Novos Contos

Rogério Sganzerla

Novos Contos

Londrina/Florianópolis, Grafatório/Miríade, 2018

11,5 × 16 cm

16p.

500 ex.

Aos 7 anos de idade, Rogério Sganzerla foi sozinho a uma tipografia de sua cidade natal, em Joaçaba, Santa Catarina. Ele queria imprimir um livro. Entregou ao tipógrafo quatro pequenos contos que escrevia escondido de seus pais e saiu de lá com sua primeira publicação: Novos Contos, de 1954.

Quinze anos depois, com 22 anos, esse criador precoce seria aclamado como um dos mais inventivos e radicais diretores do cinema brasileiro, ao estrear com seu longa-metragem O Bandido da Luz Vermelha (1968), um sucesso de crítica e de público. Nas entrevistas que deu nessa época e em muitas outras até o fim de sua vida, em 2004, Sganzerla lembrou de Novos Contos. Para ele e para muito de seus críticos e amigos, o pequeno livro era um índice de sua criatividade anárquica, imparável desde a infância.

Agora, a Grafatório Edições em parceria com a Miríade Edições lança uma nova versão, tipográfica e fac-similar, do curioso Novos Contos. O livro vem recontextualizado gráfica e editorialmente, incluindo um texto-depoimento de Zenaide Sganzerla, a mãe de Rogério, hoje com 99 anos.

A nova edição é um livreco-objeto que intensifica a potência desse episódio biográfico singular, convidando a ler no devir-criança de Rogério a inquietude que marcaria toda sua produção posterior. São quatro pequenos contos que afetam crianças e adultos: o primeiro deles é uma fábula, com uma estrutura clássica. Mas o último já lança o primeiro anti-herói de Sganzerla: o patinho Bebé, que abandona seu irmão inválido para assaltar o castelo de uma princesa, descendo porrada em um gigante.

Quem tiver de sapato não sobra. Não pode sobrar!

Novos Contos – Rogério Sganzerla

el poeta anonimo

Juan Luis Martínez

El poeta anonimo

São Paulo, Cosacnaify, 2012

19 x 29,5 cm

[344] p.

1000 ex

“Já vi as caixas cinza ou preta do livro preto ou cinza de Juan Luis Martínez, oferecidas nas prateleiras de uma das mais belas livrarias de São Paulo. O Poeta Anônimo está ali, silencioso como um túmulo, sem que muitos saibam do que se trata, qual é o rumor de seu silêncio ou o que significa seu anonimato. Charles Cosac, que assumiu com coragem poética a improvável publicação desta obra, também decidiu, com razão, que o livro não deveria conter nenhum logotipo, nenhum texto de apresentação, nenhuma informação sobre o assunto ou sobre o autor. É um livro hermético, um poema criptografado, uma cabala.” – Luis Pérez-Oramas: El eterno retorno de Juan Luiz Martínez.

Saudades de um punhal

Leila Danziger

Saudades de um punhal – Carol D’Ultra Vaz

Rio de Janeiro, Armários Azuis, 2019

128 p.

13 x 19 cm

200 ex.

ISBN 978-65-901182-0-2


Em novembro de 2008, dei início a um blog – esparso, lento, ocasional. Via-o como extensão pública do ateliê. Pensava-o sem leitores, a não ser por uma amiga francesa, tão querida quanto distante, que vivia então na Nova Caledônia.

Em abril de 2009, ao acessar o blog, encontrei um comentário sobre um texto que eu havia publicado sobre meu pai. Dias depois, a mesma pessoa retornou. Deixou outros dois comentários. Conversamos sobre poesia (Paul Celan, Yehuda Amichai), barcos em mares que não existem, xales de oração, vestidos que se animam com o vento, djellabas. Brinquei que assim talvez passasse a levar meu suposto blog a sério. Dia sim, dia não, passei a visitá-la também e ver o que escrevia em Saudades de um punhal, seu blog mantido com regularidade, cujo título fazia alusão a um conto de Robert Walser (“Sehnsucht nach einem Dolch”, 1917).

Certo dia, ao visitar seu blog, não encontrei nenhuma nova postagem, mas um comentário trazia a notícia de sua morte, ocorrida em São Paulo, em uma madrugada fria de sábado, 30 de maio de 2009. Não sei mais o que se passava no mundo naquele dia, mas em minha agenda, encontrei a anotação: “abrir avenidas pela casa”.

Penso ainda nesse encontro, cuja duração foi a de um fósforo que se acende e se apaga. Nos esbarramos em uma calçada, enquanto seguíamos em direções opostas na multidão. Ela deixou deixa cair um objeto. Eu o recolho, quero devolvê-lo, ainda corro em sua direção, tento localizar seu vulto de costas (é assim que ela se mostra em seu perfil on line). Procuro decifrar a fricção desse encontro feito apenas de escrita, reter o objeto deixado para trás. Guardo a lembrança de sua última postagem, que descrevia um percurso de alguém arduamente treinado em inconstâncias, uma fuga-em-abismo por entre estações de metrô e linhas de ônibus, cujo ponto de chegada era o link para um outro blog.

Entre outras características, ela se identificava como “chronically melancholic, great cook, obsessed with psychoanalysis and detective novels, lazy in the mornings and sarcastic at nights”. Tinha trinta e dois anos.

Neste livro, retomo a promessa feita em uma publicação de 2014: a de recolher e editar vestígios da escrita de Carol D’Utra Vaz na internet. Com o desaparecimento de seu blog, recolhi algumas de suas postagens no Facebook e, em menor número no Twitter, onde não estivemos em contato, pois em 2009, eu não estava em nenhuma rede social..

Percebo que há uma gradação em sua escrita praticada nos diferentes meios em que esteve atuante: no blog, as postagens oscilavam entre o comentário, o ensaio breve e o poema em prosa, se me lembro bem. No Facebook, ela faz pouco uso de imagens e aproveita a forma como seu nome aparece na plataforma, integrando-o muitas vezes como sujeito de suas frases – brevíssimas e confessionais – em que a angústia extrema e o humor são inseparáveis (feliz & sangrando, escreve em 26 de abril). No Twitter, sua voz vai vai-se tornando espessa, escura, náufraga.

Volver, volver, volver, repete em 27 de março, antes de se entregar aos oráculos do Facebook. Que bruja eres? Which Shakespearean character would you be? Which philosopher are you? Em abril, pensa em comprar um cadeado de diamantes, cantarola Sinatra, devaneia, procrastina, se apaixona pelo Pior Homem do Mundo, e, quando a insônia permite, sonha, sonha muito (com ouriços do mar, com palavras cruzadas ou em alemão).

Se quase todos os links compartilhados em suas postagens se tornaram indisponíveis, a intertextualidade ativada pelos fragmentos que compartilhou segue viva. Cita com paixão: Herbert Helder, Sylvia Plath, Pessoa e, claro, Paul Celan, que é o nome de seu gato “miador”. “Só Celan salva”, escreve.

Em 17 de maio, compartilha um anúncio de alguém em busca de companhia para viajar no tempo (sem garantias, adverte o anunciante.) Minha aposta é que ela não escolheria o passado. O vetor temporal do que lança na rede é mesmo o futuro. Em 24 de fevereiro, anuncia uma casa nova, em 24 de maio canta “tengo um  un nuevo amor”. Havia uma pesquisa de mestrado no horizonte. Havia horizonte.

E resta uma voz, uma escrita tênue, embrionária, decididamente polifônica, ávida por interlocução, cujos vestígios reúno aqui. Sigo a cronologia de suas publicações, todas realizadas entre fevereiro e maio de 2009. Admiro sua concisão em tempos tão prolixos, sua auto-ironia e, sobretudo, sua necessidade de poesia, cinema e música, elementos que lhe eram vitais como o ar.

Em diálogo oblíquo com sua escrita na rede, ofereço meus cadernos, alguns guardados desde o final da década de 1980. São objetos da intimidade, ensimesmados talvez. Ao contrário das postagens nas redes sociais, não foram feitos para ser compartilhados, senão como a imagem do que se esconde, do que se perde, do que é em vão.

https://www.armariosazuis.com/saudades-de-um-punhal

Ma Vie

Christophe Viart

Ma vie

Rennes, Escola Europeia de Arte da Bretanha, 2017

11 x 16 cm

80p.

ISBN 978-2-906127-55-5

Neste pequeno livro de artista, Christophe Viart reproduz todas as páginas de rosto (ímpares e pares) das obras presentes em sua obra em evolução Ma vie, que pertence à coleção Frac Bretagne. Em uma biblioteca, reúne todas as obras autobiográficas que têm o título “Minha Vida”. Então avizinha Jane Fonda, Alma Mahler, Golda Meir, Bill Clinton, “uma grande diversidade de destinos por trás de um único título”. Em forma de conclusão, algumas páginas em branco convidam o leitor a continuar a história, a coleção.

Poesía Visual: proyecto para hacer un libro

Guillermo Deisler

Poesía Visual: proyecto para hacer un libro

Santiago, Naranja, 2021

21,8 x 18,5cm

150 copias numeradas

20p.

Poesía Visual: Proyecto para hacer un libro (Poesia Visual: Projeto de elaboração de um livro) é uma reedição da obra publicada em maio de 1973 pelo artista chileno Guillermo Deisler com Ediciones Mimbre. Esta foi provavelmente sua última publicação na editora antes do golpe de Estado e seu exílio na Europa.

Esta peça explora materialmente as reflexões de Deisler sobre o livro como um suporte de arte; leitura de texto, imagem e material; a inversão ou alteração dos fluxos de comunicação entre remetente (autor) e potenciais destinatários (leitores); por meio de páginas com procedimentos diferentes (por exemplo, morrer, dobrar, nós, etc), e contendo um comando do autor (por exemplo, jogar, raspar, rasgar, etc) sobre o qual agir, fazendo com que o livro seja irreversivelmente alterado até sua destruição potencial. Esta reedição também recupera o ensaio de conclusão de Deisler, originalmente encontrado na última página do livro; e adiciona uma carta dos editores da Naranja Publicaciones que fornece contexto para entender a peça.

Esta é uma edição numerada de 150 exemplares.

Poesía visual: proyecto para hacer un libro | Guillermo Deisler

Como Furtar Livros

Como Furtar Livros

David Horvitz

São Paulo, No Libros, 2019

84 p

10.5 × 15.5 cm

500ex.

O livro de David Horvitz é um guia sobre como roubar livros. Ele detalha 80 maneiras pelas quais alguém pode roubar um livro, desde as formas muito práticas até as espirituosas, imaginativas e românticas.

Há uma versão do trabalho em áudio disponível no site do artista: http://www.davidhorvitz.com

Abrégé de bandedessinée franco-belge

Ilan Manouach

Abrégé de bandedessinée franco-belge

Rennes, Lendroit, 2018

50 p.

24,5 x 35 cm

500 ex

Compêndio de quadrinhos franco-belgas é o último livro de Ilan Manouach e toma como ponto de partida o formato de quadrinhos de 48 cc (48 páginas, impressão em cores, capa dura). O nome desdenhosamente batizado pela editora alternativa L’Association, aponta para o produto de uma indústria de livros normativa e just-in-time que domina o cenário editorial de língua francesa. Durante uma única tarde, Manouach comprou uma seleção de quarenta e oito livros de 48 cc em segunda mão e, após uma leitura cuidadosa, construiu um índice idiossincrático não exaustivo dos elementos considerados como definidores gerais da tradição dos quadrinhos franco-belgas. Entre uma variedade de protomemes de quadrinhos, dispositivos metanarrativos, elementos paratextuais e outras nuvens escuras pairando, asas de tubarão, estereótipos de identidade e buracos em forma de corpo, o Compêndio se apresenta como uma história em quadrinhos orquestrada, onde instanciações de sua tipologia, livre dos imperativos de narrativas específicas podem ser lidos como os blocos de construção in situ dos quadrinhos europeus.

https://www.lendroit.org/catalogue/fiches/1523-

Sabor a mi

Cecilia Vicuña

Sabor a mi

Oakland, Chainlinks, 2011

13,2 x 20,3 cm

166p

A primeira publicação de “Sabor a mi” data de 1973, dois meses após o golpe militar que se deu no Chile. O livro continha plantas, pedaços de roupa, insetos e cartas, havendo diferenças entre cada exemplar; foi impresso em mimeógrafo e offset, com edição bilíngue de 250 ex.

“Esse livro é pura ironia; o resultado da convergência de acontecimentos do acaso: coleta quase dez anos do trabalho de Cecília e foi planejado como uma celebração. Agora, simboliza a fúria e tristeza contidas em seu país.” – Da introdução de Felipe Ehrenberg.

http://www.ceciliavicuna.com/poetry/5crtkg55vlchhtcmi97z9ezo66zqog

Como se escreve um bicho

João Oliveira e Kaula Cordier

Como se escreve um bicho.

Salvador, Incubadora de publicações gráficas, 2020.

18 x 13 cm

58p.

100ex.

miolo impresso em risografia sobre papel Conqueror natural white 120g, e papel Color plus 120g, acabamento em plástico e parafuso.

Como se escreve um bicho parte de uma questão, uma expiação interrogativa, e constrói a sua narrativa justamente ante a impossibilidade de respondê-la. Criado a partir de animais de plástico prensados sobre papel, esse livro-objeto brincante permite múltiplas montagens, reconfigurações e histórias. Através da junção de imagens ligeiramente zoomórficas, pequenos textos, e capas-peles moles e coloridas, lança a pergunta do que é ou pode ser um bicho, imenso imaginário em aberto. Uma interrogação move outra e, movendo mais uma, entre páginas, um bicho único se desenha.

https://incubadoragrafica.com/Como-se-escreve-um-bicho