Marcados

Claudia Andujar

Marcados

São Paulo, Cosacnaify, 2009.

21 x 23.2 x 1.6 cm

156p.

Yanomami significa “ser humano”, sabia a fotógrafa Claudia Andujar quando foi acompanhar alguns médicos em expedições de socorro na Amazônia. Nos anos 1980, com a construção de estradas no território habitado pelos ianomâmis, uma epidemia foi trazida ao local, e grupos de salvação viajavam para fazer levantamentos de saúde e vacinação. Como os ianomâmis não tinham nome próprio e, na época, reconheciam-se por graus de parentesco, foi necessário dar a eles números que indicassem que já haviam sido vacinados. Assim nascia a série Marcados: o que era para ser um mero registro fotográfico, para fins de organização, acabou levantando um grande questionamento em torno dos “rótulos” dados às pessoas na construção das sociedades.

Claudia Andujar chegou a viver quase uma década em Roraima, junto ao povo ianomâmi, reconstruindo uma família que perdeu, em parte, durante o Holocausto:“Aos 13 anos tive o primeiro encontro com os “marcados para morrer”. Foi na Transilvânia, Hungria, no fim da Segunda Guerra. Meu pai, meus parentes paternos, meus amigos de escola, todos com a estrela de Davi, visível, amarela, costurada na roupa, na altura do peito, para identificá-los como “marcados”, para agredi-los, incomodá-los e, posteriormente, deportá-los aos campos de extermínio. (…) É esse sentimento ambíguo que me leva, 60 anos mais tarde, a transformar o simples registro dos Yanomami na condição de “gente” – marcada para viver – em obra que questiona o método de rotular seres para fins diversos.”

Até a homologação da terra indígena Yanomami em 1992, foram anos de lutas defendidas pela fotógrafa, participante da Comissão de Criação do Parque Yanomami (CCPY). Invasões garimpeiras chegaram a apontar para uma possível extinção das tribos, quando Andujar se propôs a olhar para os indígenas com cautela, representá-los e auxiliar em programas de saúde. A série que retorna ao Pavilhão Bienal na exposição 30 × Bienal, mostra famílias que encaram as lentes de forma determinada, reafirmando sua cultura e preservando sua identidade para muito além de um número cadastral. Mais do que fotografia, a obra de Andujar mistura arte e vida, propondo-se a entender os costumes e crenças de um povo que tem na natureza um espelho de si. A reflexão das condições de vida do (Yanomami) ser humano.

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