Keith Haring (Estados Unidos, 1958-1990)
O livro da Nina para guardar pequenas coisas
São Paulo, Cosac Naify, 2010
Português; capa dura
72 p.
23 x 31 cm
ISBN: 978-85-7503-888-8
Tradução: Alípio Correia de Franca Neto
Texto na quarta capa: Nina Clemente
Além de incentivar a criatividade e o imaginário, O livro da Nina para guardar pequenas coisas nasceu a partir de uma história de afeto entre o artista plástico norte-americano Keith Haring (1958-90) e Nina, filha do pintor italiano Francesco Clemente. Em seu aniversário de sete anos, a menina recebeu de Haring um livro inteiramente personalizado. Na mesma linha de Rabiscos (2009), de Taro Gomi, O livro da Nina é um objeto pessoal para desenhar, pintar, colar adesivos, folhas, fotos dos amigos, lembranças de um dia no circo e até pensamentos – desde que sejam pequenas coisas. Publicado agora em fac-símile, a edição brasileira conta, ainda, com um depoimento exclusivo da própria Nina Clemente, 22 anos após ter ganhado o presente.
As criações de Keith Haring marcaram as artes gráficas dos anos 1980. Seu traço se popularizou pelo mundo todo e é admirado até hoje por artistas da nova geração, como Osgemeos. Veio cinco vezes ao Brasil, uma delas para participar da Bienal de Arte de 1983.
O livro da Nina para todos
Seguindo a linha iniciada por Rabiscos (2009), de Taro Gomi, em que as crianças são convidadas a interferir no livro, por meio de desenhos e colagens, a Cosac Naify publica O livro da Nina para guardar pequenas coisas, do artista plástico norte-americano Keith Haring (1958-90). O livro foi um presente de Haring para Nina Clemente – filha do pintor italiano Francesco Clemente –, em seu sétimo aniversário. A edição brasileira traz, na quarta capa, um texto exclusivo da própria Nina, hoje com 28 anos:
“Ele tinha uma capacidade inata de transcender a vida adulta e foi meu melhor companheiro de infância, para além da nossa diferença de idade. […] Fiquei muito feliz ao saber que O livro da Nina para guardar pequenas coisas seria publicado no Brasil. Eu morei algum tempo no Rio de Janeiro e sei que Keith ficaria contente também: a energia, as cores intensas, o ritmo e a vibração deste país estão em sintonia com sua arte e seu modo de vida”.
Keith Haring deixou um legado de ícones famosos: pinturas, esculturas, colagens, desenhos no metrô, em camisetas etc. Sempre preocupado com que suas obras alcançassem o grande público, preferia “expor” nas ruas, lojas e clubes – as exposições em museus e galerias vieram bem depois. O artista queria um tipo de arte que fosse realmente pública. Para ele, era inconcebível pensá-la separada da vida real: “Para quê pintar se não se é transformado por seu próprio trabalho?”, costumava dizer. Seus desenhos, que têm na primazia da linha sua maior força, sobrevivem até hoje e são admirados por nomes da nova geração, como Osgemeos.
Escrito e ilustrado por Haring, a proposta de O livro da Nina para guardar pequenas coisas é tornar-se um objeto pessoal da criança, para desenhar, pintar, colar adesivos, folhas, fotos dos amigos, lembranças de um dia no circo e até pensamentos – desde que sejam pequenas coisas. “Se quiser colecionar coisas grandes, arrume uma caixa”, alerta nas instruções.
A edição original, um fac-símile daquela que a Nina ganhou em 1988, foi publicada somente após a morte do autor, em 1994. Para adequar ao leitor brasileiro um livro manuscrito, feito inteiramente de modo artesanal, a Cosac Naify empreendeu um cuidadoso trabalho de desenho e ajuste das imagens e da fonte – desenvolvida a partir da letra do próprio Haring. O papel foi pensado de forma a resistir a cola, canetinha, durex e outros materiais.
Haring visitou o Brasil cinco vezes. A primeira, como artista convidado da Bienal de 1983, quando pintou um painel que não existe mais na avenida Sumaré, em São Paulo. Nas viagens seguintes, costumava se hospedar em Ilhéus (BA), na casa do amigo e também artista Kenny Scharf, onde pintou murais e produziu telas e esculturas inspiradas na cultura brasileira. Sempre rodeado pelas crianças, ele deixou um registro em seu diário sobre sua relação com Nina Clemente:
“Alguns dias antes de voltar de Nova York, visitei Nina e Chiara Clemente, e ficamos desenhando juntos nas paredes de sua casa. Acho que esse foi um dos momentos mais marcantes da minha vida. […] Tenho certeza de que fui um bom companheiro para muitas crianças e talvez tenha marcado suas vidas de forma duradoura, e lhes ensinado um pouco sobre o que é compartilhar e cuidar”. (Outubro de 1987, Keith Haring Journals, p. 239). Nina certamente concorda.
[fonte das imagens]