The imbecil

Fabio Morais

The Imbecil

São Paulo, Edição do artista, 2016

24 p.

30 x 40 cm

primeira edição de 300 exemplares para a mostra Verbo 2016

The Imbecil é um jornal totalmente em branco com apenas o título impresso na capa. Feito para a mostra de performances Verbo 2016, da Galeria Vermelho, o trabalho cruza lógicas editoriais e performáticas. 
Nas quatro noites da mostra, entre 26 e 29 de julho de 2016, Camila Valones e Tiago Luz leram o jornal todo o tempo, ora alheios ao entorno, ora interagindo com as pessoas, sempre com o jornal bastante visível para o público. The Imbecil foi vendido na Banca Tijuana por R$ 4,00, preço da Folha de São Paulo e do Estado de São Paulo, criando um mecanismo de indução cuja própria performance era a publicidade do jornal, reproduzindo assim uma das estruturas do capital. Vender o jornal também foi uma forma de vender a performance pois, ao possuir o jornal, qualquer um pode repetir a ação onde e quando quiser.

http://fabio-morais.blogspot.com/2016/07/the-imbecil-2016.html

100 Titres

Hervé Beurel

100 Titres

Rennes, Édition Frac Bretagne, 2016

100 p.

15 x 10,5 cm

ISBN 978-2-906127-50-0

Durante o verão de 2016, a convite do município de Saint-Briac sur Mer e Frac Bretagne, o artista Hervé Beurel oferece uma obra pensada especificamente para o Festival d’Art. No jardim do Presbitério, 100 títulos de obras – o mais antigo de 1870, o mais recente de 2015 – aparecem em cartéis museológicos, eles próprios presos em escrivaninhas que evocam os usados ​​na horticultura para indicar nomes de plantas. O conjunto forma uma instalação abstrata e muito concreta, cada título referindo-se a um local específico de Saint-Briac. Na verdade, Hervé Beurel se interessou por Saint-Briac como um lugar popular para artistas desde meados do século XX e como tema de muitas obras: pinturas, aquarelas, gravuras. Estes agora estão espalhados, pertencem a museus, coleções particulares ou até desapareceram. No entanto, eles permanecem na memória, também estão acessíveis como uma “coleção” na Internet onde o artista colecionou um grande número de seus títulos. Como um longo poema, esta lista evoca alusiva ou precisamente a topografia, as localidades, as periferias rurais da cidade, as praias e as pontas que se projetam para o mar. A partir destes dois dados, títulos de obras e pontos de vista, Hervé Beurel desenhou um dispositivo que, a partir do jardim do Presbitério, convida os visitantes a seguirem os dos artistas, esquecidos ou famosos, a redescobrir o lugar exato onde eles uma vez colocaram seus cavaletes para pintar o motivo. Para apoiar essa pesquisa, o artista oferece uma cartilha que, como um guia turístico, relaciona cada um dos locais. Assim, todos são incentivados a encontrar os locais escolhidos pelos artistas, a vivenciar a arte, desde a paisagem ao pitoresco.

Rua

Pablo Lobato

Rua

Belo Horizonte, Edição do Autor, 2016

112 p.

15 x 22 cm

1.000 ex.

ISBN / ISSN9788591500819

RUA reúne fotos realizadas entre 2014 e 2016 que o artista capturou de maneira despretensiosa, não fosse a inegável consistência formal que apresentam. Surgindo como um exercício de desapego a rotina às vezes exaustiva do fazer da arte, as imagens que compõe o livro foram feitas com a câmera do celular do artista, fato facilitador aos encontros com o acaso. O livro é resultado de uma deriva no espaço urbano, onde o acaso, a distração e o inesperado são as matérias primas traduzidas pelo olhar do artista em imagens singulares.

https://livrosdefotografia.org/publicacao/4293/rua

Imemorial

Lara Perl

Imemorial

Salvador, Incubadora de publicações, 2020

32 p.

Formato 24 x 19 cm

100ex.

Miolo em impressão jato de tinta sobre papel jornal, encadernação francesa e inserção de páginas soltas (11 x 18 cm )

Imemorial é um livro que compartilha a experiência de um longo período de convivência de uma personagem oculta com a biblioteca de livros do seu pai; a partir deste arquivo e de seus fragmentos, ela propõe pistas para possíveis caminhos, aberturas e desvios, chegando em um lugar de descanso, um oásis entre Amaralina, Japão e o universo geológico do escultor Isamu Noguchi. Ali, páginas soltas colecionadas há tempos ganham uma nova morada: títulos, epígrafes, dedicatórias, dias e anos viajam e flutuam em páginas ásperas, mergulhadas em um jardim de pedras, água e vento. Como uma escultura, cada livro guarda o seu segredo e cada arquivo, a sua miragem. A guardiã-colecionadora deste livro quer devolver ao mundo o seu ritual de encontrar coisas pequenas e gigantes dentro dos livros, oferendo a surpresa, o acaso e a promessa de um livro-amuleto, em busca de novas mãos para proteger o que está dentro e fora. Com tiragem de 100 exemplares, cada exemplar apresenta uma narrativa única, formada por essas páginas soltas originais. O processo de edição vira a despedida deste material uma fragmentação do próprio arquivo no mundo.

https://rvculturaearte.com/Imemorial

Inês: pequena antologia do passado

Laura Castro

Inês: pequena antologia do passado

Salvador, Incubadora de publicações, 2020

86 p.

14 x 09 cm

100 ex.

Miolo impresso em tipografia sobre papel offset 90g/m, com composição de famílias tipográficas variadas. Capa dura com impressão em serigrafia sobre tecido, folha de guarda em papel marmorizado e encadernação manual.

Inês é um livro de poesia de Laura Castro, a partir da memória de seu avô materno. Amilton Ignácio de Castro era seu nome, que herdou de duas mulheres: Ignácio veio de Ignácia, sua avó de criação e o Castro de Inês, sua avó de sangue, mulher negra escravizada cuja história se perdeu na memória de seus descendentes. Dividido em três partes, o livro percorre o caminho entre um Recôncavo-África até o Sul da Bahia em busca desse encontro que nunca houve, entre Inês e Ignácio. No caminho, uma legião de vozes e mulheres. Com o miolo impresso 100% em tecnologia tipográfica, impresso pelas mãos negras de Seu Antônio e composto pelo tipógrafo e poeta Ronny Bom, mestres gráficos do Recôncavo da Bahia, o livro é gravado por uma espécide de memória gráfica dessa região.

https://rvculturaearte.com/Ines-pequena-antologia-do-passado

Comic Book (Untitled)

Stefanie Leinhos

Comic Book (Untitled)

Leipzig, Edição do artista, 2016

[5] p.

60 x 42 cm.

500 ex

Comic Book é um zine dobrado, em preto e branco, que mostra os métodos simples da ilustradora Stefanie Leinhos. Desenhando a partir de imagens de quadrinhos, ela escolhe aspectos ou formas e os repete em suas ilustrações. Nesse trabalho, Stefanie queria “brincar com a perspectiva do espectador… fazendo uma história em quadrinhos sobre a leitura de uma história em quadrinhos.”

Aqui ela usa o espaço negativo em torno de uma história em quadrinhos como uma presença com mãos que seguram, trituram e manipulam sua forma. O reverso mostra uma grade, adornada com uma citação de Gertrude Stein, de espaço negativo em branco apontando e segurando um livro aberto.

Dia a Dia vol. 1

Marco Mariutti

Dia a Dia vol. 1

São Paulo, Dash, 2010

13 x 18 cm

182 p.

ISBN 9788565056021

Tudo começou em 2008 – Maio. Minha filha me ignora, não atende minhas ligações. Ela me cobra, não sou um bom pai. Escrevo um cartão postal e envio pelo correio. De um lado desenho o seu nome: Sofia. Do outro, conto o que foi a arte postal nos anos 1980. A partir daí, um cartão por semana. Sempre com o nome desenhado de um lado e textos e desenhos do outro. Fim de 2009, ganho de presente um caderno “moleskine” e a ideia de ampliar o projeto dos cartões começa a se fazer na minha cabeça. Sofia está morando em Berlim. Não falo muito com ela, então resolvo desenhar-escrever uma página por dia para registrar o meu cotidiano por um ano.

Novos Contos

Rogério Sganzerla

Novos Contos

Londrina/Florianópolis, Grafatório/Miríade, 2018

11,5 × 16 cm

16p.

500 ex.

Aos 7 anos de idade, Rogério Sganzerla foi sozinho a uma tipografia de sua cidade natal, em Joaçaba, Santa Catarina. Ele queria imprimir um livro. Entregou ao tipógrafo quatro pequenos contos que escrevia escondido de seus pais e saiu de lá com sua primeira publicação: Novos Contos, de 1954.

Quinze anos depois, com 22 anos, esse criador precoce seria aclamado como um dos mais inventivos e radicais diretores do cinema brasileiro, ao estrear com seu longa-metragem O Bandido da Luz Vermelha (1968), um sucesso de crítica e de público. Nas entrevistas que deu nessa época e em muitas outras até o fim de sua vida, em 2004, Sganzerla lembrou de Novos Contos. Para ele e para muito de seus críticos e amigos, o pequeno livro era um índice de sua criatividade anárquica, imparável desde a infância.

Agora, a Grafatório Edições em parceria com a Miríade Edições lança uma nova versão, tipográfica e fac-similar, do curioso Novos Contos. O livro vem recontextualizado gráfica e editorialmente, incluindo um texto-depoimento de Zenaide Sganzerla, a mãe de Rogério, hoje com 99 anos.

A nova edição é um livreco-objeto que intensifica a potência desse episódio biográfico singular, convidando a ler no devir-criança de Rogério a inquietude que marcaria toda sua produção posterior. São quatro pequenos contos que afetam crianças e adultos: o primeiro deles é uma fábula, com uma estrutura clássica. Mas o último já lança o primeiro anti-herói de Sganzerla: o patinho Bebé, que abandona seu irmão inválido para assaltar o castelo de uma princesa, descendo porrada em um gigante.

Quem tiver de sapato não sobra. Não pode sobrar!

Novos Contos – Rogério Sganzerla

el poeta anonimo

Juan Luis Martínez

El poeta anonimo

São Paulo, Cosacnaify, 2012

19 x 29,5 cm

[344] p.

1000 ex

“Já vi as caixas cinza ou preta do livro preto ou cinza de Juan Luis Martínez, oferecidas nas prateleiras de uma das mais belas livrarias de São Paulo. O Poeta Anônimo está ali, silencioso como um túmulo, sem que muitos saibam do que se trata, qual é o rumor de seu silêncio ou o que significa seu anonimato. Charles Cosac, que assumiu com coragem poética a improvável publicação desta obra, também decidiu, com razão, que o livro não deveria conter nenhum logotipo, nenhum texto de apresentação, nenhuma informação sobre o assunto ou sobre o autor. É um livro hermético, um poema criptografado, uma cabala.” – Luis Pérez-Oramas: El eterno retorno de Juan Luiz Martínez.

Saudades de um punhal

Leila Danziger

Saudades de um punhal – Carol D’Ultra Vaz

Rio de Janeiro, Armários Azuis, 2019

128 p.

13 x 19 cm

200 ex.

ISBN 978-65-901182-0-2


Em novembro de 2008, dei início a um blog – esparso, lento, ocasional. Via-o como extensão pública do ateliê. Pensava-o sem leitores, a não ser por uma amiga francesa, tão querida quanto distante, que vivia então na Nova Caledônia.

Em abril de 2009, ao acessar o blog, encontrei um comentário sobre um texto que eu havia publicado sobre meu pai. Dias depois, a mesma pessoa retornou. Deixou outros dois comentários. Conversamos sobre poesia (Paul Celan, Yehuda Amichai), barcos em mares que não existem, xales de oração, vestidos que se animam com o vento, djellabas. Brinquei que assim talvez passasse a levar meu suposto blog a sério. Dia sim, dia não, passei a visitá-la também e ver o que escrevia em Saudades de um punhal, seu blog mantido com regularidade, cujo título fazia alusão a um conto de Robert Walser (“Sehnsucht nach einem Dolch”, 1917).

Certo dia, ao visitar seu blog, não encontrei nenhuma nova postagem, mas um comentário trazia a notícia de sua morte, ocorrida em São Paulo, em uma madrugada fria de sábado, 30 de maio de 2009. Não sei mais o que se passava no mundo naquele dia, mas em minha agenda, encontrei a anotação: “abrir avenidas pela casa”.

Penso ainda nesse encontro, cuja duração foi a de um fósforo que se acende e se apaga. Nos esbarramos em uma calçada, enquanto seguíamos em direções opostas na multidão. Ela deixou deixa cair um objeto. Eu o recolho, quero devolvê-lo, ainda corro em sua direção, tento localizar seu vulto de costas (é assim que ela se mostra em seu perfil on line). Procuro decifrar a fricção desse encontro feito apenas de escrita, reter o objeto deixado para trás. Guardo a lembrança de sua última postagem, que descrevia um percurso de alguém arduamente treinado em inconstâncias, uma fuga-em-abismo por entre estações de metrô e linhas de ônibus, cujo ponto de chegada era o link para um outro blog.

Entre outras características, ela se identificava como “chronically melancholic, great cook, obsessed with psychoanalysis and detective novels, lazy in the mornings and sarcastic at nights”. Tinha trinta e dois anos.

Neste livro, retomo a promessa feita em uma publicação de 2014: a de recolher e editar vestígios da escrita de Carol D’Utra Vaz na internet. Com o desaparecimento de seu blog, recolhi algumas de suas postagens no Facebook e, em menor número no Twitter, onde não estivemos em contato, pois em 2009, eu não estava em nenhuma rede social..

Percebo que há uma gradação em sua escrita praticada nos diferentes meios em que esteve atuante: no blog, as postagens oscilavam entre o comentário, o ensaio breve e o poema em prosa, se me lembro bem. No Facebook, ela faz pouco uso de imagens e aproveita a forma como seu nome aparece na plataforma, integrando-o muitas vezes como sujeito de suas frases – brevíssimas e confessionais – em que a angústia extrema e o humor são inseparáveis (feliz & sangrando, escreve em 26 de abril). No Twitter, sua voz vai vai-se tornando espessa, escura, náufraga.

Volver, volver, volver, repete em 27 de março, antes de se entregar aos oráculos do Facebook. Que bruja eres? Which Shakespearean character would you be? Which philosopher are you? Em abril, pensa em comprar um cadeado de diamantes, cantarola Sinatra, devaneia, procrastina, se apaixona pelo Pior Homem do Mundo, e, quando a insônia permite, sonha, sonha muito (com ouriços do mar, com palavras cruzadas ou em alemão).

Se quase todos os links compartilhados em suas postagens se tornaram indisponíveis, a intertextualidade ativada pelos fragmentos que compartilhou segue viva. Cita com paixão: Herbert Helder, Sylvia Plath, Pessoa e, claro, Paul Celan, que é o nome de seu gato “miador”. “Só Celan salva”, escreve.

Em 17 de maio, compartilha um anúncio de alguém em busca de companhia para viajar no tempo (sem garantias, adverte o anunciante.) Minha aposta é que ela não escolheria o passado. O vetor temporal do que lança na rede é mesmo o futuro. Em 24 de fevereiro, anuncia uma casa nova, em 24 de maio canta “tengo um  un nuevo amor”. Havia uma pesquisa de mestrado no horizonte. Havia horizonte.

E resta uma voz, uma escrita tênue, embrionária, decididamente polifônica, ávida por interlocução, cujos vestígios reúno aqui. Sigo a cronologia de suas publicações, todas realizadas entre fevereiro e maio de 2009. Admiro sua concisão em tempos tão prolixos, sua auto-ironia e, sobretudo, sua necessidade de poesia, cinema e música, elementos que lhe eram vitais como o ar.

Em diálogo oblíquo com sua escrita na rede, ofereço meus cadernos, alguns guardados desde o final da década de 1980. São objetos da intimidade, ensimesmados talvez. Ao contrário das postagens nas redes sociais, não foram feitos para ser compartilhados, senão como a imagem do que se esconde, do que se perde, do que é em vão.

https://www.armariosazuis.com/saudades-de-um-punhal