Livro da Árvore

Sonia Lins (Belo Horizonte, 1919-2003)
Livro da Árvore
17 pranchas acondicionadas em um estojo
Rio de Janeiro : Imprita, c1984.
27 x 35 cm

nota: assinado com as iniciais SL

http://www.sonialins.com.br/obras/o-livro-da-arvore

“Tenha a coragem de jamais queimar uma árvore.”

Rasgada pela Transamazônica, alvo de faraônicos projetos de desenvolvimento, a Amazônia era considerada, essencialmente, uma fronteira a ser desbravada e explorada economicamente, no Brasil do início dos anos 1980. A imprensa e ecologistas, entretanto, começavam a alertar sobre o desmatamento de milhões de hectares de florestas. Aos 65 anos, Sonia Lins viu os sinais de fumaça ao criar, em 1984, o seu Livro da Árvore, um manifesto poético e gráfico contra queimadas.
Para isso, Sonia devastou a coleção de revistas National Geographic dos netos. Dali saiu o material para as colagens que compõem o livro. “Nunca tinha feito colagem na vida, mas tinha uma artista aqui, chamada Hanna Szulc, que me deu uma noção. Eu, muito rápida, aprendi tudo e fiz o livro. Quis fazer um livro mais visual do que para ler. Fiz com que as páginas fossem soltas, para fazer um livro bem livre”, contou Sonia, em entrevista à sobrinha Marilia Andrade.
Um dos destaques da obra é um mapa do Brasil composto de imagens de queimadas. “Tive a ideia de fazer quando estava indo pra Bahia e olhei aquelas árvores queimadas pelas fábricas de carvão”, lembrou a artista. Além de um poema-manifesto, o livro ainda traz a reprodução de um trabalho que seria mostrado na exposição Se é para brincar eu também gosto. Pacientemente recortadas uma a uma, letras de vários tamanhos e formas coladas sobre papel de grandes dimensões formam galhos e folhas de uma árvore.
Elogiado por escritores como Carlos Drummond de Andrade, Otto Lara Resende e Rubem Braga, Livro da árvore foi lançado em dezembro de 1985, no Palácio das Artes, em Belo Horizonte. No coquetel, um dos assuntos era a construção de um edifício na antiga casa onde morara a família de Sonia. Para isso, seria necessário derrubar uma árvore de 90 anos.

PDF aqui

Site da artista e fonte das imagens – www.sonialins.com.br

O Livro das Dessabedorias

o livro das dessabedorias

Sonia Lins
O livro das dessabedorias
[Belo Horizonte : Ed. do Autor], 2003.
[100] p. ; 7 x 5 x 0,8 cm.
Impressão em offset.
Manuscritos em grafite no verso das folhas volantes.
Encadernação capa dura, com revestimento em papel vergê. Folhas de guarda em papel craft.

“Está chegando a / hora de eu morrer / e já estou com saudade de mim”

Numa pequena caderneta preta de bordas douradas, o último livro de Sonia Lins nasceu devagar, em notas e frases rascunhadas no ritmo permitido pelo trabalho e pelo tratamento do câncer, que se agravou em 2003. Sempre apaixonada pelo grafismo da palavra, mesmo ali Sonia não deixava de lado o gesto estético: cada página continha uma frase ou poema. Alguns eram escritos de cabeça para baixo. Às vezes, ocupavam duas páginas, como neste balanço: “Tudo que perdi acabei ganhando / tudo que ganhei acabei perdendo”.

Entre os textos, as tiradas bem humoradas, típicas de Sonia: “quando eu estiver calada / não me interrompa / pois estou falando comigo”. Outros textos fazem referencia a trabalhos, como as exposições Zumbigos e Brasil passado a sujo. Em geral, o tom é reflexivo. No seu último ano de vida, Sonia pensava sobre o envelhecimento e repassava a vida: “todos nós / gostaríamos de ter / algumas páginas / de nossas biografias / arrancadas / a minha já foi / depenada”. Impresso em pequeno formato, o caderno de anotações resultou no Livro das dessabedorias, título escrito pela própria autora, à caneta.

https://sonialins.com.br/obras/o-livro-das-dessabedorias

És Tudo

Sonia Lins
És Tudo
ed. da autora, 1999
texto impresso em bobina em formato de rolo de papel higiênico.
edição de 200 exemplares

“É como se eu pegasse uma palavra e jogasse na parede. Ela cai no chão estilhaçada. Com os cacos da palavra eu componho outras e, de repente, com aquela composição eu consigo uma coisa que pode ser um assunto meio filosófico, uma coisa cômica, às vezes poética, às vezes pornográfica.”
No documentário Sonia Lins, de Daniel Zarvos, é assim que a artista descreve o processo de composição dos poemas publicados no livro És tudo (1999). Humor e reflexão introspectiva dão o tom da maioria dos textos, muitas vezes compostos de jogos de significado a partir de uma palavra: “Morder / E depois / Murder”.
No filme, Sonia conta que aproveitava as noites de insônia para escrever. “Às vezes eu passava a noite toda brincando com as palavras”. As madrugadas em claro geravam “um tal estado de exaustão que (…) chegava naquela zona de criação que existe dentro da cabeça da gente. Eu tinha as melhores ideias”.
Deve ter sido numa dessas noites, em 1999, que ocorreu a Sonia imprimir És tudo em um rolo de papel higiênico. O amigo Odilon Vieira Ladeira colaborou no projeto: “Ela queria em papel higiênico de verdade, mas era impossível. Então fizemos no papel mais simples que achamos. Eles imprimiam os poemas numa bobina de papel, cortavam na largura de um papel higiênico e depois picotavam”. Os livros em formato de rolos seriam atração na mostra Se é para brincar eu também gosto (2000), no Rio de Janeiro.
Em 2000, o livro também ganhou uma edição caprichada, ilustrada por desenhos e grafismos da própria Sonia, com prefácio da especialista em literatura Maria José de Queiroz.

[fonte – sonialins]

Eu

E3P1-03

Sonia Lins (1919-2003).
Eu.
Paris: [Ed. do autor], 2000.
[43] p. : il. p&b ; em caixa
31 x 22 x 1,7 cm.
Edição original numerada
tiragem de 200 exemplares
papel velin johannot 125 g, relevo seco na capa e na caixa.

“O desenho, como tudo que eu faço, tem um processo. (…) Vou trabalhando com o objetivo de chegar até a última coisa que eu possa fazer com ele. Se acontece que eu perca o desenho, fico feliz porque rasgo na mesma hora. Eu não tenho dificuldade de fazer a triagem”, contou Sonia, em entrevista à jornalista Marília Gabriela. Quando errava o desenho, Sonia preferia não repeti-lo: “Ou eu salvo o desenho ou não consigo fazer o que quero. O primeiro que você faz sai o melhor de todos; quando você repete já não tem a mesma qualidade do primeiro. Porque o primeiro você trabalha numa espécie de encantamento, o segundo você já trabalha com a rotina da repetição”.

http://www.sonialins.com.br/obras/eu

Notas de exposição: “O desenho como instrumento”, no período de 31 de maio a 06 de julho de 2014. Sesc Pompeia – São Paulo.