catarina (UESC), que reuniu professores, pesquisadores e profissionais do setor em discussões e formulação de estratégias para congregar interessados na produção de reflexões acerca da moda e, essencialmente, na constituição de uma comunidade intelectual sobre o assunto no Brasil.

O resultado da criação da SBEM plantou as sementes para grupos de pesquisas e reuniões que tinham como objetivo central discutir a moda e suas interrelações. De certa forma, podemos dizer que a contribuição dos primeiros fóruns de discussão promovidos pela SBEM resultou em outros descendentes espalhados por todo o país. Paralelas à SBEM, duas outras entidades começaram a se constituir no país, a saber: a Associação dos Estilistas do Brasil (Abest) e o Colóquio de Moda. Há ainda a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), que tem sua natureza de fundação ligada aos empresários do setor.

Quando foi fundada, em 2003, a Abest tinha apenas cinco membros e seu objetivo central era constituir a noção de fortalecimento e promoção do design e da moda brasileiros, ou seja, o DNA dos criadores nacionais. Atualmente, a entidade conta com 56 membros entre estilistas e marcas e exporta para 48 países. Na vertente acadêmica, foi instituído, em 2005, o Colóquio de Moda, pensado a partir da ideia de reuniões anuais que congregassem professores, pesquisadores e profissionais da moda de todo o território nacional. A primeira edição foi sediada no Centro Universitário Moura Lacerda, em Ribeirão Preto (SP), e contou com a participação de 16 instituições de ensino, procedentes de nove Estados. Foram apresentados 77 trabalhados, durante os três dias do evento.

No ano passado, a sexta edição do Colóquio de Moda registrou alguns números e conquistas que justificam sua existência e consequente crescimento. Sediado na Universidade Anhembi Morumbi, em São Paulo, teve apoio da Fapesp, contou com as apresentações de 294 trabalhos selecionados, espalhados em 15 Grupos de Trabalhos (GTs), que abordaram e mapearam a diversidade da moda e das áreas multidisciplinares correlatas. Contou ainda com a presença de representantes de eventos e de escolas internacionais. O total de inscritos chegou ao número de 978 pessoas, superado pela edição de 2008, na Universidade Feevale, em Novo Hamburgo (RS). Outra novidade, também lançada no ano passado, foi a criação da Associação Brasileira de Estudos e Pesquisas em Moda, como uma espécie de dissidente da SBEM.

Na edição deste ano, o VII Colóquio de Moda acontecerá entre os dias 11 e 14 de setembro, em Maringá (PR). Com realização da RedeModa, Rede de Ensino Superior de Moda do Paraná – um pool entre a UEL, UEM, UTFPR, Cesumar e Unipa -, foram selecionados 316 trabalhos, divididos entre as categorias de artigos e comunicações orais em dez GTs e pôsteres científicos de alunos de graduação. Nesses anos de eventos, o colóquio ocupou um espaço importante no Brasil como maior congresso científico de moda, estabelecendo intercâmbio entre estudantes e pesquisadores de inúmeros programas de graduação e pós-graduação em moda. A edição ibero-americana do colóquio já foi anunciada para 2012. Além disso, haverá ainda o I Encontro Nacional de Pesquisa em Moda, de 25 a 28 de outubro, na UFG.

Tarcisio D´Almeida é professor e pesquisador do curso design de moda da Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais (EBA-UFMG). tarcisiodalmeida@eba.ufmg.br

Ronaldo de Noronha contesta autoritarismo de quem determina o que é (ou não) arte

“É preciso desarmar e desmascarar a autoridade no campo da arte no que ela tem de autoritário, e apoiá-la no que tem de competência e recursos, como pesquisas e reflexões que devem ser acessíveis a todos.” A frase do pesquisador Ronaldo de Noronha, professor da Fafich, resume o que ele chama de “pregação” em favor da democratização do acesso à arte. Ele vai expor sobre o tema neste sábado, em palestra no Espaço TIM UFMG do Conhecimento.

A posição do professor do Departamento de Sociologia e Antropologia fica clara já a partir da pergunta que dá título à apresentação. Ronaldo de Noronha surpreende ao lançar a provocação “Quando é arte?”. Ele explica que a forma mais esperada não deve ser usada. “Não é o caso de perguntar ‘O que é arte?’. Não se trata de pensar em qualidades que uma obra deve ter para ser considerada artística. Faz mais sentido saber quando isso foi atribuído, e por quem”, ele diz.

Isso tem a ver com os processos – perfeitamente identificáveis e analisáveis, segundo Noronha – de atribuição de qualidade artística a determinados objetos. “Do mesmo modo que se concede o status de arte a uma obra, ele pode ser negado em outra época, por outras pessoas”, lembra o pesquisador, que reflete sobre o assunto pelo menos desde que publicou, na revista Teoria e Sociedade (dos departamentos de Ciência Política e Sociologia e Antropologia da Fafich), no final dos anos 1990, o artigo A formação dos gostos: a sociologia dos juízos estéticos.

Experiência da arte
E por que é importante questionar “quando é arte”? Ronaldo de Noronha afirma que o objetivo é despertar o interesse das pessoas pelo assunto. Afinal, ele ressalta, as diferentes artes podem não ser aquilo que humanidade fez de mais importante, mas certamente foi o que ela fez de melhor. Além disso, segundo ele, “se compreendermos bem no que consiste o fenômeno artístico, seremos mais capazes de experimentar a arte de modo mais rico”.

Ele garante reconhecer o papel fundamental dos artistas e produtores de arte, mas prefere se colocar do ponto de vista de quem vive a arte – o leitor, o ouvinte, o espectador. “Poucos se lembram que a obra de arte só existe quando alguém interage com ela”, diz Noronha. “Se imaginarmos uma livraria que contenha todos os textos já escritos acerca de obras e autores, vamos constatar ali que os especialistas se dedicaram a interpretar e estabelecer conceitos sobre os trabalhos como resultado da produção dos artistas. No entanto, tem sido deixado na obscuridade, como um problema menor, aqueles a quem se destina a obra e o que eles fazem com ela”, completa o professor de sociologia da arte e da cultura.

Mas o pesquisador da UFMG não chega ao ponto de se sentir sozinho em sua “pregação”. Segundo ele, tem havido investimento crescente, a partir dos anos 1960 e 70, nos estudos da “leitura”, ou seja, da atividade de recepção artística, sobretudo relacionada à literatura, mas também ao cinema e às artes plásticas. A sociologia, por exemplo, tem tratado do assunto ao pensar nas condições para compreensão da obra, a chamada competência cultural.

Censo cultural
De acordo com Ronaldo de Noronha, que foi crítico de cinema por cerca de 20 anos em jornal diário de Belo Horizonte, seria “magnífico” para o Brasil se fossem realizadas pesquisas nos moldes do que se faz na França. “Os franceses promovem constantemente uma espécie de censo das práticas culturais, e recolhem dados sobre quem vai aonde e que grupos fazem o quê quando se trata de consumir cultura”, diz ele. “Essa informação é usada por gestores para elaboração de políticas públicas de fomento – entre nós, seria importante criar oportunidades para a população desprovida de recursos – e por grupos artísticos para buscar novos espaços e financiamentos.”

A opinião de Noronha sobre os gestores públicos de cultura no Brasil é positiva. Ele acha que, com poucos recursos além daqueles gerados por leis de incentivo, em geral tem se feito muito nessa área, incluindo um esforço de democratização. E informação suplementar sobre hábitos e preferências seria muito bem-vinda. “Pesquisas rigorosas nessa área são boas quando desmascaram certas coisas que são tidas como verdade, como a visão de que as classes populares não se interessam por arte”, dispara.

Segundo o pesquisador, esse tipo de visão “elitista” ignora que todos gostam de arte – apenas ela é definida de modos diferentes. Ele lembra que, quando apareceu o jazz, os eruditos entendiam a música como barulho. Processos análogos se deram com o rock e o samba. “Quem vai me impedir de achar que histórias em quadrinhos, séries de TV e Tropa de elite 2 são obras de arte?”, provoca mais uma vez. A propósito, ele cita dissertação defendida recentemente na Fafich por Júnia Torres, que estudou os rappers. “Acadêmicos nos Estados Unidos têm feito novas leituras do rap e encontram nas letras qualidades da poesia canônica da língua inglesa. E também não é por isso que a poesia do rap deve ser considerada arte”, salienta Ronaldo de Noronha.

Disponível em http://www.ufmg.br/online/arquivos/020674.shtml

Um pouco mais sobre os aspectos teóricos do conceito de arte, não deixe de consultar a obra “O que é arte” de Jorge Coli e também Arte e o que eu e voce chamamos arte:   801 definições sobre arte e o sistema da arte, de  Frederico Morais, disponíveis na Biblioteca da EBA e na Biblioteca da FAFICH.

Conversações – Mostra de livros de artista na Biblioteca Universitária da UFMG

A partir de um conjunto de livros de artista de alunos, ex-alunos e professores da Escola de Belas Artes, pertencentes à coleção especial de livros de artista, foram escolhidos livros do mesmo acervo que pudessem de alguma forma fazer uma conversa, seja por semelhanças formais, temáticas ou até mesmo uma aproximação que acontece pelos títulos das obras.

Assim, os livros Neomonumentos, de Mario Azevedo e Brancusi no ar, de Marina Camargo, se aproximam pelas referências à escultura; o amor e o erotismo são tema dos livros de Paola Rettore e Marcelo Kraiser, Letícia Weidusthadt, Amir Brito Cador e Paulo Bruscky; alguns livros são autoreferentes, têm o livro ou a realização do livro como tema, caso de Iluminuras, de Marco Antonio Mota e Júlio Martins, que conversa com os livros de Mateo López, de Marilá Dardot e Fabio Morais.

O formato também pode ser um critério de aproximação, como o uso de jornal tablóide por Mabe Bethônico e Matheus Rocha Pitta; o uso de legendas como forma de alterar a percepção das imagens, presente em Night Visit to the Library, de Amir Brito Cadôr e nos livros de Michel Zózimo e Fernanda Gassen; o título aproxima os livros e também os projetos artísticos a que se referem, como no caso dos Lotes vagos, de Breno Silva e Louise Ganz, em relação ao Guia de Terrenos Baldios de São Paulo, de Lara Almarcegui.

Algumas vezes, os projetos só têm existência (ou são possíveis apenas) nas páginas do livro, como o Catálogo de projetos & realizáveis, de Paulo Nazareth, em conversa com os Corredores para Abutres, de Regina Silveira, e as invenções de Paulo Bruscky. Por fim, destacam-se livros que se aproximam por questionarem a noção de autoria da obra: os artistas que fizeram os livros atribuem a obra a uma outra pessoa que não existe: é o caso de Lucia Rosas, Duda Miranda e Marcelo do Campo, personagens conceituais, com biografia e curriculo próprios.

A coleção especial de livros de artista é a única no país a fazer parte de uma biblioteca universitária. Formada em novembro de 2009 por iniciativa dos professores Maria do Carmo Freitas Veneroso e Amir Brito Cadôr, a coleção conta com mais de 180 títulos, de artistas brasileiros e estrangeiros. Com o intuito de aproximar a comunidade e os livros que pertencem à coleção especial de livros de artista, a Biblioteca Universitária, em parceria com a biblioteca da Escola de Belas Artes, realiza uma mostra de livros de artista a partir do dia 24 de agosto de 2011. Participam da mostra os alunos e ex-alunos (graduação e pós-graduação) Louise Ganz, Marco Antonio Mota, Paola Rettore e Paulo Nazareth, e os professores Amir Brito Cador, Mabe Bethônico, Marcelo Kraiser e Mario Azevedo. Com curadoria do professor Amir Brito Cadôr, os livros podem ser vistos até o dia 4 de novembro no Setor de Livros Raros, no 4º andar da BU, no campus Pampulha da UFMG. O curador fará uma palestra, aberta ao público, no dia 21 de setembro, às 17h no mesmo local da mostra.

Realização:

Biblioteca Universitária

Divisão de Coleções Especiais e Obras Raras

Biblioteca da Escola de Belas Artes – Coleção Livros de Artista

Informações e visitas orientadas:

Divisão de Coleçoes Especiais e Obras Raras – Telefone 31 3409-4615, e-mail: colesp@bu.ufmg.br.

Site da coleção:  http://seminariolivrodeartista.wordpress.com/

Eduardo Relero: a ilusão nas ruas da cidade

Marisa Antunes

Eduardo Relero é, actualmente, um dos principais nomes da arte urbana: das suas mãos e imaginação nascem os esboços das figuras anamórficas que ganham e dão vida às superfícies mais improváveis: pavimentos e ruas.

A anamorfose é a representação de figuras que, quando observadas frontalmente parecem distorcidas ou indecifráveis, tornando-se perceptíveis quando vistas de um ângulo específico.

Eduardo começou a pintar retratos aos 21 anos, no seu país de origem: a Argentina. Depois viajou durante algum tempo: Peru, Chile e Argentina – sempre sem deixar de desenhar e pintar. Em 1990, quis visitar Roma e ver de perto a arte que sempre admirou. Foi lá que teve contacto com artistas que decoravam as ruas com desenhos copiados dos grandes clássicos: os “Madonnari”. De regresso à Argentina, estudou Belas Artes, filosofia e arquitectura porque não acreditava que pudesse desenvolver o seu trabalho apenas com as pinturas de rua.

Criou um blog, mudou-se para Sevilha e começou a decorar os pavimentos espanhóis, quase sempre sem licença – que é quase impossível de obter na Europa. Com estes desenhos foi alimentando o seu blog e, a partir daí, tudo foi acontecendo naturalmente.

Eduardo aprendeu sozinho a desenhar a três dimensões, socorrendo-se das suas noções de geometria e dos seus conhecimentos de arquitectura. Gosta de dar um toque satírico e critico às suas representações. As suas figuras humanas têm, geralmente, um tom dramático.

Utiliza pigmentos secos, água e um pouco de cola e, de vez em quando, dá-lhes um toque de pastel. Os seus desenhos têm 4×8 metros e os maiores chegam a atingir os 12 metros. Normalmente, demoram cerca de dois dias e meio a três dia a concluir, consoante a complexidade. Eduardo faz esboços previamente e, uma vez iniciado o desenho no pavimento, está sujeito à imprevisibilidade das condições atmosféricas. Confessa que ainda se sente bastante o peso do estereótipo de que um artista ambulante é, geralmente, um pedinte. Estar a trabalhar na rua é estar exposto a todo o tipo de pessoas: Eduardo aponta como maior dificuldade a distracção causada pelos curiosos que param para observar, falar e opinar sobre o trabalho.

Confessa que o carácter efémero das suas obras não o preocupa: nada se compara à sensação de libertação que advém da materialização das suas ideias. Conheça-as melhor no site de Eduardo Relero.

Sobre a autora: marisa antunes apaixona-se por tudo e pelos nadas e passa a vida a sonhar acordada. Tem uma assumida tentação pelo abismo e pelas quedas livres – sem rede – e acredita que tudo é possível.

Eventos

II Seminário de Pesquisa em Pós-Graduação

– Ciência & Conservação –

Data: 31 de agosto a 02 de setembro de 2011
Vagas: 100
Inscrição: gratuita
Local: Auditório da EBA

Público-alvo: alunos da pós-graduação e da graduação, comunidade externa, educadores, pesquisadores e demais profissionais, considerando o interesse e a formação nas áreas de Artes Visuais, História da Arte, Conservação e Restauração, Arqueologia, Museologia, Ciência da Informação e Gestão Patrimonial.

Objetivo: discutir e apresentar as pesquisas desenvolvidas na Escola no campo da História da Arte Técnica no corpo epistemológico da área de Ciência da Conservação, bem como ampliar o debate por meio da presença de pesquisadores de outras instituições nacionais e internacionais.

Organização: PPGA-EBA-UFMG
Maiores informações:
http://www.eba.ufmg.br/sppgrad/

O projeto é uma parceria entre os grupos de pesquisa LACICOR e ARCHE da EBA-UFMG, e o CECOR-EBA-UFMG.

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EBA EXIBE MOSTRA MELHORES MINUTOS DE 2010

Hoje, quarta-feira, 24, a partir das 17h, a Escola de Belas-Artes (EBA) exibe a mostra Melhores Minutos de 2010, com uma seleção do Festival do Minuto.

Durante a mostra serão fornecidas informações sobre a edição do Festival em 2011, como a criação do Festival do Minuto Universitário e do prêmio especial de Melhor Vídeo da UFMG. Aberta ao público, a mostra acontece no auditório da Escola, no campus Pampulha.

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CURSO DE EXTENSÃO SOBRE HISTÓRIA DA ARTE

Local: FAFICH
Tema: A história da arte desde a Antiguidade Clássica até o Renascimento Pleno
Duração: 48 horas-aula às terças-feiras
Horário: 19h20 às 22h de setembro a novembro
Inscrições: até 5 de setembro pelo site da Fundep, onde está disponível a ementa do curso.

Coordenador : Magno Mello, doutor em História da Arte pela Universidade Nova de Lisboa (2002).

Surrealismo na fotografia: você pratica e nem sabe disso!

No que se debate desde o surgimento da fotografia, ela foi a que mais se destacou pelo fato de poder ser reproduzida e abrir a discussão sobre as artes miméticas. Tinha-se a situação, o meio (a câmera) e a reprodução. Abre-se aí uma lacuna sobre arte, estética e composição.

 Notamos que a pintura perdia seu espaço e passava por “maus bocados” com a crescente demanda experimental do século XX. Por ser algo único e feito a mão, os artistas raramente faziam quadros que não eram figurativos e apelava quase que na sua maioria a busca do retratar o real através de telas absurdamente calculadas e esboçadas com muita antecedência.

 Porém, vamos especificamente chegar ao encontro das águas do surrealismo quanto pintura e a contribuição da fotografia para o fortalecimento da vanguarda que tinha como foco a questão dos sonhos, do erótico e das fantasias com espírito e/ou algo mais agressivo da questão humana. Na pintura podemos dizer que o surrealismo foi um sonho mal sonhado, onde muitos dos pintores digamos que tiveram sonhos mal sonhados não concebendo fortemente uma contribuição ao movimento.

Pintura: Salvador Dali – Premonição

 Em tangente temos a fotografia que por sinal teve o seu início no surrealismo com a marginalização das fotografias de Man Ray e suas radiografias solarizadas, dos fotogramas de Lásló Moholy-Nagy, as fotomontagens de John Heartfield e do famoso Alexandre Rodchenko. Estes entre outros não são mártires do movimento surrealista fotográfico, porém a pureza e a essência  faziam com que iniciassem o movimento que na década de 30, esse movimento já possuía uma estética nas costuras, publicidade e até mesmo retrato que já tinham uma base estética do movimento.

Mas podemos sentir que o surrealismo está no coração do ato de compor uma imagem, “do fotografar”. Através da fotografia, temos o poder de duplicar o mundo, o que já faz parte do sonho que congelamos e digitalmente ou de forma impressa confirma essa realidade de segundo grau, afirmando que já esteve lá e com uma câmera na mão. O poder da fotografia é grande na justificativa de algo que parece ser sonho, pois o fotógrafo pode abordar um mesmo tema sendo mais dramático e mais rigoroso na exposição e com uma visão diferente àquela percebida pela visão natural e “desobvializando” uma cena comum.

 Em suma podemos sair deste insight nostálgico da discussão do surrealismo e a fotografia no âmbito do seu surgimento e pisarmos na situação contemporânea em que temos uma condição favorável na produção do “surreal”. Diferente do automatismo, onde a mente não exerce nenhum tipo de controle, esbarramos na bagagem artística que carrega cada fotógrafo no ato do disparo fotográfico. De forma a buscar o subconsciente, fica natural apreciar alguns fotógrafos contemporâneos e que tem o poder de  simplesmente deixar-nos  presos e pasmos com os resultados fotográficos. Implicitamente, o fotógrafo quando empunha a sua câmera e aciona o disparador que no abrir da cortina, toda aquela bagagem visual é capturada pelo sensor que absorve a luz e a grava na memória da câmera digital – o qual é quase que unânime o uso deste meio.

 Quase que de uma poesia é constituída todo o processo de captura. Mas e o surreal? Onde entra isso? O surreal é o simples fato da abordagem quase que inconsciente da fração de segundo que o fotógrafo tem para olhar uma cena, e num simples movimento de mira compõe, dispara, grava e enquadra uma única cena. Toda a parte compositiva, já está no subconsciente onde o sucesso de cada captura chega a ser puro e quase que mecânico até. Seria um fotógrafo que “tudo o que ele põe a mão fica bom digamos”,tudo que ele põe o olho fica bom”,ou melhor, tudo o que ele fotografa fica bom.

 Digamos que fotografar é exercitar algo do subconsciente. Um casamento, uma festa de aniversário e ou qualquer outro evento por exemplo: O que se espera de um fotógrafo de casamento/evento? Que aquele acontecimento seja eternizado, e se transformado mais ainda em conto de fadas, é o resultado esperado por quem contrata um profissional para este fim. Para o fotógrafo conseguir ele tem que carregar consigo, inconscientemente uma bagagem estética e compositiva para poder transformar tudo aquilo (o evento) em algo “supra”.

 Uma outra vertente é para quem vê uma obra como esta abaixo, muitos me perguntam: Nossa que “Cult” foi em alguma cidade histórica que você fez esta foto?

Não! Esta foto foi tirada quando fui cobrir um homicídio na cidade de Leme e do outro lado da rua havia uma residência de pessoas humildes e que secavam roupas na calçada e estávamos com uma condição de luz do sol do período da manhã conseguindo bons efeitos de sombra. Por um momento, isso faz o interlocutor viajar e acreditar que aquilo poderia ser uma situação feliz, cultural, histórica, e que aqui estou descrevendo uma foto minha, mas quantas fotos vemos por aí e ficamos imaginando coisas e coisas que na verdade são outras. Outras realidades que um fotógrafo verdadeiramente sabe e as pessoas que vêem essa informação visual, sonham para decifrar aquela imagem e as interpretam de acordo com a bagagem que acreditam que tenha.

 Finalizo aqui mais um post dessa incessante busca pelo entendimento “sobre fotografia” mergulhado de incógnitas e mistérios que hei de trazer para vocês e provocar discussões.

“À diferença dos objetos  das belas-artes das eras pré-democráticas, as fotos não parecem profundamente submetidas às intenções de um artista. Devem, antes, a sua existência a uma vaga cooperação (quase mágica, quase acidental) entre fotógrafo e o tema – mediada por uma máquina cada vez mais simples e mais automática, que é infatigável e que, mesmo quando se mostra caprichosa, pode produzir um resultado interessante e nunca inteiramente errado.” Susan Sontag

Rafael Habermann

19 de agosto – Dia mundial da Fotografia

Em um mundo completamente imagético como é o nosso hoje, a fotografia está presente em todos os momentos. Seja de câmeras comuns, digitais, de celulares, a imagem se tornou um elemento central nesse mundo midiatizado.

Mas se hoje a fotografia tem esse lugar de destaque, podendo ser alterada, transformada e manipulada, muito se deve aos inventores deste conceito.

Dois franceses merecem destaque nessa descoberta: Joseph Nicéphore Niépce e Jean Jacques Mandé Daguerre. Niépce foi o precursor, unindo elementos da química e da física, criou a héliographie em 1926. Nesse invento ele aliou o princípio da câmara obscura, empregada pelos artistas desde o século XVI, à característica fotossensível dos sais de prata. Após a morte de Niépce, Daguerre aperfeiçoou o invento, rebatizando-o como daguerreótipo.

Por essa época um francês radicado no Brasil, Hércules Florence, desenvolvia também experimentos que levariam ao mesmo resultado. Mas o advento da fotografia foi anunciado ao mundo oficialmente, em Paris, na Academia de Ciências da França, consagrando o Daguerreótipo, em 19 de agosto 1839.

De lá pra cá a fotografia evoluiu muito e foi a grande responsável por apresentar o mundo à humanidade. Mesmo com o surgimento de outras formas de exibição de imagens (cinema, televisão, computador) a fotografia continua sendo a única “capaz de captar a alma humana”. Ou, como diria Henri Cartier-Bresson, um dos maiores fotógrafos de todos os tempos “fotografar é captar o momento decisivo”.

www2.portoalegre.rs.gov.br/pwdtcomemorativas/default.php

Parabéns a todos os fotógrafos!!!


Moda e fotografia : entrevista com Fernando Souza

Segue entrevista com o estilista e designer gráfico Fernando Souza para que possamos entender o que se passa na cabeça de um profissional que respira moda.

Por Caio Garcia Motta Cal

1) Você morou durante dez anos no Japão e trabalhou ao lado de inúmeros profissionais (maquiadores, fotógrafos, estilistas etc). Como foi esse período e qual é a principal diferença entre a mão-de-obra japonesa e a brasileira?

O tempo que morei no Japão foi sem dúvida, até hoje, a melhor época da minha vida. Foi lá que conheci a moda e o design de perto. Quanto à comparação da mão-de-obra, os japoneses são extremamente organizados e pontuais (qualidade que os alguns brasileiros deixam a desejar).

 2) O que inspira você? É possível fugir dos clichês?

É possível sim. Acredito que a moda seja a melhor forma de expressar nossa personalidade, ou seja, cada um tem a sua. Me inspiro muito em obras de arte, música e cultura de outros países.

 3) O que é uma boa fotografia de moda?

Aquela que conta uma história.

4) Como você costuma escolher o fotógrafo que irá trabalhar?

Geralmente, escolho pela proposta do trabalho (campanha/editorial). O contato no mundo da moda é fundamental. Gosto de trabalhar sempre com fotógrafos que eu tenha uma certa liberdade, embora esteja sempre buscando conhecer o trabalho de novos profissionais.

 5) Você já se arrependeu de ter trabalhado com determinado fotógrafo? O que você espera desse profissional?

Já me arrependi sim. Existem fotógrafos que não entendem o processo criativo de uma coleção.  Não levam em consideração o pedido da equipe criativa (mesmo tendo recebido um briefing antes).

 6) O briefing é uma das partes mais importantes antes de registrar as fotos de uma campanha, por exemplo. Como você transmite essa idéia ao fotógrafo?

Eu sempre monto um painel de referências. Acho importante informar a proposta da coleção, o público alvo para aquelas roupas, uma possível locação, cartela de cores e modelos. Uma reunião na véspera das fotos é essencial.

7) Você é a favor ou contra a manipulação digital de imagens?

Sou a favor, desde que seja feita com bom-senso.

 8.) Qual é o seu fotógrafo favorito?

Sou fã do Steven Meisel. Me apaixonei pelo trabalho dele em 2000 após ver um editorial para Vogue Itália. Aqui no Brasil, eu gosto muito do Gui Paganini.

 9) Qual é a sua dica para os que estão começando nessa área tão promissora?

A principal dica é ter consciência que o mundo da moda não é feito de glamour. O trabalho vem antes. Conheço dezenas de estudantes que se formaram em moda e desistiram, alegando não ser o “emprego dos sonhos“. Outra dica importante é estar sempre atualizado e pesquisando sobre o assunto.

 10) Quais são os seus projetos futuros?

Trabalhar, trabalhar e trabalhar! Recentemente montei um blog pessoal chamado Recorte Fashion (www.recortefashion.com). É o meu diário virtual com análise das principais tendências, desfiles e curiosidades. Também estou envolvido em um processo criativo pessoal. Quero lançar uma coleção e disponibilizar em uma loja virtual (e-commerce).

Fotografias de Steven Meisel.

LIVROS RELACIONADOS DISPONÍVEIS NA UFMG:

BARTHES, Roland. O sistema da moda. Lisboa: Edições 70; São Paulo: Martins Fontes, 1981. 353p.  (Coleção Signos;35)   FAFICH – 194.9 B285s.Pc 1981

LAGE, Bárbara Dias; VEIGA, Ricardo Teixeira. Fotografia de moda [manuscrito]: imagem como signo e estratégia de marketing.      2010. [35] f.: il.     FACE – M658 LAG FOR 2010

MARRA, Claudio. Nas sombras de um sonho:  história e linguagem da fotografia de moda.  São Paulo: Senac, 2008. 224 p. FAFICH – 770 M358n.Pa 2008

SEIVEWRIGHT, Simon. Fundamentos de design de moda: pesquisa e design  Porto Alegre: Bookman, 2009. 175, 1 p. (Fundamento de design de moda. Design e fotografia ; 01)  – BELAS ARTES –  391.002 S713f.Pf 2009

Biblioteca "Professor Marcello de Vasconcellos Coelho" da Escola de Belas Artes da UFMG